quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Povo, Políticos e Pessoas - causas incompreendidas


Confesso que não conheço bem a causa das pessoas que sendo do mesmo sexo se amam também. Mas a minha amizade recente por uma pessoa que ama uma outra do mesmo sexo fez-me pensar um pouco sobre o assunto. Comecei a ler "A Chave do Armário - A Homossexualidade, casamento, família", de Miguel Vale de Almeida. E acho que entendo agora um pouco mais. Mas a principal razão pela qual nunca pensei muito no caso, é porque não vejo porque se há-de alguém intrometer na vida dos outros seja qual for a opção de vida que os outros têm. Portanto, como não tenho o direito de julgar os outros e, nem sequer, compreendo porque faria tal, nunca pensei muito na questão. Tenho amigas e amigos que têm esta opção de vida. E que são felizes. Ora, é a única verdadeira questão que suscito em relação aos meus amigos: se são felizes não tenho nada a dizer. A não ser que quero muito que o continuem a ser.
Letras Fora do Armário é um movimento gay dentro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. E isto só pode significar que Letras é um campo privilegiado de liberdade e de libertação. Dificilmente me convencem que em Engenharia haja algo igual. E isto só fica bem aos de Letras!
Em Maio/2009, alguns amigos organizaram a 10ª Marcha do Orgulho LGBT e o 13. º Arraial Pride. Eram motoqueiros convictos. Alguns muito machos. Outras belíssimas mulheres. E talvez tenha começado a cair em Portugal o pano da grossa seda preta que encerra os palcos dos homens e mulheres que continuam a viver no armário.
Com a crescente segregação dos homossexuais, a comunidade científica desmistificou o tabu de que gostar de alguém do mesmo sexo era doença e definiu-o como um gosto pessoal. Uma atracção sexual tão natural como a heterossexualidade. Surgiram os primeiros ventos de mudança: cada vez mais homossexuais "saíram do armário". Saíram para a rua, e quer se gostasse quer não, ignoraram quem os olhou de lado. E homens e mulheres andavam de mãos dadas. Era o "Orgulho Gay".
Como em qualquer outra boa causa, os famosos deram o exemplo. Rupert Everett. Elton John (casado com o realizador de cinema David Furnish desde 1993), Boy George, George Michael, Ellen DeGeneres (namora com a actriz Portia de Rossi desde 2004, portanto, com uma das mulheres mais bonitas e sensuais), Jodie Foster (em pleno prémio na gala da "Hollywood Reporter", agradeceu à sua "bela Cyndy"). Em Portugal, o cronista social Carlos Castro, que se assumiu no início da carreira, disse que "há muita homofobia" em Portugal, o que talvez explique a adiada confissão do humorista Herman José, que, segundo ele, em privado e no meio, não se escusa a essa qualidade (obrigado leitor pelo comentário, mas não me referia, na primeira versão que leu no texto, a uma confissão de pedofilia, mas a uma afirmação de afectos). Manuel Luís Goucha, apresentador de televisão, de 54 anos, assumiu no ano passado a sua homossexualidade, à revista de sociedade Lux. Vítor de Sousa, de 63 anos, "sai do armário" esta semana - a propósito de aperfilhar o livro "3º Sexo", de Raquel Lito, jornalista da "Sábado", a lançar, na próxima quinta-feira, dia 18, na discoteca "Trumps", em Lisboa. Tranquilo, discreto, Vítor de Sousa abre as portas da sua intimidade numa altura em que o casamento "gay" dá os primeiros passos. Juntam-se-lhe, nesta luta, Fernando Dacosta, Nicha Cabral, Helena Martins, Fausto Airoldi e a prefaciadora do livro, a psicóloga Joana Amaral Dias.
Mas se a causa parece ter chegado aos meios mais intelectualizados, das artes, da cultura, tenho muitas dúvidas que em Portugal um político se assuma como um destes casos de vida.
E gostava de deixar a história do líder liberal alemão Guido Westerwelle, que ao sair do armário em plena festa do jet-set, fez com que a homossexualidade deixasse de ser um tabu no mundo político europeu. Apesar de os analistas terem já soado as trombetas de alarme para a hipótese de um chefe de diplomacia ser homossexual, por este poder ser um inconveniente nas relações com países de regiões (sobretudo Oriente Médio ou Ásia), onde este é ainda um preconceito e esta uma opção sexual, um crime. Teme-se que a imprensa de alguns países (Arábia Saudita, Cingapura ou Rússia), pode, num contexto de tensão, explorar a homossexualidade de Westerwelle como exemplo da "decadência ocidental". Mas o advogado de 47 anos, minimizou as inquietações. "- Estou convencido de que hoje a vida privada deixou de ser um obstáculo. O facto de Angela Merkel ser a primeira mulher chanceler da Alemanha representou problemas a certos países. Evidentemente, ela não usa véu islâmico quando é recebida em certos países árabes. - A secretária de Estado americana (Hillary Clinton) também mantém conversações em países onde as mulheres são oprimidas sistematicamente. Somos nós, os alemães, quem decidimos quem nos representa no governo, em função de nossos próprios critérios políticos e morais", destacou. O jornal Stadt-Anzeiger, de Colônia, lembrou que em muitos países a homossexualidade é um crime punido com prisão e até mesmo em alguns, como Afeganistão, Arábia Saudita, Mauritânia ou Irã, passível de pena de morte, segundo a lei islâmica (sharia). "Assim são as revoluções: a Alemanha vai continuar sendo governada por uma mulher e agora também por um homossexual declarado", comenta o jornal Tagesspiegel. Mas o governo alemão mostrou-se de uma registável civilidade. De facto, até o Tageszeitung incluiu a homossexualidade do futuro número dois na lista de vantagens do governo. E, no ano passado, Westerwelle citou possíveis cortes na ajuda ao desenvolvido dos países homofóbicos. Mas não é a primeira vez que um político gay ganha um alto posto no país. O Chanceller de Berlim, Klaus Wowereit, do SPD (Social Democracia, de centro-esquerda) chegou ao poder em 2006 e supreendeu os eleitores no início da campanha quando, no final do seu discurso de lançamento, após detalhar algumas de suas propostas para a cidade, fez uma declaração que ficou famosa: "- A propósito, eu sou gay, mas isso é bom."
Quando olhamos para a nossa classe política temos de sentir alguma tristeza. Evidentemente que quando olhamos para qualquer classe, para qualquer sociedade, e esta opção de vida ainda é uma fonte de vergonha, temos de nos sentir tristes. E de ficar preocupados. Porque em política de devia fazer a melhor política. E porque aos governos compete governar. Tãosomente. Não compete a ninguém julgar os outros. Mas compete-nos a todos julgarmo-nos a nós próprios. Porque se alguém vê outro alguém feliz e se preocupa apenas porque esse alguém tem outra opção de vida, deve mesmo é preocupar-se consigo próprio. Já que esse alguém está e é feliz. E, portanto, em nada nos preocupa. Quanto a si, se acha que ainda não está preparado para ver os outros felizes, e dificilmente estaria preparado para ter um ministeriável assumidamente de outra opinião que não a sua, deixe-me dar-lhe um conselho: se for preciso, saia também do armário e seja também feliz. Se a sua atitude perante os afectos for a convencional, faça-me ainda assim um outro favor: não critique. E já agora: faça-me o favor de ser feliz, também! Até porque sempre entendi que quem está bem consigo e com os outros não se mete aonde não é chamado. E não critica o que não compreende. Ponto.