domingo, 24 de janeiro de 2010

Inteligência, Palavra e Políticos

Todos sentimos a falta de um político com uma boa oratória. Com o dom da palavra. A capacidade de magnetizar os outros, de aglutinar multidões. O que distingue os homens da palavra é hoje conhecida como a manifestação de um determinado tipo de inteligência: a verbal e/ou linguística.
A ideia foi lançada por HOWARD GARDNER, pelo seu conceito de inteligência como faculdade de entender, compreender, conhecer, juízo, discernimento, capacidade de se adaptar, de conviver. Constitui potencial biopsicológico não especificamente humano, mas que em seres humanos assume uma dimensão inefável. Uma capacidade para resolver problemas e criar idéias/produtos válidos. É a inteligência que dá sentido ao que vemos e à vida que temos e que nos leva a uma conversa interior, em que resgatamos arquivos e memórias, criamos capacidade de raciocínio, fixamos objetivos e inventamos saídas para o mais entroncado dos problemas. Antever portões em vez de janelas. Aprender a pensar, possuir vontade para o fazer, criar e usar símbolos e, graças a eles, empreender nos sonhos, intentar conquistas, fazer surgir o mito, a linguagem, a arte e a ciência. Somos quem somos porque lembramo-nos das coisas que nos são próprias e nos emocionamos, e a inteligência faz com que cada ser humano seja um ser único e compreenda plenamente o significado dessa individualidade.
A TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS DE GARDNER, psicólogo da Universidade de Harvard, de 1983, desvenda em "As Estruturas da Mente", partindo de uma noção comum de inteligência, o potencial que cada um e mede-o com instrumentos verbais padronizados (como os testes de Q.I.). O conceito de inteligência é por ele definido com a capacidade de resolver problemas ou de criar produtos valorizados num cenário cultural específico, tomado como uma referência científica a evidências biológicas e antropológicas. O psicólogo introduziu oito critérios distintos para conteudizar o conceito de inteligência e propôs sete competências humanas, mais tarde elevadas para oito e nove. De entre estes, uma releva para compreender porque uns se elevam pela palavra e porque outros nada fazem com elas. Não é a espacial (a habilidade para manipular formas ou objectos mentalmente e, a partir das percepções iniciais, criar tensão, equilíbrio e composição, numa representação visual ou espacial. É a inteligência dos artistas plásticos, dos engenheiros e dos arquitectos), não é a lógico-matemática (que se refere à habilidade para resolver problemas ou criar produtos através do uso de parte ou de todo o corpo, para usar a coordenação física desporto, artes cénicas ou plásticas, porque controla os movimentos do corpo e permite manipular os objectos com destreza), não é só a cinestésica (a habilidade para entender e responder adequadamente aos humores, temperamentos, motivações e desejos dos outros, constata-se nos psicoterapeutas, professores, políticos e apreende-se, inclusive, com técnica de vendas), não é só a interpessoal (habilidade para ter acesso a sentimentos, sonhos e idéias, para os discriminar e para lançar mão deles na solução dos problemas pessoais. Esta é a inteligência mais pessoal de todas, e observa-se através dos sistemas simbólicos das outras inteligências, ou seja, através de manifestações linguisticas, musicais ou cinestésicas), não é só a musical (capacidade em adquirir, compreender e dominar as expressões da linguagem colocando em acção a semântica e a beleza na construção da sintaxe. Pertence a escritores, romancistas, jornalistas, conferencistas e poetas. Expressa-se nas pessoas que cultuam a palavra e a construção de idéias verbais ou escritas. Consiste na capacidade de pensar com palavras e de usar a linguagem para expressar e avaliar significados complexos), mas é, sobretudo, a linguística (São duas as principais áreas corticais responsáveis pela linguagem. A área de Wernicke (lobo temporal do hemisfério esquerdo) é responsável pelo entendimento da linguagem e a organização das palavras. A área de Broca (giro pós-central do hemisfério esquerdo) cuida da articulação da fala, da produção da linguagem