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Como quase sempre, temos este complexo de desconfiarmos dos resultados de campanhas publicitárias, a não ser se se fala de sol e praia. Vamos dizendo que os nomes das castas portuguesas são difíceis de pronunciar por um estrangeiro, e esquecemos que também não é fácil soletrar, em italiano, Bardolino, Soave, Prosecco di Conegliano -Valdobbiadene, ou, em francês, Echézeaux, Mouton Rothschil, Richebourg, Figeac, Château Beychevelle, ou, em romeno, Tamaiioasa Romaneasca, Feteasca. Sem atinarmos com o reconhecimento das maiores instâncias internacionais de conhecedores. Lembremo-nos do Sandeman Porto Tawny 30 Anos e do Sandeman Sherry Royal Esmeralda que venceram o Decanter World Wine Awards. Dos 4 vinhos do Baixo Alentejo premiados pela Mundus Vini 2009. Dos 85 vinhos premiados (Brancos: 2 Medalhas de Ouro, 13 Medalhas de Prata; Roses: 1 Medalha de Prata; Tintos: 15 Medalhas de Ouro, 46 Medalhas de Prata; Vinhos Fortificados: 4 Medalhas de Ouro, 4 Medalhas de Prata - 21 vinhos do Alentejo e 14 do Douro, 10 da Estremadura e 8 do Dão). Do International Wine Challenge que louvou o Herdade Paço do Conde Reserva Tinto 2005, com a medalha de prata e a Herdade da Mingorra, de Henrique Uva, com três distinções (Vinhas da Ira Tinto 2005 (prata), Alfaraz Reserva Tinto 2005 (commended) e Alfaraz Reserva Branco 2006 (prata)). E do Cortes de Cima, que conquistou o Best of Nation - Special Award for Portugal no San Francisco International Wine Challenge 2008.
Nesta recente campanha, a Wines of Portugal tem €50 milhões para investir. E, tendo-os, sugere-se que reserve uma boa parte para relações públicas e que dêem a conhecer as nossas castas aos jornalistas estrangeiros. À semelhança do que acontece noutros países. Matt Skinner é wine writer da Gourmet Traveller, e escreveu uma artigo sobre as 10 cidades mais importantes a visitar para comer e provar vinhos: Verona, Hong-Kong, Berlim, Amesterdão, Tokyo, Montreal, Copenhaga, Madrid, Buenos Aires e Wellington. Ora, sem nos intrometermos nos sentidos gustativos do wine writer australiano, é-nos difícil acreditar que, observando o binómio comida/bebida, se tenha de sair de Portugal e ir até Copenhaga, Amesterdão ou Berlim - cidades em que se bebe exactamente o mesmo que na Austrália, na Nova Zelândia, na África do Sul, no Chile e na Argentina. E, se isto já é difícil, será impossível não conhecer, cá dentro, lugares maravilhosos, onde, ao fim da tarde, se saboreiam vinhos verdes, brancos tranquilos, tintos, portos, moscatéis ou madeiras. O que não acontece em nenhuma daquelas cidades! São os portugueses que têm fama de ser deslumbrados pelo que é estrangeiro, não os estrangeiros! Mas, continuando a ler o artigo, aumenta o nosso espanto quando o wine writer recomenda que se vá até à Irlanda, para comer bom peixe. Certamente, desconhece a Barca Velha. Já Portugal foi descrito como o melhor destino para se comer pastéis de nata, o que quer dizer que, se este conhece bem alguma parte do País é Belém. Ora, alguém devia dizer ao cavalheiro que isso não é a sobremesa é só o aperitivo! Lisboa não é mais que a porta do paladar português. O que diria se conhecesse o belo Dão, o dourado Alentejo ou a fresca Bucelas? Tenho uma ideia. Pareceria o Jacinto do Eça a gabar uma malga de canja e o vinho saído da pipa a jorrar!
Ainda em Junho passado, a Comissão dos Vinhos do Tejo convidou para jantar umas quantas pessoas que apreciam o néctar de Baco, preponderantemente jornalistas, e lhes deu a conhecer 34 vinhos medalhados em diversos concursos nacionais e internacionais, provenientes das diferentes localidades da região: Santarém, Chamusca, Alpiarça, Golegã, Rio Maior, Cartaxo, Azambuja, Benavente, Salvaterra de Magos, Coruche, Ferreira do Zêzere, Mação, Sardoal, Tomar, Torres Novas, Abrantes, Constância, Vila Nova de Barquinha, Alcanena e Entroncamento, num magnífico jantar a bordo de uma embarcação que subiu o Tejo. Uma acção de marketing que presenteou e prazenteou os convidados. Um exemplo a seguir pela Wines of Portugal.
Trata-se, estou convencida, de uma questão de falta de cultura vinicultura. E era numa sessão de boas maneiras, acompanhando os vários matizes do Sol pelo País inteiro, com as águas de um dos nossos rios, ou nos castanhos-verdes dos nossos campos, que se punham os wine writers, como o dito australiano, no lugar. No nosso lugar. Que se conhecessem passaria a ser o lugar deles também. Um dos melhores lugares do Mundo, para comer e para beber.