Revi “Intrigas de Estado” com Russel Crowe, Ben Affleck, Rachel McAdams e Robin Wright Penn,Helen Mirren, Jeff Daniels e Viola Davis. E, ao ler o comentário de Paulo Rangel ao «Sol», desta sexta-feira, sobre a afirmação de que Durão Barroso o teria convencido a candidatar-se à liderança do PSD, diz o próprio que isso não passa de «intriga política». Rangel confirma que, nos últimos 15 dias, «esteve presente em seis rounds de negociações, entre seis deputados e seis elementos da comissão, entre os quais Durão Barroso», mas diz igualmente que nada falaram sobre o tema.
No fim do Verão passado, Pedro Silva Pereira afirmou, sobre as escutas ao PR, que "Os disparates de Verão devem ser tratados como tal e é por isso que o Governo se tem esforçado para não alimentar com comentários aquilo é uma pura intriga suscitada nos jornais sem nenhuma espécie de fundamento e ainda por cima originada em fontes anónimas. Este assunto merece exactamente este distanciamento".
Em comum, um e outro tema, tal como o filme, falam de intriga política.
Acaba de estrear nas montras um livro que irá pôr os círculos políticos americanos em polvorosa. Chama-se "Game Change: Obama and the Clintons, McCain and Palin, and the Race of Lifetime" e é o último e explosivo livro de John Heilemann, da "New York Magazine", e Mark Halperin, da "Time". Durante o último ano, os jornalistas entrevistaram mais de 200 colaboradores próximos da máquina do partido republicano e do partido democrata e revelam agora histórias surpreendentes de intriga política, traição e ignorância. Nas 464 páginas do livro lê-se, por exemplo, que Hillary Clinton montou um gabinete de crise antevendo que o marido, Bill Clinton, pudesse implodir a sua campanha com mais um escândalo sexual. Hillary "tinha um trio de assessores que formava um gabinete de guerra dentro da sala de guerra." Os assessores - especialistas em técnicas de combate a boatos - acabaram por descobrir que Bill mantinha uma relação extraconjugal permanente. "Não era uma relação de uma noite. Era romântica e sólida" dizem. Em matéria de traição, os republicanos não se ficam a rir. Cindy McCain, a mulher de John - o candidato republicano à presidência - também é acusada de infidelidade e foi confrontada directamente com essa possibilidade pelo próprio staff do marido. Neste novo relato da campanha presidencial de 2008, Sarah Palin não fica bem na fotografia. "Quando os seus tutores começavam os briefings, ela desligava de forma rotineira - queixo no peito, braços inertes, olhos no chão, calada e imóvel, perdida naquilo a que os que estavam à sua volta descreviam como estado catatónico" escrevem os jornalistas a propósito da candidata à vice-presidência. Palin - uma desconhecida política conservadora, adepta de caça e mãe de família no longínquo Alasca - foi uma escolha de última hora do Partido Republicano, quando todos pensavam (incluindo John McCain) que era Joe Lieberman a ter o nome inscrito no 'ticket' presidencial. Palin teve um efeito arrasador nas sondagens mas não demorou muito até começar a surgir os problemas. A propósito dos polémicos relatos de "Game Change", Steve Schmidt, conselheiro de topo da campanha do GOP, confirmou a história à CBS: "Palin não sabia nada de nada sobre vastas áreas, incluindo a segurança nacional ou política internacional. Uma semana depois de estar a trabalhar connosco ainda não sabia porque razão há duas Coreias e ainda acreditava que Saddam Hussein estava por trás dos ataques de 11 de Setembro."A energia de Palin era extraordinária e durava para 15 ou 16 horas de estudo diário. Mas uma coisa Palin não conseguia aprender: o nome do seu oponente, Joe Biden. "Sim, é verdade, chamava-lhe sempre senador Obiden", conta Schmidt, expondo as debilidades psicológicas de Sarah: "Num minuto era o seu lado feliz e intenso; no seguinte, caia no seu lado depressivo." Talvez por isto, Palin tenha admitido: "Se soubesse o que sei hoje nunca teria feito isto", escrevem Halperin e Heilemann citando a antiga governadora do Alasca. Desafiando a sabedoria política convencional, e voltando ao campo democrata, Halperin e Heilemann dizem que era Obama, e não Clinton, a candidatura do sistema: "Obama era o candidato do establishment e havia um número apreciável de senadores e líderes democratas que, em público ou em privado, o encorajavam a concorrer apunhalando Hillary." A verdade é que Clinton "estava tão confiante que conseguiria a nomeação democrata que [em 2007] já tinha formado um gabinete de conselheiros especiais para tratar da transição para a Casa Branca". Ficou-se pelo Departamento de Estado, depois de um telefonema de Obama.
Ambientes que estravazam o palco da política nacional e que retratam, com a fidelidade possível, a dimensão da intriga política como mecanismo vulcanizador de governos e de oposições.
Uma diferença, porém. Enquanto que aqui todos se preocupam em desmentir a existência de intriga política, no palco norte-americano ela é sinónima de praxis poltítica, sem pudor, com mais mentira, engenharia e marketing. As máquinas partidárias têm potências e velocidades bem diferentes. Graças a Deus que neste campo as nossas ainda são mais pequenas e maneirinhas. Até porque também aqui se vê que somos povo de "brandos costumes". E, aqui, francamente, ainda bem.