Michelle Obama ressuscitou a discussão sobre a elegância feminina, na vida, na carreira e na política. Teresa Caeiro e Joana Amaral Dias, no palco nacional, exemplificaram o quanto uma mulher porque é bonita (e não o deveria ser se quer seguir a carreira política ou se se assume como intelectual ou até, por cúmulo, ser apenas séria!?) ou porque cuida mais da sua aparência, se tem mais de esforçar por provar que é simultaneamente, profissionalmente competente.
Tenho amigas de esquerda que ainda trajam o velho visual masculinizado que caracterizou as mulheres pós-Maio/68. Outras usam a sua parte feminina para autênticas investidas contra o sexo fraco (os homens, claro!) e aperaltam-se de forma domingueira, acintam-se, espartilham-se e decotam-se como autênticas Barbies quando têm uma reunião ou vão a despacho com o chefe. Explico às de esquerda que. num País, em que o PM, do PS, é considerado um dos políticos mais elegantes da política ibérica e o mais elegante em solo nacional, essa masculinização não tem sentido. Não se trata de vestir só calças ou só saias. Trata-se de imagem. De uma imagem feminina. Que não tem de ser a de uma boneca. Nem tem se significar gastar exorbitâncias em roupas caríssimas, da marca x ou y. A minha mãe era modista. Ensinou-me a conhecer tecidos. A senti-los pelo toque. A coordenar o velho com o novo. A marca com a feira. Foi uma lição. Tenho duas filhas que são, cada à sua maneira, um retrato de elegância. Uma, adulta. Do PSD. Advogada. Sofisticada. Executiva. Outra, ainda jovem. Da comunicação e das artes. Sofisticada. Artística. Penso que ambas herdaram alguma preocupação com o estar bem. Em coerência com o que cada uma é. Em harmonia.
Menos na Inspecção-Geral de Finanças que no Tribunal de Contas, fiquei com a impressão de que as mulheres ganhavam pontos quanto mais pareciam maltrapilhos (salvo honrosas excepções)! Era a ideia de não ostentar, não mostrar, "passar entre a chuva". Vestir bem era um sinal exterior de riqueza suspeito! E dado a comentários de escárnio e maldizer! Como se fosse dado adquirido que ser profissionalmente competente continha em si a incompetência pessoal na aparência e no trato.
Por acaso, nem conheci muitas mulheres que, sendo brilhantes na carreira, tivessem um ar deslavado ou bacento. Mas conheci algumas. Uma conhecida minha foi Secretária de Estado. Cuidava-se nada. Vestia-se pior. Era uma outra amiga, sua secretária pessoal, que se preocupava com o (des)trato da dita. Protagonizava o estereotipo das mulheres de esquerda, afins das extremistas do Maio/68. Sendo irmã de precurso da Maria (Belo), também de esquerda, era absolutamente dessemelhante desta. A Maria foi sempre uma pessoa simples, mas com uma elegância incontestada. Não me lembro de a ver maquilhada, de meia de renda, de lacinhos, babados ou folhos. Lembro-me de camisas claras, simples. De casacos caídos. Um ar negligé que ainda hoje partilho. A Ana Bela Pereira da Silva é brilhante e elegantíssima. E de esquerda, também. Ser de esquerda ou de direita também não tem nada a ver!
Há mulheres de traje mais alfaiatado, mas com acessórios que lhe conferem uma retumbante feminilidade: canetas, óculos, relógios. Outras feminilizadas que mais parecem árvores de natal: aneis, brincos, pulseiras, colares e quinquilharias mil saem e sobressaem como se fosse sempre Dezembro.
Depois de encetar uma carreira empresarial, autónoma, percebi que estar com os outros, comunicar e sociabilizar tem - também - a ver com a forma como nos coreografamos, como interagimos com o meio e como nos adequamos ao perfil do cliente. Se me assumo negligé no OPART ou na UAb, à-vontade em Marvila, já me assumo executiva no GEP. Não tem a ver com seguir a moda, tem a ver com, perto dos 50 anos, ter feito a minha moda e criado um estilo: aquele com que me sinto eu. Não sei se os outros me acham elegante nem isso me interessa. Eu sinto-me bem e ponto. Aos cinquenta já nos despimos da ansiedade fútil de agradarmos aos outros para mostrar que somos isto ou aquilo. Aos cinquente já somos o que somos. E é importante que gostemos do que somos.
“Uma perspectiva única está sempre na moda e, se alguma peça é sua assinatura pessoal, ela deve ser incorporada como um clássico.” Foi assim com Coco Chanel, que criou os tailleurs, ícones da elegância feminina, e a bolsa Chanel 2.55, inspirada nos conventos em que viveu criou uma assinatura tão pessoal.
Sei lá o que é ser elegante ou estar na moda. Mas sei que a moda é uma expressão de cultura. E a ver pelo confronto visual de Gabriela Canavilhas com Isabel Pires de Lima, bem se vê que o tema dá pano para mangas. O que sei é que a moda é uma forma de expressão, de linguagem. E que a forma como cada um(a) se exterioriza demonstra algo sobre o que vai no interior. Não temos (nem podemos, ou eu não posso, com certeza) arrematar o visual de Audrey Hepburn ou de Brigitte Bardot, em E Deus criou a mulher, ou em Cinderela em Paris ou Breakfast At Tiffany's, mas seguramente que por querermos parecer mais cultas ou intelectualizadas não temos de parecer indigentes.
Quem procura aperfeiçoar-se como ser humano não tem de esquecer que é mulher. Ser feminina pode mesmo ser uma manifestação de cultura. E se temos cinquenta temos, até mais, o dever de nos sentirmos bem connosco e com os outros. Para nós e para os outros. Quanto mais não seja porque a Barbie também os tem. E porque "Aos cinquenta anos, todos têm a cara que merecem". (George Orwell)