Estive a ler o último discurso do Miguel Veiga ~ Encontros para um encontro. Basta lê-lo e percebo porque foi e como foi que desapareceu o PPD. Porque está o PSD como está. O MV apela ao espaço e ao momento. O espaço e o momento que também devia ser o do PSD. Como se exorta na “Mensagem” pessoana, “é a hora!”.
Urge que o PSD se liberte "de uma dupla ilusão que dominou a "intelligentzia" desde há décadas: a nostalgia de um passado findo assim como a esperança de um futuro radioso. Já "não cantam os amanhãs", mas "felizmente ainda há luar". "E se ontem o PSD tinha o direito de ser fatalista por optimismo, hoje deve ser audacioso por pessimismo". O "panorama é desolador, oscilando entre a “comédia bufa” e o tráfico oculto", mas "não é o fim da história nem sequer das ideologias, que pertencem, no dobrar de todos os tempos, à natureza do homem e do "animal político" que ele é. Assim, tal como na natureza, quando se afugentam e afastam os ideais, eles regressam a galope!" O país está possuído por "uma insólita infertilidade (...). A pequena estatura moral, o desejo de vencer sem saber nem trabalhar, a trafulhice organizada, o compadrio descarado, a empenhoca institucional, o reino da porcalhota e tudo o mais que, por incontável, nos atinge e indigna, nesta inquietante loucura mansa da sociedade portuguesa." "Sem discursos nem trombetas, os inimigos da República tomaram o poder na sociedade. Na primeira linha, o dinheiro e a imagem. A sua aliança sucedeu ao trono e ao altar. Agravando a opulência pela notoriedade, multiplicando a desigualdade dos rendimentos pela da consideração pública, ela ataca os fundamentos do orgulho da República: o desinteresse e o anonimato, que subordinam os interesses e as vaidades ao interesse geral. A República não é um regime político entre outros. É um ideal e um combate. Ela exige não apenas leis mas uma crença, exige não só serviços sociais mas instituições distintas, sendo a primeira a escola, exige não só utentes ou consumidores, mas cidadãos unidos quanto não apenas a objectivos mas a fins superiores, como a liberdade e a igualdade. Ela faz sempre acompanhar os direitos dos deveres. Como a honra para a monarquia e o temor para o despotismo, a virtude anunciava Montesquieu já em 1748, é “”Ressort” o motor, o meio, a força que faz mover o governo republicano." Palavra do “amor da pátria e da igualdade”.
Há dias, MV respondeu a uma questão “O que eu faria se fosse Presidente do PSD?”: “Convocaria, conjugaria e fundiria as convicções e os saberes da experiência política e empresarial, da diplomacia cosmopolita de Francisco Balsemão, a inteligência espessa, lúcida e crítica de Pacheco Pereira, a criatividade, a mobilidade e o “livro do desassossego” de Marcelo Rebelo de Sousa, o pensamento cultural de Vasco Graça Moura, o obstinado rigor de Rui Rio, a fiabilidade firme e coerente de Manuela Ferreira Leite, a perseverança e a temperança de Aguiar-Branco, a pragmática elaborada e estruturada e a combatividade dialéctica de Paulo Rangel, o carisma de Leonor Beleza, a competência disciplinada de Silva Peneda, a racionalidade de João Salgueiro, a intuição e o “fair play” de Álvaro Barreto, o talento de planear e de bem fazer de Valente de Oliveira, o activismo de Marques Mendes, o empreendorismo elaborado, dinâmico e produtivo de Henrique Granadeiro, e, o talento organizativo e federador de Alexandre Relvas, e bem sim, a abertura a uma miríade de jovens capazes do “aggiornamento” daqueles atributos e geradores de novas e insuspeitadas sínteses, atitudes e mobilizações políticas. Procuraria restaurar, numa nova “renascença”, uma social-democracia reformista, actual, progressista, vincadamente anti-populista e anti-demagógica, marcando a distância aos “negociantes” da e na política e embandeirando a divisa de Sá Carneiro de que “a politica sem ética é uma vergonha”. Impõe-se "A redignificação do político nestas corcundas da história, nesta neura dos diabos, que infelizmente são as nossas, que continua a exigir e a impor o combate à mediocridade, ao cinzentismo, ao laxismo, à falta de exigência e de rigor, ao despesismo, à irresponsabilidade, à falta de profissionalismo e competência, à neutralidade parda e obstrutiva dos burocratas e da república dos funcionários, à auto-suficiência dos tecnocratas (já que quanto mais técnica se torna a política, mais a competência democrática regride), à promiscuidade dos interesses e do tráfico de influências e das negociatas."
