Manuel Alegre terá achado graça áquela parte da entrevista de Belmiro de Azevedo à Visão em que este diz que o candidato a PR "devia ter juízo", e respondeu-lhe "Temos mais ou menos a mesma idade e eu digo-lhe a ele [Belmiro] para não ter juízo. Para continuar a intervir e a investir. Se nós tivermos juízo, o país pára". Por estas e por outras, tenho um enorme apreço por Alegre. Não por uma ou por outra razão em particular, mas por todas as razões que me lembro. Como não sou política, vou usar o que já se disse sobre ele para mostrar o que penso dele, também.
António Arnaut louva-o. Jaime Nogueira Pinto diz que, sendo MA “um homem de esquerda nas convicções políticas”, “nunca enjeitou a preocupação e a tradição patriótica e sempre achou que o país era mais que economia”. António Costa, ainda à espera da posição oficial do PS, diz que acha positivo que se tenha disponibilizado. Domingos Lopes diz que “Tem o que ninguém tem, com capacidade de ganhar” “O Manuel tem o que poucos políticos têm: um percurso feito de personalidade e de querer aquilo em que crê. Não se acomodou, em momento algum”, escreve (Público, “O que é que o Manuel tem?”), “goste-se ou não, o Manuel tem o perfil para neste momento histórico poder bater o candidato de direita” e essa é uma possibilidade que não se pode perder. João Cravinho e Ana Gomes acham-no “Um candidato muito forte”. A Sebastiá Bennasar agrada-lhe pensar que Portugal pode ter um presidente poeta. Com ele estão Carlos César, António José Seguro, Duarte Cordeiro, Luís Filipe Madeira, Cipriano Justo, Manuel Correia Fernandes, Carlos Brito, Carlos Luís Figueira, Jorge Coelho, Coelho dos Santos, Carlos Diogo Moreira. Mesmo quem está de má-vontade há-de reconhecer que são aliados de peso e transversais. Daí que José Manuel Mendes tenha dito que (Diário Económico) "Nenhum candidato é tão transversal como Manuel Alegre". Que Vera Jardim qualifique a sua disponibilidade como "Um acto de coragem cívica" e que Sílvia de Oliveira (em editorial do mesmo jornal), tenha considerado que “Alegre é provavelmente o pior adversário que Cavaco poderia ter”.
São comentários políticos de políticos ou, pelo menos, de cidadãos politizados.
Ora, hão-de convir que é legítima a admiração pelos comentários do bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto. Primeiro, porque estávamos longe (estávamos?!) de perceber que se interessava assim tanto por política. Segundo, porque não sabíamos que importavam assim tanto as suas opiniões políticas. Ao político sobre o qual a grande maioria (ou a unanimidade) usa a palavra "transversal" MP chama de "politicamente prisioneiro" do Bloco de Esquerda. Mais um candidato do BE que do PS - considera (in tertúlia 125 minutos com... Fátima Campos Ferreira, no Casino da Figueira da Foz). Marinho Pinto questionou - entre a eleição de Manuel Alegre e uma eventual reeleição do actual PR, Cavaco Silva - "qual seria pior" para o Governo. "Sei que ele (Manuel Alegre) hoje está muito prisioneiro, politicamente prisioneiro do Bloco de Esquerda. (...) Não sei qual seria pior para o actual Governo, se a reeleição de Cavaco Silva se a eleição de Manuel Alegre", afirmou. "Porque Manuel Alegre é um homem de intervenção, sempre foi", argumentou. Para MP, "até ao momento Manuel Alegre tem sido mais o candidato do Bloco de Esquerda que do Partido Socialista, o que não deixa de ser estranho". "O PS não está unido em torno da candidatura de Manuel Alegre. E nunca vai estar, as clivagens são profundas", avisou. Marinho Pinto admite que, com a anunciada candidatura presidencial de MA, o "terreno" político onde se jogarão as próximas eleições presidenciais "já está marcado" e apela à interpretação "com muita prudência" das declarações de Mário Soares. Que apenas disse ser "inconveniente entrar nessa discussão". "Neste ponto, estou de acordo com o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, de que é muito cedo falar disso, é inconveniente entrar nessa discussão, porque isso distrai-nos do essencial", afirmou. "Aquilo que o Dr. Mário Soares diz deve ser interpretado com muita prudência. O Dr. Mário Soares é um grande político, uma grande figura da República, mas não se notabilizou por ser um grande amante da verdade ao longo da vida dele", sustentou Marinho Pinto. Incrédulos. Foi assim que ficámos. Sendo ele um homem de interpretação (de leis) é estranho - e equívoco - que tenha interpretado assim as palavras de MS. "Não vou revelar aqui, porque hoje sou bastonário da Ordem dos Advogados e há cinco anos não era. Se o apoiar fá-lo-ei em silêncio porque, como bastonário, não devo ter intervenções políticas puras", alegou. Não tem o quê? Quer intervenção política mais pura?!
Está o bastonário da OA muito confuso. Manuel Alegre é um homem da liberdade. Um poeta. Os homens livres, e muito menos quando também são poetas, nunca se fazem prisioneiros (a não ser dos seus próprios valores e ideais) e, asseguro-lhe, ninguém os aprisiona. São visceralmente contra amarras e âncoras. São mais por asas. Mas, mais uma vez, como não sou política, cito os outros para me explicar. Quer um retrato, senhor bastonário? Aqui vai. De Eugénio Lisboa: (sobre a capacidade de Manuel Alegre): "Desarrumar as coisas sossegadas". E de Nuno Morais Sarmento: “Candidatura de Alegre incorpora uma alma e um sonho que Cavaco Silva não leva”.
Ao que sei estes senhores não são do Bloco de Esquerda. Parece-lhe que isto se diz de um homem prisioneiro? Alegre é mais um homem de i's. Irreverente. Indominável. Insubordinado. Idealista. E deixe que lhe diga, um bom e fortíssimo candidato a PresIdente (também com um grande I).