Particularmente interessante a nomeação de Gabriela Canavilhas para a Cultura. Que não comentei antes porque, sendo consultora da OPART, me pareceu por bem manter algum pudor, não fosse algum crítico ver no meu comentário uma homenagem mais ou menos velada, com maior ou menor interesse pessoal.
Passados estes meses, já me permito um olhar mais público sobre a nomeação desta mulher, senhora e artista. Hão-de perdoar-me esta mania, mas sinceramente, com honrosas excepções, algumas das últimas nomeações governamentais para a pasta primaram por escolher gente em quem dificilmente se descortina alguma formação, educação, enfim, alguma cultura. Já para não falar na deselegância de gestos, de roupagem e de palavras. Tudo isso, cultura.
Passados estes meses, já me permito um olhar mais público sobre a nomeação desta mulher, senhora e artista. Hão-de perdoar-me esta mania, mas sinceramente, com honrosas excepções, algumas das últimas nomeações governamentais para a pasta primaram por escolher gente em quem dificilmente se descortina alguma formação, educação, enfim, alguma cultura. Já para não falar na deselegância de gestos, de roupagem e de palavras. Tudo isso, cultura.
Ora, francamente, acho que a Gabriela - nome no feminino do meu pai e que só pode ser de bom auguro - é uma honrosa excepção nessa amálgama da gente que ocupou a mesma pasta anos atrás - e atenção que não me refiro só à ignorância do Pedro Santana Lopes sobre os concertos para violino de Chopin!
Trata-se de alguém com educação, formação, perfil musical. Iniciou os estudos musicais no Conservatório Regional de Ponta Delgada e terminou o Curso Superior de Piano no Conservatório Nacional de Lisboa (na classe do Prof. António Menéres Barbosa). Estudou Música de Câmara com Olga Prats, e posteriormente com Riccardo Brengola, na Accademia Musicale Chigiana (Siena, Itália), onde lhe foi atribuído o Diploma de Mérito em Música de Câmara. É licenciada em Ciências Musicais pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Desde Janeiro de 2007, é membro do Conselho Directivo da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD). Entre Novembro de 2003 e Novembro de 2008, foi presidente da Direcção da Orquestra Metropolitana de Lisboa, presidente do Conselho Directivo da Academia Nacional Superior de Orquestra e directora pedagógica do Conservatório Metropolitano de Música de Lisboa e da Escola Profissional Metropolitana. Obteve o 1º prémio em Musica Erudita no Concurso Nacional “Cultura e Desenvolvimento” (Clube Português de Artes e Ideias) e, com o clarinetista Francisco Ribeiro, o 1º prémio na categoria Duos de Piano e Instrumento de Sopro no V Concurso Internacional “Città di Moncalieri” em Turim, Itália. A divulgação da música de câmara tem sido um dos seus principais objectivos, tal como a música vocal e canção de câmara e possui uma discografia que integra sete álbuns (destaque para "Vocalizos", evocação com canções portuguesas e brasileiras, as Sonatas para piano de João Domingos Bomtempo, ou " Song and Piano Pieces de Alfredo Keil"). Tem dedicado especial atenção à música contemporânea e à música portuguesa e contribuído de forma sistemática para a sua divulgação e afirmação.
Depois de tanto falarem sobre as escolhas de Sócrates, alguém quer tentar igualar semelhante currículo nos ministros da cultura dos últimos tempos?
Posso acrescentar: elegante, distinta, de extraordinário bom gosto.
Está, pois, José Socrates, de parabéns! E, estou crente, o Governo e o País também!
Mas esta mulher que nasceu em Moçambique, com raízes nos Açores, tem um papel difícil.
Aos 48 anos, Gabriela Canavilhas é posta perante a sinfonia impossível: "fazer mais com menos é impossível", como dizia o seu antecessor José António Pinto Ribeiro. Em suma: ou convence o PM a aumentar o orçamento para a cultura, ou continua a fazer jus à fama já adquirida de conseguir as maiores proezas nas condições mais impropícias (como quando geria a Orquestra Municipal de Lisboa, antes de, em finais de 2008, ter aceite ser Directora Regional de Cultura dos Açores).
Aos 48 anos, Gabriela Canavilhas é posta perante a sinfonia impossível: "fazer mais com menos é impossível", como dizia o seu antecessor José António Pinto Ribeiro. Em suma: ou convence o PM a aumentar o orçamento para a cultura, ou continua a fazer jus à fama já adquirida de conseguir as maiores proezas nas condições mais impropícias (como quando geria a Orquestra Municipal de Lisboa, antes de, em finais de 2008, ter aceite ser Directora Regional de Cultura dos Açores).
De toda a forma, desejamos-lhe o melhor, Gabriela! Vá em frente! E, já agora, agradecemos-lhe ter aceite o que sabemos que muitos outros recusaram por achar precisamente que nessa pasta as omeletes se têm de fazer mesmo sem ovos!