Com a morte dos que viveram o Holocausto, a Alemanha atravessa um período crucial na sua história. Remetê-lo ao esquecimento ou enfrentar o risco que corre de voltar aos tempos aureos do nazismo. Crescem os grupos, neo-nazis ou não, que promovem a minimização ou até a negação do Holocausto, ao ponto de afirmarem que o genocídio foi deliberado e que os 6 milhões mortos em câmaras de gás, na sua maioria judeus, é uma colossal mentira organizada. Compreende-se que os neo-nazis neguem o Holocausto para tornar o nazismo uma ideologia mais palatável, mas já não se compreende o que leva cidadãos comuns a cair nesta cilada orquestrada.
A Alemanha teve, ainda o ano passado, demonstrações vivas de que o fascismo/nazismo se mantém vivo e de boa saúde. A 1 de Julho Alex W., um neonazi, assassinou em pleno tribunal uma mulher de 31 anos! Em Agosto/2008, enquanto brincava com o filho de 2 anos na R. Marwa E. (imigrante egípcia) foi insultada por um neonazi. O caso foi levado a tribunal e 3 meses mais tarde o racista foi condenado a 780€ de multa. Recorreu e, no próprio julgamento, a 1.Julho/2009, no final das declarações de Marwa, esta foi atacada pelo acusado que a esfaqueou 18 vezes! O seu marido e o advogado do racista interviram para parar o ataque e o marido ficou gravemente ferido. Quando a polícia entrou, disparou à queima-roupa para a perna deste, por pressupor que era ele o atacante... Malwa morreu na sala, o marido e o filho foram levados para o hospital. A situação em Sajonia é cada vez mais preocupante, com o movimento neonazi a agigantar-se.
No sábado, perto de 12.000 antifascistas bloquearam as ruas e avenidas para evitar que se realizasse o tradicional desfile neonazi, em Dresde. A marcha reuniu mais de 6.000 neonazis. A policía encetou várias manobras para reprimir a reacção antifascita, alegando que a manifestação era legal, mas dificilmente é crível que uma manobra meramente defensiva precisasse de congregar um contingente de 5.700 policías. Parece, sim, uma reacção de ataque.
Segundo a IMC Alemania, foi a manifestação antifascista mais importante dos últimos tempos.
Parte da Alemanha está consciente de que enfrentar o problema é a melhor forma de evitar que a história se repita. Mas a outra parte prefere enfrentá-lo pela negação porque o que pretende, justamente, é que a história faça um remake. Um perigo não só para a Alemanha, mas para a Europa (em França, as recentes medidas de Sarkozy, sobretudo com a lei Mariani não são de bom auguro). Só uma consciência activista pode impedir que o sonho europeu tenha de enfrentar o que pode vir a ser o seu maior pesadelo.