terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Grandes amores! Histórias e Cinemas.

Nada mais relaxante do que acabar o dia a ver um filme de amor. Ah! O Amor! Culturas diferentes, gente diferente, diferentes forma de amar. O amor assume roupagens dessemelhantes, conforme os povos, as raças, as histórias, os géneros, os feitios e os defeitos.
No lugar, foi a Grécia. Tomavam-no por agápe, filía e eros. O amor que Deus teria para com suas criaturas e estas deveriam ter para com ele seria o agápe -- o amor espiritual, o mais puro e nobre. Filía seria próximo do amor entre membros de uma família: Filadélfia seria amor fraterno (filia) entre (adelfoi) irmãos. E Eros o amor com cheiros, modos e todos os outros componentes sexuais, "eróticos" ou "erotizados".
A História deixou-nos grandes histórias de amor, romances que invejamos, apesar de sofridos, atormentados, ou simplesmente felizes e extasiados.
Os gregos, com tendência para a tragédia. Quis que Vênus, a deusa da beleza e do amor, perdesse prematuramente Adônis, morto por um javali. Quis que Orfeu, preferisse descer aos infernos, em busca de Eurídice. Quis que Édipo se apaixonasse pela mãe, Jocasta. Menelau teve melhor sorte porque, embora perdendo Helena, que se apaixonou por Páris, se reinventou como homem e se revelou herói, conquistando Tróia e Helena. Ulisses conheceu o amor fiel em Penélope (que se fingiu empenhada em tecer uma tela e se comprometeu a escolher um pretendente assim que a terminasse mas que trabalhava de dia e a desmanchava à noite, para nunca a acabar), até que Ulisses, dado como morto em batalha, volta para Penélope, que o esperou, sem mácula. Pigmaleão esculpe uma estátua (Galatéia) e apaixona-se perdidamente por ela. E Marco António, que sai de Roma para aniquilar a tida por megera, que se deitara com Júlio César, e ao ver Cleópatra foi tomado de paixão e se rendeu aos seus encantos. E Sansão, que, perdido de amores por Dalila, deixou que cortasse as suas longas melenas e perdeu a sua proverbial omnipotência.
Henrique VIII que se via como um romântico, foi-o de forma estranha com, tantas quantas se sabe mais as que não se sabe, várias mulheres e passado o efémero fogo da paixão o único jogo erótico com que se prazenteava era o de as decapitar. Até com Anna Bolena! E Lord Nelson, que fez espalhar pelo exército napoleónico as cartas das traições de Josefina, sucumbiu a Lady Hamilton, cujo marido, Sir William Hamilton, lha entregou como oferta de agradecimento.
E o Duque e da Duquesa de Windsor. Ele, Rei Eduardo VIII de Inglaterra. Ela, Wallis Simpson, uma norte-americana divorciada e de beleza muito duvidosa. Por causa dela Eduardo abdicou do trono. Como Ricardo III, que, em desespero, disse durante uma guerra que trocaria seu reino por um cavalo, trocando afinal a sua coroa por uma boa noite. E, como nos contos de fada, viveu feliz pelo resto da vida ao lado da mulher escolhida.
E Perón e Evita. Ela, actriz obscura de segunda categoria, do tipo chorus line. Ele, o futuro ditador, como dote, transforma-a na primeira-dama da Argentina e num dos maiores mitos do século.
E Onassis e Maria Callas, que mesmo depois dele se ter casado com a “rainha americana” - Jacqueline Kennedy, nunca perdeu de vista a sua diva.
Um dos maiores compositores clássicos do mundo, Frédéric Chopin teve um caso tempestuoso com George Sand – aquela que, no século XIX, lançou a moda das calças para a mulher. Chamou-lhe Amandine Aurore Dupin, quando se vestiu de romancista, adoptou o nome e as atitudes masculinas - fumava charutos e dava opiniões escandalosas. Assumindo um lado mais feminino do que Madame George Sand, e nesse cruzar de almas, apesar das brigas violentas, viveram juntos durante nove anos e tiveram uma filha.
E Eleonora Duse e Gabriel D'Annunzio. Com fantásticos enlaces, lances e desenlaces dramáticos. Em que Duse sofreu à exaustão pelo poeta e lhe perdoou os devaneios da juventude. Para provar que o relacionamento entre duas pessoas extraordinariamente inteligentes e cultas tem tudo para se transformar em obra de arte.
Mas terá sido com Jean-Paul Sartre (ele, só o criador do existencialismo) e Simone de Beauvoir (ela, só a primeira feminista militante) que se conheceu uma das maiores histórias de amor. Os dois, na procura de um equilíbrio em que ao amor fosse permitido sobreviver, esculpiram publicamente as bases para o primeiro casamento aberto e mantiveram-se unidos até que a morte (de Sartre) os separou.
