Depois de se assistir a um desfile de barões do PSD, apoiando este ou aquele candidato, com posições extremadas numa relação bipolar Passos Coelho, de um lado, Aguiar Branco/Rangel, de outro, ressurgem fantasmas da alcova laranja, uns assumindo-se messiânicos, outros escusando-se a servir de lebres dispensáveis no fim da corrida. Embora haja quem chame Aguiar-Branco de barão (já?!), os barões mais respeitáveis tendem a afastar-se de mais uma guerrilha interina, (re)posicionam-se, promovem encontros discretos, agregam interesses e tendências.
Num partido em que proliferam barrossistas, santanistas, cavaquistas, ferreiristas, marcelistas, e em que nenhum dos lideres carismáticos se envolve num projecto de liderança - como diz Marcelo Rebelo de Sousa, este é um partido de ex-lideres - até um ou outro já anunciado candidato começa a hesitar em protagonizar um suicídio político e actor de mais um desaire partidocrático. Mais uma vez, diz Marcelo Rebelo de Sousa, o que retira ao PSD a unidade ideológica, a sua suposta mais-valia face ao PS, "é o facto de estar convertido num partido de ex-líderes, que se vão somando em fila indiana, cada um mobilizando em torno de si uma corte de fiéis sectários em oposição ao líder do momento." O ex-líder do PSD, que, dizia, no ano passado, não ser candidato à liderança, nem antes nem depois das legislativas de 2009, continua a aparentar um desinteresse pessoal pelos candidatos atá agora assumidos, escusando-se a comentá-las, a pretexto de preferir analisar os acontecimentos, não "ao ritmo de um por dia", mas só "no fim", em 'pacote'.
Por outro lado, Paulo Rangel começa a evidenciar um mal-estar resultante de não agregar os votos internos esperados e, ainda, das fortes críticas merecidas pelos seus colegas europeístas, e a apontar Marcelo Rebelo de Sousa como o nome ideal para o cargo. «Digo aqui, peremptoriamente, que não estou nessa corrida», disse Rangel no programa «Grande Entrevista» da RTP, dizendo que «não faria sentido ser candidato à liderança deixando o Parlamento Europeu». Algo que lhe parecia ter todo o sentido ainda há dias atrás. Deixando de protagonizar a lebre desta corrida, resgata elogios ao mais velho barão teórico-académico do partido, afirmando que os sociais-democratas não podem «desperdiçar a oportunidade» de ter como líder alguém com as «qualidades» de Marcelo Rebelo de Sousa, que descreveu como «o melhor líder da oposição» que o Portugal teve.
Também o antigo ministro da Presidência de Durão Barroso diz que os marcelistas se devem mobilizar e «criar condições» para que o professor avance para a liderança do PSD. «Julgo que ele não está à espera de uma vaga de fundo, mas é natural que tenha uma expectativa de ter um apoio generalizado no âmbito do partido», declarou. O presidente do Instituto Sá Carneiro considera que Marcelo Rebelo de Sousa é hoje «o militante do PSD melhor colocado para ser presidente do partido», devido à sua «credibilidade e popularidade», dentro e fora do partido.
O dirigente e deputado do PSD José Luís Arnaut defende igualmente que Marcelo Rebelo de Sousa deve liderar o PSD. «Um partido que tem um valor como Marcelo Rebelo de Sousa não se pode dar ao luxo de o desperdiçar», disse. «O nosso projecto tem de ser federador. Quem é que é, de todos, aquele que consegue federar e mobilizar o partido? Há um único militante que eu entendo que o pode fazer e que tem condições para o fazer e que é um activo para o país. Não é um activo para o PSD, é um activo para o meu país. É Marcelo Rebelo de Sousa», acrescentou.
O dirigente e deputado do PSD José Luís Arnaut defende igualmente que Marcelo Rebelo de Sousa deve liderar o PSD. «Um partido que tem um valor como Marcelo Rebelo de Sousa não se pode dar ao luxo de o desperdiçar», disse. «O nosso projecto tem de ser federador. Quem é que é, de todos, aquele que consegue federar e mobilizar o partido? Há um único militante que eu entendo que o pode fazer e que tem condições para o fazer e que é um activo para o país. Não é um activo para o PSD, é um activo para o meu país. É Marcelo Rebelo de Sousa», acrescentou.
Pesando os argumentos internos de que são "filhos" do mesmo espaço político e que a apresentação de listas separadas dará maior margem de manobra a Passos Coelho, Aguiar Branco e Rangel fazem os possíveis e os impossíveis para parecer empenhados em disputar, a solo, a liderança do partido.
Distanciando-se dos candidatos da máquina laranja, alguns ilustres avançam a favor de Passos Coelho, aderindo à ideia de que a ruptura e não a continuidade é a via para (re)alcançar o poder. É o caso de Alexandre Relvas, de Carlos Blanco de Morais (consultor para os assuntos constitucionais de Belém, que integrará a equipa de 12 pessoas que vai redigir a moção de estratégia de PPC) e Jorge Moreira da Silva (consultor da ONU e ex-colaborador de Cavaco na Presidência da República).
O PSD pode, assim, e, pelos vistos, ter o seu destino nas mãos de MRS que se afirma fora da corrida, de AB e de PR, fraccionando votos que, à partida, poderiam acumular e somar, e de PPC, o menino rebelde, que vai ganhando votos das hostes desmotivadas e de alguns barões mais racionais que pretendem o regresso às convicções e ao caminho que colocou o PSD no topo da política nacional. Resta saber se Aguiar Branco e Rangel capitalizarão o marketing da máquina laranja, show-man's de um espectáculo na falência, ou se Passos Coelho surpreenderá, agregando os votos dos descontentes com a convalescente continuidade dos múltiplos núcleos duros do partido.
Em último caso, o congresso extraordinário, pelo que se antevê, será uma corrida a duas pistas, palco de um encontro entre o show-off de dois (ou mais, três, quatro ou cinco, segundo Jardim) Velhos do Restelo e o poder de sedução de um cavaleiro andante, paladino de uma nova face, de uma reforçada esperança, de um reencontro com a matriz do PPD/PSD. O certo é que, muito provavelmente, mais do que o valor de uns e de outros, podem ser a oratória e a retórica, o desempenho teatral, a coreografia e o cenário, a determinar quem liderará o partido até à próxima crise e se apresentará como uma alternativa credível ao Governo e ao Primeiro-Ministro.
Só podemos ver vantagens nisso. Uma oposição forte e organizada é um elemento de referência para o Governo. Um impulsionador democrático. Um factor estabilizador. E, seguramente, uma oposição forte pode dar-se ao luxo de se concentrar em ser um efectivo contra-poder em vez de se ver na contingência de enveredar por manobras de bastidores que em nada nem a ninguém interessam. Manobras que só servem para a debilitar ainda mais, para acentuar a sua fragilidade e para agravar o fosso provocado pelas suas divergências internas. E que, como se comprova, só destabilizam e descredibilizam o País. Um preço que todos havemos de pagar bem caro e a curto prazo. Porque os danos são actuais e futuros e porque se os prejuízos se fazem sentir cá dentro, também são, e a três dimensões, perceptíveis lá fora. Tudo se resume, afinal, a lutas intestinais e a maus fígados!