E continua.
"O PSD precisa de se impor também como um partido político de coragem. E a coragem em política é, antes de mais, ter a coragem das suas opiniões. A única virtude que não pode ser contrafeita, que não permite a hipocrisia já que não se pode fingir ser-se corajoso (Napoleão)."
"Alguma e certa imprensa fala, em parte, do que não sabe, e, na outra, cala o que sabe." porque somos "uma democracia reactiva, instintiva, que fala mais do que pensa e se agita mais do que age." "Necessitamos de uma “nova ordem” que tome em conta as diferenças e que permita passar, segundo as palavras de Lévinas, de uma moral de obediência a uma ética da responsabilidade. O que significa aceitar a diferença do outro e, até, felicitarmo-nos por ela, e também aceitar viver num mundo sem amarras, instável, imprevisível, em movimento permanente, sem procurar recriar uma ordem artificial e exterior à qual faríamos referência. Sabemos hoje que o futuro não é dado em nenhuma utopia, modelo pré-construído ou visão finalista, totalizante e fechada no tempo. Sabemos hoje que a própria história é um processo radicalmente aberto e “in-determinado” em permanente movimento de auto-superação. Sabemos que, para se ser credível, é preciso dar o exemplo, provar a sua competência, a sua capacidade de mudar o curso das coisas, sabemos que a forma aceitável e legítima de autoridade é a de quem sabe (con)tratar, fundamentar, motivar, explicar, discutir para poder decidir. Simbolicamente a sociedade tornou-se adolescente. A única resposta é, antes de mais, de ordem cultural. O papel que se impõe, neste começo de século, é o da reconstrução da República a partir da base, refazendo os novos cidadãos dos novos tempos. É pela interiorização de um discurso, de um modo de racionalização político e jurídico e de práticas de civilidade enraizadas numa antiga e forte cultura que os indivíduos aprendem a inscrever-se na sua sociedade, a comunicar nela e até a resistir-lhe. O que depende da educação e reforma das mentalidades mas também da capacidade do legislador e dos diferentes decisores em repudiar os mitos caducos. O que depende, enfim, da firmeza com a qual serão postos em obra os princípios da tradição republicana – a lei, a igualdade de direito, o respeito das formas jurídicas, o conflito, o laicismo, a responsabilidade, a sanção, a civilidade, a sacralização da vida privada, a separação das ordens – capazes de despertar em nós, com a alegria de viver, o nosso gosto e desejo imemoriais de liberdade. Pagamos hoje um preço caríssimo, que é o da desafectação da opinião face ao exercício da política. Fez-se o inverso do que se deveria ter feito: favoreceu-se o consenso e o compromisso para evitar as alternâncias. Só que a consciência responsável só se desperta no conflito. E “é bom – como alerta Alain nos seus “Propos sur le bonheur” – ter um pouco de mal em viver e em não seguir um caminho inteiramente uno”.
"Alguma e certa imprensa fala, em parte, do que não sabe, e, na outra, cala o que sabe." porque somos "uma democracia reactiva, instintiva, que fala mais do que pensa e se agita mais do que age." "Necessitamos de uma “nova ordem” que tome em conta as diferenças e que permita passar, segundo as palavras de Lévinas, de uma moral de obediência a uma ética da responsabilidade. O que significa aceitar a diferença do outro e, até, felicitarmo-nos por ela, e também aceitar viver num mundo sem amarras, instável, imprevisível, em movimento permanente, sem procurar recriar uma ordem artificial e exterior à qual faríamos referência. Sabemos hoje que o futuro não é dado em nenhuma utopia, modelo pré-construído ou visão finalista, totalizante e fechada no tempo. Sabemos hoje que a própria história é um processo radicalmente aberto e “in-determinado” em permanente movimento de auto-superação. Sabemos que, para se ser credível, é preciso dar o exemplo, provar a sua competência, a sua capacidade de mudar o curso das coisas, sabemos que a forma aceitável e legítima de autoridade é a de quem sabe (con)tratar, fundamentar, motivar, explicar, discutir para poder decidir. Simbolicamente a sociedade tornou-se adolescente. A única resposta é, antes de mais, de ordem cultural. O papel que se impõe, neste começo de século, é o da reconstrução da República a partir da base, refazendo os novos cidadãos dos novos tempos. É pela interiorização de um discurso, de um modo de racionalização político e jurídico e de práticas de civilidade enraizadas numa antiga e forte cultura que os indivíduos aprendem a inscrever-se na sua sociedade, a comunicar nela e até a resistir-lhe. O que depende da educação e reforma das mentalidades mas também da capacidade do legislador e dos diferentes decisores em repudiar os mitos caducos. O que depende, enfim, da firmeza com a qual serão postos em obra os princípios da tradição republicana – a lei, a igualdade de direito, o respeito das formas jurídicas, o conflito, o laicismo, a responsabilidade, a sanção, a civilidade, a sacralização da vida privada, a separação das ordens – capazes de despertar em nós, com a alegria de viver, o nosso gosto e desejo imemoriais de liberdade. Pagamos hoje um preço caríssimo, que é o da desafectação da opinião face ao exercício da política. Fez-se o inverso do que se deveria ter feito: favoreceu-se o consenso e o compromisso para evitar as alternâncias. Só que a consciência responsável só se desperta no conflito. E “é bom – como alerta Alain nos seus “Propos sur le bonheur” – ter um pouco de mal em viver e em não seguir um caminho inteiramente uno”.
