A esquizofrenia é uma doença angustiante e grave. Os sintomas são claros: isolamento social; perda de memória; paranóia (alguém fala acerca delas e faz coisas "nas suas costas"); alterações do pensamento: argumentos incoerentes, ilógicos ou abstractos; depressão; irritabilidade ou hostilidade inesperada; delírios. Uma das formas mais violentas de esquizofrenia são os delírios psicóticos, sobretudo, os de perseguição.Se esta "dor de alma" é um problema quando assola um cidadão normal é muito mais problemática quando se apossa da mente de um jornalista.
Fala-se de Mário Crespo. Que se prepara, segundo diz, para apresentar queixa de Sócrates à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e ao Sindicato dos Jornalistas (SJ) porque lhe constou que se referiram a ele como um "louco", um "problema" (até aqui não tem o MC de se sentir ofendido, porque não se conhece homem ilustre, independentementee da área profissional em que esteja integrado, que não tenha já sido alvo de idênticos impropérios!) e como "profissional impreparado" (aqui já o compreendo porque questionar a qualificação e a competência profissional é uma das poucas animosidades capazes de me suscitar a maior ira!).
Ora, confesso que pensei em nem falar deste episódio, porque é triste, mas o meu amigo Joffre Justino acaba de me enviar um mail, no qual, em vez de se usar a atitude do MC de "calhandrice" como o fez alguém preferiu o termo "pantominice", e achei graça. Daí que decidi comentar o episódio.
Não sem antes recomendar que revejam Psicoce (Psycho, 1960) , de Alfred Hitchcock.
Diz o Mário que alguém diz que se disse porque ouviu dizer. Sem se perceber muito bem o que é que uma conversa com estes contornos pode ter de jornalístico.
O primeiro-ministro, o ministro da Presidência Pedro Silva Pereira, o ministro dos Assuntos Parlamentares Jorge Lacão, e "um executivo de televisão", teriam, julga o Mário, almoçado no restaurante do hotel Tivoli, em Lisboa, há uma semana. Ora, o Mário ficou tão ofendido que já veio afirmar que "Não está excluído o processo contra Sócrates e posso recorrer ao International Comitee for the Protection of the Journalist". A conversa teria sido contada ao pivô por uma "fonte" (nem por isso, temo, Luminosa) que "Foi confrontado com a conversa e confirmou", diz, sem revelar a identidade da pessoa em causa. "Segundo me foi contado, ele ouviu cabisbaixo a conversa, não contraditou", adianta. Sem se fazer ideia de quem possa ser o "executivo da televisão", vai adiantando a "fonte" que seria o director de programas da SIC, Nuno Santos. Que almoçou, em trabalho, com Bárbara Guimarães. No final, os dois teriam cumprimentado o primeiro-ministro, Pedro Silva Pereira e Jorge Lacão, de pé, trocando palavras de circunstância. Nuno Santos não comenta. Jorge Lacão (ministro que tutela também a Comunicação Social) não fez quaisquer comentários às declarações de MC. "O Governo não se ocupa com casos fabricados com base em calhandrices." disse.
A história foi contada pelo "paciente" (disse isto? desculpem, pelo jornalista) MC numa crónica que deveria ter sido publicada no JN (publicação da Controlinveste a que também pertence o DN), mas que não chegou a sair, por uma decisão da Direcção "os factos referidos pelo cronista exigiam que "fosse exercido o direito ao contraditório"; por outro lado, "a informação chegara a Mário Crespo por um processo que o JN habitualmente rejeita como prática noticiosa; isto é: o texto era construído a partir de informações que lhe tinham sido fornecidas por alguém que escutara uma conversa num restaurante". O artigo acabou por saír no site do Instituto Sá Carneiro (órgão do PSD). "Não sei como foi lá parar", assegura Crespo. Mas como pode alguém pensar que teria alguma coisa a ver com isso? Afinal, o PSD é um partido sério, e seria incapaz de participar numa acção destas, portanto, presume-se que vão encontrar o autor da gracinha e interpor acção jurisdicional adequada à reparação da imagem séria que reconhecemos ao partido laranja. O MC seguiu para Guimarães, onde decorrem as jornadas parlamentares do CDS/PP, para se afastar da "loucura" que tomou conta dos protagonistas desta conversa-novela e procurar a (sua?!) sanidade mental, com a ajuda do líder do partido, Paulo Portas. Ora, aqui estão dois bons amigos! Mas, num gesto de enorme solidariedade (porque se há gente com quem sou inquestionavelmente solidária são os "loucos"), e para que entendam a dor do MC, aqui se deixa a sua crónica, crendo que o Mário nos ficará grato e que, em contrapartida, sairá em manifestação de rua com todos os outros loucos que se conhecem por aí.
"Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento.
O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa.
Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal.
Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o.
Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos.
Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados.
Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre.
Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009.
O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu.
O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”.
O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”.
Foi-se o “problema” que era o Director do Público.
Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada." (Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicado hoje (1/2/2010) na imprensa. )
O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa.
Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal.
Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o.
Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos.
Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados.
Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre.
Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009.
O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu.
O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”.
O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”.
Foi-se o “problema” que era o Director do Público.
Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada." (Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicado hoje (1/2/2010) na imprensa. )
Sem querer parecer fã de Santos Silva, concordo com ele. «Ouvi alguém querer fazer um texto com base no que supõe serem informações que lhe tenham sido transmitidas acerca de conversas privadas, tidas em restaurantes, e eu acho isso absolutamente inacreditável», referiu.
«Não sei como se consegue fazer informação a partir de intromissão em conversas privadas, seja de quem for. Evidentemente, não merece nenhum crédito. As fontes não são conhecidas», afirmando ainda que «todos temos direito à privacidade das nossas comunicações». «De uma coisa podem os senhores jornalistas estar seguros: enquanto político eu nunca me interessarei por conversas que jornalistas tenham numa mesa perto de mim, num restaurante onde possa estar». Fonte do ministério dos Assuntos Parlamentares disse que «o governo não se ocupa de casos fabricados com base em calhandrices». Confesso que acho uma certa graça à expressão, que Santos Silva também considera "a expressão certa" para qualificar a situação.
José Lello também considera que o jornalista tem um "comportamento psicótico". "Ele dizer que fulano disse que disse, ou não disse, só prova de facto que o comportamento dele é psicótico. Ainda para mais, se de facto não conseguiu expressar a sua raiva por uma coisa que ninguém sabe se foi dita, em que circunstâncias poderá ter sido dita, foi recorrer a uma organização partidária para expressar toda essa raiva, pelo facto de dizerem que ele está num estado psicótico", afirmou. "Tenho pena, porque gostava de o ver de uma forma mais exaltante do que o ver assim deprimido a precisar de apoio", acrescentou.
«Não sei como se consegue fazer informação a partir de intromissão em conversas privadas, seja de quem for. Evidentemente, não merece nenhum crédito. As fontes não são conhecidas», afirmando ainda que «todos temos direito à privacidade das nossas comunicações». «De uma coisa podem os senhores jornalistas estar seguros: enquanto político eu nunca me interessarei por conversas que jornalistas tenham numa mesa perto de mim, num restaurante onde possa estar». Fonte do ministério dos Assuntos Parlamentares disse que «o governo não se ocupa de casos fabricados com base em calhandrices». Confesso que acho uma certa graça à expressão, que Santos Silva também considera "a expressão certa" para qualificar a situação.
José Lello também considera que o jornalista tem um "comportamento psicótico". "Ele dizer que fulano disse que disse, ou não disse, só prova de facto que o comportamento dele é psicótico. Ainda para mais, se de facto não conseguiu expressar a sua raiva por uma coisa que ninguém sabe se foi dita, em que circunstâncias poderá ter sido dita, foi recorrer a uma organização partidária para expressar toda essa raiva, pelo facto de dizerem que ele está num estado psicótico", afirmou. "Tenho pena, porque gostava de o ver de uma forma mais exaltante do que o ver assim deprimido a precisar de apoio", acrescentou.
É como diz o Joffre, uma "pantominice", ou seja, uma grandessíssima "calhandrice". Ou uma forma exteriotipada de dizer: "Ninguém gosta de mim.", ao que eu retorquiria: - Diga Mário, diga: "Quis saber quem sou o que faço aqui. Quem me abandonou. De quem me esqueci!!"