expressiva. Ainda contribuem para a linguagem a região têmporo-ocipto-parietal responsável pela organização gramatical e o hemisfério direito para criar o ritmo, entonação e fluxo da fala. (SPRINGER; DEUTSCH, 1993. p. 184-186). A área do cérebro, chamada Centro de Broca, é responsável pela produção de sentenças gramaticais. T.S.Eliot - o poeta, o crítico, o ensaísta, o dramaturgo - encarna uma das mais estranhas e poderosas permanências literárias de nossa época. Estranha, porque foi o escritor contemporâneo que mais conscientemente buscou, na tradição cultural do passado, o sentido de um tempo presente que, por estar em vias de o ser, fosse também futuro; poderosa, porque sua obra, a um só tempo clássica e moderna, revolucionária e reacionária, realista e metafísica, está na própria raiz que informa e conforma a mentalidade poética de nossos dias, tendo exercido fecunda e duradoura influência sobre todas as gerações que se formaram a partir de 1930 - Poesia , de T.S. Eliot, traduzido do original Collected Poems 1909-1962 , Editora Nova Fronteira, 1981 - "(...) Sigamos então, tu e eu, Enquanto o poente no céu se estende Como um paciente anestesiado sobre a mesa; Sigamos por certas ruas quase ermas, Através dos sussurrantes refúgios De noites indormidas em hotéis baratos, Ao lado de botequins onde a serragem Às conchas das ostras se entrelaça: Ruas que se alongam como um tedioso argumento Cujo insidioso intento É atrair-te a uma angustiante questão . . . Oh, não perguntes: Qual?“ Sigamos a cumprir nossa visita... (...)". Também Clarice Lispector - romancista, poetisa, cronista, contista, jornalista, - uma das personalidades mais excêntricas da literatura brasileira, de naturalidade ucraniana, deixou o seu nome marcado na literatura com a publicação de Perto do Coração Selvagem (1944), Água Viva (1973), A hora da Estrela (1977), contos como Laços de Família (1960), livros infantis como O Mistério do Coelho Pensante (1967), A Mulher que Matou os Peixes (1968). Uma obra eclética, em sua maioria, densa, de cunho existencialista, com estilo elíptico e fragmentário. "Dá-me a tua mão: Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. (...) DÁ-ME TUA MÃO (...) Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois factos existe um facto, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.". Ainda Carlos Drummond de Andrade "Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida. Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu. Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês. (...) NÃO DEIXE O AMOR PASSAR (...) Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor. Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR.“ Ah, o Amor!...se Ouvíssemos os Santos Poetas, não O Perderíamos,tão logo víssemos os sinas...". Francisco Buarque de Holanda, compositor, escritor, dramaturgo, cantor, com Roda Viva, Calabar, Gota D’Água, Estorvo, Beijamim, Budapeste, Construção, Cálice, Vai Passar, a Banda, Atrás da Porta, Mulheres de Atenas "Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue Como beber dessa bebida amarga Tragar a dor, engolir a labuta Mesmo calada a boca, resta o peito Silêncio na cidade não se escuta De que me vale ser filho da santa Melhor seria ser filho da outra Outra realidade menos morta Tanta mentira, tanta força bruta(...) CÁLICE Como é difícil acordar calado Se na calada da noite eu me dano Quero lançar um grito desumano Que é uma maneira de ser escutado Esse silêncio todo me atordoa Atordoado eu permaneço atento Na arquibancada pra a qualquer momento Ver emergir o monstro da lagoa (...) De muito gorda a porca já não anda De muito usada a faca já não corta Como é difícil, pai, abrir a porta Essa palavra presa na garganta Esse pileque homérico no mundo De que adianta ter boa vontade Mesmo calado o peito, resta a cuca Dos bêbados do centro da cidade (...) Talvez o mundo não seja pequeno Nem seja a vida um fato consumado Quero inventar o meu próprio pecado Quero morrer do meu próprio veneno Quero perder de vez tua cabeça Minha cabeça perder teu juízo Quero cheirar fumaça de óleo diesel Me embriagar até que alguém me esqueça."
Não era absolutamente devastadora uma voz destas no Parlamento?