"O caminho, faz-se caminhando. Caminhando pelo diálogo, pelo debate e pela dialéctica dos confrontos, a única que leva aos encontros, num clima aberto e plural de uma tolerância sem suspeição, e de uma solidariedade sem discriminação, como deve sê-lo o da convivência cívica e partidária. Tal como a sociedade, que avança por conflitos e não por unanimismos, um partido progride pelo pluralismo dos saberes e dos modos de entender, pelos inconformismos e, até, por uma saudável irreverência, que não pelo seguidismo, que não pela subserviência atenta, veneranda e obrigada, que não pela "gramática da obediência" com que todos os "yes men", de hoje como de ontem, obedecem ao seu chefe de fila e adoram o seu senhor. Eu sei, todos nós sabemos, que a crítica, o inconformismo e a intransigência pagam-se por um isolamento relativo. Paciência. Mas valem a pena. Lá dizia elegantemente a duquesa de Guermantes que a qualidade de um homem define-se não pelos salões que ele frequenta mas por aqueles que ele recusa frequentar."
"Apesar de vivermos em sociedade cinzentas sob o astro de uma "ideologia" de reconciliação, tão gasosa como difusa, estribada num pensamento "mole" em que as identidades são fluídas, as solidariedades evanescentes e as convicções vão cedendo o seu lugar às opiniões de ocasião e a desgarrados pontos de vista de certos plumitivos de profissão. A "insustentável leveza do ser" é, hoje, na realidade, uma amarga constatação do "inelutável peso do viver". Apesar disso é preciso tomar partido. Apesar de nos encontrarmos numa época dominada pelo conformismo, pela adoração e santificação do facto consumado, pelo feitichismo da "realidade", pelo pragmatismo da empreitada e pelo triunfalismo da obra feita, por um economicismo sem asas, de curto voo e prazo, pela neutralidade parda e obstrutiva dos burocratas e pela auto-suficiência dos tecnocratas. Apesar de, é preciso tomar partido. Apesar de reinar uma absoluta ausência de preocupações morais ligadas à posse do dinheiro e deste se haver tornado um símbolo da própria riqueza do país e ter passado a justificar-se moralmente a si próprio, deixando de interessar minimamente a razão da sua origem e a razão do seu fim. Apesar da "cultura do dinheiro" que levou ao "culto do dinheiro" e que obriga todo o poder político a prevenir-se e a defender-se contra o tráfico das suas influências. Se mantivermos a "res publica" de mãos limpas e de cara lavada, como nos cumpre, ela não correrá o risco de ser "purificada" e "administrada" pela praga dos novos "justiceiros" e dos "novíssimos príncipes" da nossa praça pública, vestidos eles com becas de magistrados ou outros paramentos. Apesar de se viver num ambiente de sucesso fácil e endinheirado, custe o que custar, "na era do falso", na "era do vazio", sob o "império do efémero" e do mero "pragmatismo" que conduzem ao "crepúsculo do dever", tão bem analisados por Gilles Lipovestsky no seus vários livros. Apesar de, é preciso resistir e tomar partido."
"Só por isso vim hoje aqui: para tomar partido. Pelo PSD que é o meu partido. Pode matar-se um discurso: não se pode matar uma esperança. E, como diria Camilo, por aqui me fecho." (Lisboa, Hotel Tivoli, 17 de Dezembro de 2009, MIGUEL VEIGA).
E diz muitíssimo bem. Copiem-lhe o exemplo, senhores. Até porque todos temos já muitas saudades de voltar a ouvir o PSD dizer alguma coisa. Estamos, sim, saturados de tanto o ouvir apenas, sistemática, intermitente e incansavelmente ... falar. Há que ouvir os barões! Regressem, por fim, e por bem, ao umbigo. Ao verdadeiro PPD/PSD.