Na última Visão, Edgardo Pacheco, Editor Gourmet fala de vinhos portugueses, a propósito do lançamento da marca Wines of Portugal que explora o conceito "a world of diference". Depois do novo-riquismo em matéria de vinhos, constatável num simples supermercado em que se fazem filas para ver quem tem as mãos mais rápidas para tirar das prateleiras syrahs, cabernets, pinots, merlots, chardonnays, sauvignon blancs, viogniers ou chenin blancs, desprezando as castas nacionais (Touriga Nacional, Trincadeira, Aragonês, Baga (sim a Baga), Castelão em terras de areias, Arinto, Alvarinho, Maria Gomes, Antão Vaz, Bical, Encruzado, Gouveio ...), bem que o assunto nos merece algumas palavras.
Como quase sempre, temos este complexo de desconfiarmos dos resultados de campanhas publicitárias, a não ser se se fala de sol e praia. Vamos dizendo que os nomes das castas portuguesas são difíceis de pronunciar por um estrangeiro, e esquecemos que também não é fácil soletrar, em italiano, Bardolino, Soave, Prosecco di Conegliano -Valdobbiadene, ou, em francês, Echézeaux, Mouton Rothschil, Richebourg, Figeac, Château Beychevelle, ou, em romeno, Tamaiioasa Romaneasca, Feteasca. Sem atinarmos com o reconhecimento das maiores instâncias internacionais de conhecedores. Lembremo-nos do Sandeman Porto Tawny 30 Anos e do Sandeman Sherry Royal Esmeralda que venceram o Decanter World Wine Awards. Dos 4 vinhos do Baixo Alentejo premiados pela Mundus Vini 2009. Dos 85 vinhos premiados (Brancos: 2 Medalhas de Ouro, 13 Medalhas de Prata; Roses: 1 Medalha de Prata; Tintos: 15 Medalhas de Ouro, 46 Medalhas de Prata; Vinhos Fortificados: 4 Medalhas de Ouro, 4 Medalhas de Prata - 21 vinhos do Alentejo e 14 do Douro, 10 da Estremadura e 8 do Dão). Do International Wine Challenge que louvou o Herdade Paço do Conde Reserva Tinto 2005, com a medalha de prata e a Herdade da Mingorra, de Henrique Uva, com três distinções (Vinhas da Ira Tinto 2005 (prata), Alfaraz Reserva Tinto 2005 (commended) e Alfaraz Reserva Branco 2006 (prata)). E do Cortes de Cima, que conquistou o Best of Nation - Special Award for Portugal no San Francisco International Wine Challenge 2008.
Nesta recente campanha, a Wines of Portugal tem €50 milhões para investir. E, tendo-os, sugere-se que reserve uma boa parte para relações públicas e que dêem a conhecer as nossas castas aos jornalistas estrangeiros. À semelhança do que acontece noutros países. Matt Skinner é wine writer da Gourmet Traveller, e escreveu uma artigo sobre as 10 cidades mais importantes a visitar para comer e provar vinhos: Verona, Hong-Kong, Berlim, Amesterdão, Tokyo, Montreal, Copenhaga, Madrid, Buenos Aires e Wellington. Ora, sem nos intrometermos nos sentidos gustativos do wine writer australiano, é-nos difícil acreditar que, observando o binómio comida/bebida, se tenha de sair de Portugal e ir até Copenhaga, Amesterdão ou Berlim - cidades em que se bebe exactamente o mesmo que na Austrália, na Nova Zelândia, na África do Sul, no Chile e na Argentina. E, se isto já é difícil, será impossível não conhecer, cá dentro, lugares maravilhosos, onde, ao fim da tarde, se saboreiam vinhos verdes, brancos tranquilos, tintos, portos, moscatéis ou madeiras. O que não acontece em nenhuma daquelas cidades! São os portugueses que têm fama de ser deslumbrados pelo que é estrangeiro, não os estrangeiros! Mas, continuando a ler o artigo, aumenta o nosso espanto quando o wine writer recomenda que se vá até à Irlanda, para comer bom peixe. Certamente, desconhece a Barca Velha. Já Portugal foi descrito como o melhor destino para se comer pastéis de nata, o que quer dizer que, se este conhece bem alguma parte do País é Belém. Ora, alguém devia dizer ao cavalheiro que isso não é a sobremesa é só o aperitivo! Lisboa não é mais que a porta do paladar português. O que diria se conhecesse o belo Dão, o dourado Alentejo ou a fresca Bucelas? Tenho uma ideia. Pareceria o Jacinto do Eça a gabar uma malga de canja e o vinho saído da pipa a jorrar!
Ainda em Junho passado, a Comissão dos Vinhos do Tejo convidou para jantar umas quantas pessoas que apreciam o néctar de Baco, preponderantemente jornalistas, e lhes deu a conhecer 34 vinhos medalhados em diversos concursos nacionais e internacionais, provenientes das diferentes localidades da região: Santarém, Chamusca, Alpiarça, Golegã, Rio Maior, Cartaxo, Azambuja, Benavente, Salvaterra de Magos, Coruche, Ferreira do Zêzere, Mação, Sardoal, Tomar, Torres Novas, Abrantes, Constância, Vila Nova de Barquinha, Alcanena e Entroncamento, num magnífico jantar a bordo de uma embarcação que subiu o Tejo. Uma acção de marketing que presenteou e prazenteou os convidados. Um exemplo a seguir pela Wines of Portugal.
Trata-se, estou convencida, de uma questão de falta de cultura vinicultura. E era numa sessão de boas maneiras, acompanhando os vários matizes do Sol pelo País inteiro, com as águas de um dos nossos rios, ou nos castanhos-verdes dos nossos campos, que se punham os wine writers, como o dito australiano, no lugar. No nosso lugar. Que se conhecessem passaria a ser o lugar deles também. Um dos melhores lugares do Mundo, para comer e para beber.