O grande escândalo sexual do final do século passado ficou por conta de Oscar Wilde e Lord Alfred Douglas. Wilde, cujo mais adorado fait-divers era o de chamar escandalosamente a atenção, apaixonou-se pelo jovem Lord e exibia-o em todos os lugares, chocando de raiva a puritana sociedade inglesa da época, a ponto de ser condenado à prisão (na Inglaterra de então a homossexualidade era crime), o que lhe valeu um passaporte para a posteridade.
E Wagner, que assume um romance público com Ludwig II, Rei da Baviera. Wagner não deixou a esposa, mas foi o jovem monarca que o protegeu e ajudou nos problemas financeiros.
Rimbaud foi um jovem poeta-maldito que, logo ao chegar a Paris, formou par romântico com o já consagrado Verlaine. Muitos anos mais velho, Verlaine era bem casado e homem de família, mas larga a estabilidade do lar para viver uma alucinante ligação com Rimbaud e tudo acabou … num tiro. Não houve morte, mas ficou ferida tão avassaladora paixão.
No capítulo dos casais estranhos, no topo está o formado por Nijinsky e o seu cruel empresário, Sergei Diaghilev. Foi Diaghilev que contribuiu para enlouquecer Nijinsky, tornando a sua carreira tão grandiosa e … curta.
A escritora Gertrude Stein amou perdidamente Alice B. Toklas. Viveram juntas a vida inteira, como um casal tradicional, em que a fidelidade era ponto de honra. E porque o modelo era estranho demais para os Estados Unidos, Gertrude escolheu para residir Paris, assumiu a sua gordura, a sua fealdade e o seu lesbianismo, dava festas memoráveis, cujos freqüentadores eram a fina flor da intelectualidade da época (como Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald). E foi feliz até Alice morrer.
E Gertrude Stein/Alice B. Toklas, e para Jean Cocteau e o actor Jean Marais, também foi Paris a pátria dos seus amores públicos, duradouros, e levemente escandalosos.
E como esquecer Romeu e Julieta? Que ficaram o símbolo do amor absoluto e morreram um pelo outro. E outros personagens de Shakespeare. Hamlet, o Príncipe da Dinamarca, cuja Ofélia enlouqueceu de paixão, face à apatia do príncipe que amava mais o reino que … a ela. E Othelo e Desdemona. O mouro de Veneza não suportou a suspeita levantada por Iago, que dizia que Desdêmona o traía e estrangulou a mulher. Othelo é a espada do ciúme. E Fausto e Margarida. Ou o amor do soldado Don José pela cigana Carmen, tão volúvel que não resistia a oferecer-se de bandeja a todos os homens que lhe passavam ao lado não deixando outra alternativa a Don José senão matá-la.
Casal trágico e romântico é o da Dama das Camélias: Marguerite Gauthier e Armand Duval. A Dama das Camélias, afinal descoberta uma prostituta de luxo morre tuberculosa e deixa Armand inconsolável.
E Cyrano de Bergerac, que por causa da sua fealdade, embora apaixonado pela bela Roxanne, não deixa que ela o veja e ama-a por correspondência, conseguindo que Roxanne o amasse pelas cartas. Um amor epistolar.
Victor Hugo imortaliza o amor de Quasímodo, o Corcunda de Notre Dame, por Esmeralda, uma cigana que ele esconde na famosa Catedral de Paris.
E Scarlet O'Hara e Rett Butler de “E o Vento Levou”? A orgulhosa beldade do Sul dos Estados Unidos e o aventureiro, envolvidos em apaixonados beijos e olhares.
Tennessee Williams cria a solitária e neurótica Blanche Du Bois de “Um Comboio Chamado Desejo”, que vive uma devastadora atracção pelo cunhado - o rude Stanley Kowalski.
Tarzan e Jane formam um casal muito especial, com uma vida fastidiosamente saudável, em que a prática de actos amorosos (nunca explícitos) era secundada pelas paisagens paradisíacas.
E os “pares” como Clark Gable/Carole Lombard, Spencer Tracy/Katherine Hepburn, Humphrey Bogart/ Lauren Bacall, Elizabeth Taylor/Richard Burton, casais possuidores de uma química explosiva nas telas e que se apaixonaram na vida real.
O ídolo dos filmes de gangsters, o indestrutível Humphrey Bogart mal começa a filmar “Uma Aventura na Martinica” apaixona-se forazmente por Lauren Bacall. Bogart passara dos 40 anos e a actriz tinha 19. E as ardentes cenas teatrais de amor acabaram em realidade.
E sobre Elizabeth Taylor e Richard Burton? Que, entre filmes (Cleopatra, Gente Muito Importante, Adeus às Ilusões, A Megera Domada ....), casavam, divorciavam, com brigas homéricas, cheios de alcool, drogas e café preto, que se tornaram conhecidos por destruir toda a mobilia dos quartos dos hotéis de cinco estrelas em que se hospedavam, mas nunca deixaram de se amar furiosamente. E tudo terminou apenas porque o Além chamou Burton!
Fogo, chama, lume. Incendeie-se o coração, que mais vale amar um só dia que desamar toda a vida! Porque, afinal, reconheça-se, a vida é para ser vivida.