Porque se há-de estranhar o meu interesse por monarquias e dinastias? Não será por ser um dos fundadores da Academia de Estudos Laicos e Republicanos, ou por descender de carbonários e republicanos assumidos, que não preencho uma parte do meu imaginário romântico com histórias de princípes e princesas. Embora não siga os comentários que sobre eles fazem as revistas "do coração". Que são tudo menos "de coração". Porque sobrevivem assumindo-se como alcoviteiras da contemporaneidade, descurando o quão normal são as suas vidas, o quão comuns são as suas preocupações, para lá das obrigações (e direitos, também) acrescidad, decorrentes da sua natureza específica (a real).
As mais actuais dão conta de que Juan Ignacio Balada, um empresário multimilionário com fortes convicções monárquicas, que morreu no passado mês de Novembro, decidiu deixar a sua fortuna à Família Real espanhola. De acordo com o testamento do filantropo espanhol, metade dos seus bens destinam-se à criação de uma fundação benéfica, que será presidida pelo príncipe Felipe, enquanto que a outra metade ficará para os príncipes das Astúrias, bem como aos oito netos dos reis Juan Carlos e Sofía de Espanha. O casal mais famoso da realeza espanhola exibiu reforçados sorrisos depois da notícia. Como qualquer um de nós faria.
Merece destaque o facto de Letizia e Felipe comparecerem nos actos oficiais sempre de mãos dadas. O que é interpretado como uma imagem de cumplicidade de que apenas nos privaram nas breves crises conjugais que já viveram e não conseguiram disfarçar. Retirando a célebre crise conjugal que protagonizaram no início das férias de Verão - quando teve a primeira discussão entre ambos - , ou de Letizia para Filipe (porque há quem afirme que a personalidade da princesa é mais atrita a estas manifestações de afectos e desafectos), no Clube Náutico de Palma de Maiorca. Após a discussão constataram que Letizia surgia de semblante triste "com um olhar perdido", tal como supõem que os olhares mais românticos e as mãos dadas são sinal que "as dúvidas e os desentendimentos entre os dois terão sido finalmente ultrapassados." Descobrem que, afinal, "os príncipes das Astúrias continuam em sintonia e tão apaixonados como no dia em que se conheceram". A troca de sorrisos, os olhares cúmplices, os abraços ternurentos, assim como a postura serena e segura demonstrada por Letizia durante os três dias que passaram nas Astúrias, não lhes deixa margens para dúvidas. Ou seja, se discutem fazem birra, amuam, indispõem-se e, quando fazem as pazes, desfazem-se em carinhos e miminhos. O mesmo que faria qualquer outro casal, naquela fase do contrato de matrimónio. Até das oscilações de texturas, cores e feitios do guarda-roupa da princesa retiram conclusões. Por se sentir confortável e acolhida na sua terra natal, Letizia desfilou confiante com um guarda-roupa que, apesar de investir nas cores escuras, denota um novo estilo, mais descontraído e jovial. Como qualquer uma de nós faz na fase da (re)conciliação.
" A troca de olhares cúmplices com Felipe "voltou a ser uma constante, evidenciando o clima de reconciliação entre o casal. " Depois de pazes feitas. O mais normal possível.
Até a cerimónia de entrega dos Prémios Príncipes das Astúrias (em que a princesa se fez tapar por um trapinho de Felipe Varela e usou conjuntos entre o patchwork azul-marinho e preto, bordado com lantejoulas, fitas de cetim, missangas e fio de prata, conjugados com um cardigã de lã e seda e sapatos e uma mala Magrit) foi matéria jornalística. E às cores dos modelitos atribuiu-se natureza de confissão tarapêutica. Acho normal, outra vez.
"E agora, talvez para continuar a agradar ao marido, a princesa parece também ter recuperado a boa relação que teve em tempos com a sogra." Mais um sinal de absoluta normalidade. Está bem com o marido, fica bem com a sogra, zanga-se com o marido e a sogra paga as favas. Muito parecido com as cenas idiotas que todas já tivémos vontade de fazer. "Elementar, meu caro Watson!" Os reis e os príncipes das Astúrias foram recentemente anfitriões de um jantar de gala dado em honra do presidente da Hungria e da mulher, Laszló e Erzsébet Sólyom, e, na ocasião, voltou a ser visível a cumplicidade de Letizia com a sogra. Ainda bem. Mas parece-me que pretender que acontecesse qualquer outra coisa (como não se falarem ou se antagonizarem) seria esperar demais quando o peso do protocolo é, consabidamente, excessivo. É certo que a mulher do príncipe Felipe que prima, habitualmente, pela simpatia e boa disposição, às vezes se descuida com umas caretas, mas sempre comedidas.
Depois, não se esqueçam que Letizia, agora, tem mais razões para sorrir. Porque, de cada vez que sorri, sorri com menos dez anos. E isto, sem dúvida, é mais que motivo para qualquer mulher sorrir! Um sorriso "intervencionado" por Christian Chams (que já "intervencionou" Sharon Stone, Demi Moore, Madonna, George Clooney, Nicolas Sarkozy, e a Rania da Jordânia), é um grande sorriso.
Dizem que a princesa tem uma patologia por sapatos. Mas quantas de nós não tem uma dessas patologias?
E resumem-se os factos a cirurgias, moda, humores para com o marido e respectiva mãe, e, gravíssimo, a obsessão por sapatos (especialmente, altos!). Eis o que descobrem os jornalistas do coração sobre a mulher que protagoniza a princesa da vizinha Espanha. Factos absolutamente comuns. E quando falam dela só percebemos que não falam de uma mulher comum porque é uma princesa. Senão ...