sábado, 13 de fevereiro de 2010

Um problema Maior ou uma questão de Lana Caprina


Alberto João Jardim ainda não tinha proferido um dos seus comentários sobre o caso das escutas telefónicas. Mas acabou por dizer algumas coisas que tenho vontade de dizer e que são urgentes que se digam. Não só porque o Governo tem de governar mas também porque a oposição devia fazer o que lhe compete: opor-se e contrapor. Ser oposição. Acredito que o AJJ quer que o PSD se (re)afirme como um partido em funções (de oposição) e deixe de ser tão desfuncional.
Num momento em que começam a erguer-se algumas vozes no sentido de pôr um ponto final numa querela cada vez mais politizada e menos judiciária, a voz de Alberto João pode até ser uma referência.
Alberto Martins diz que deve: «À Justiça o que é da Justiça, à política o que é da política».
Mas voltando ao AJJ e ao PSD, o Alberto João confessa que «gostava que aparecesse o senhor Jesus Cristo para meter juízo a estes tipos todos», a propósito da dose maçica de candidatos à liderança do partido. Até porque entende que «é capaz de ainda faltarem uns cinco ou seis».«Ainda não aprenderam a lição do Coliseu, ainda não aprenderam a lição de há dois anos e tal: o povo não gosta de ver os partidos partidos, o povo não sente confiança em ver os partidos divididos. Foi isto que eu aprendi em toda a minha vida política», defendeu. AJJ considera que «era preciso que o partido tivesse uma solução de consenso» e quando se lhe perguntou quem conseguiria alcançar esse consenso no PSD, Jardim apontou dois nomes: «Não sei, o Gonçalves Zarco, o Vasco da Gama, qualquer coisa assim». E foi a esse propósito que o presidente do PSD/Madeira Jardim disse: «Eu gostava que aparecesse o senhor Jesus Cristo para meter juízo nestes tipos todos». Mas existe outro problema que parece estar a contribuir para desfocar a atenção dos laranjas para o que é realmente essencial: procurar uma solução para os seus próprios problemas, encontrar um lider congregador de ideias e de pessoas e oferecer-nos uma oposição competente. Para além do «molho de candidaturas anunciadas», relativamente às quais já se mostrou desentusiasmado (e já disse que não apoia Pedro Passos Coelho), defendeu que o partido deveria primeiro discutir «coisas importantes». O presidente do PSD-Madeira diz que não tolerará que o «seu» partido «seja uma caixa de ressonância para determinado tipo de negócios e para o bloco central», e concluiu que não se identifica «com um partido dividido». Alberto João Jardim disse que «o partido precisa de saber muita coisa», como «se é social democrata ou não», «se é federalista europeu ou onde se sobrepõe o interesse nacional», ou se é «um partido da situação ou oposição ao próprio sistema». «São estas coisas importantes que têm que ser decididas, em vez de se andar a brincar ao senhor "a", ao senhor "b" ou ao senhor "c"», disse.
Fico-me com uma simples constatação: quando Alberto (Martins/PS) e Alberto (João/PSD) estão de acordo em dizer que à política se dê o que é da política, e quando se mostram preocupados pela confusão que assistimos que parecem evidenciar que os nossos políticos estão mais preocupados em exemplificar a um estudante do 1º ano de Direito o que é a violação do princípio da separação de poderes num Estado de Direito Democrático e a um comum cidadão o que é um exercício desarticulado de interesses pessoais e partidários por parte de quem deveria dedicar-se a uma crítica construtiva sobre o que acha que o Governo faz mal e propor soluções alternativas para que todos possam fazer melhor pelos interesses do País (até porque, em última instância, é para isso que são pagos com o dinheiro de todos nós), alguma coisa vai mesmo mal no Reino. E se vozes tão comummente dissonantes surgem em sintonia, e se até uma dessas vozes é a do Alberto João que não é propriamente um homem defensor das causas dos escutados, resta-nos mesmo desejar que a oposição se foque em objectivos concretos e definidos e nos presentei com um exercício prático, assertivo e contundente de verdadeira Oposição, e deixe de se armar em paladino da Justiça: converta-se numa voz de alternância face aos poderes instituídos. É o que se espera dela. É o que exige dela. Por outro lado, espera-se que o Governo não se distraia com cowboyadas de segunda e faça o que lhe compete: governar e governar bem e melhor. Ou seja, paradoxo dos paradoxos que às vezes me faz concordar com o Alberto João, que parem todos com o diz-que-diz, que transforma a política em pura coscovilhice, e oferece ao simples cidadão um espectáculo absolutamente degradante sobre o que é a politiquice.
Em suma, recado para a oposição: supere problemas internos, elega lideres competentes, comunge ideias (se é que as tem) sobre como ultrapassar os reais problemas com que o País se defronta. E para o Governo: não se desconcentre e foque-se. Governe. Não deixe que um bando de sudos-mudos que sofre de regateirice aguda lhe retraia a atenção do que verdadeiramente importa: a governação. Até porque o espectáculo não é tanto para uns ou para outros. É mais para o comum cidadão que pode ser apanhado desprevenido porque, talvez desmemorado da obra de Maquiavel ou das teias de poder dos Bórgias, pode mesmo acreditar que este é um problema maior sem se aperceber que está é só mais uma questão, pelo menos como nos é colocada, de lana caprina.