Um dos meus maiores amigos enfrenta um problema humano que me sensibiliza especialmente. Depois de estranhar o comportamento do filho durante anos consecutivos sem obter uma explicação racional-científica para o facto, uma visita a uma fundação americana patrocinada por um outro meu amigo que se dedica ao estudo de várias "doenças" ainda pouco tratadas pela Medicina, no foro da psiquiatria, psicologia e da neurologia, desvendou o problema. O menino sofre do síndrome de Asperger. Inconsolável, cai numa depressão, absorvido pela nostalgia e pela tristeza, sem compreender as atitudes do filho. Trata-se de um sintoma que tem "amaldiçoado" aqueles que temos considerado os maiores génios da humanidade. De Einstein a Newton, de Van Gogh a Bill Gates, a obsessão e isolamento, que são os mais evidentes sinais desta doença, fez com que estes se tivessem sido notabilizado nas várias áreas. O comportamento de Bill Gates, dono da Microsoft e inventor do Windows, não passa despercebido nas reuniões: Balança-se mecanicamente para a frente e para trás na cadeira e faz o mesmo nos aviões. Não gosta de manter contacto olhos nos olhos e tem pouca habilidade social. (Thinking in Pictures, do médico norte-americano Temple Grandin, especialista em síndrome de Asperger).
Estes são outros dos sintomas da síndrome de Asperger. Fundamentalmente, é um problema de comunicação. Que leva a que, desde crianças, estas pessoas se foquem numa determinada área das artes ou das ciências e se tornem obsessivos. Uma fuga ao mundo com o qual têm dificuldade de interagir. São crianças inteligentes que dominam a linguagem e o vocabulário, mas que não os conseguem exteriorizar no contexto social.
Um dos casos mais extremos de Asperger será o do pintor holandês Vincent Van Gogh. Nascido em 1853, só vendeu um quadro em toda a vida. Em criança gostava de ficar sozinho e tinha dificuldade em relacionar-se. Os acessos de raiva eram frequentes e parecia estar sempre noutro mundo. Só descobriu o talento para a arte aos 27 anos e suicidou-se em 1890 sem ter conseguido cumprir o que se lhe pedia enquanto homem nessa época: constituir família e subsistir sozinho.
Outro é o de Albert Einstein, que só começou a falar aos três anos de idade (o que não o impediu de formular a teoria da Relatividade e de se tornar um génio, como relata a autora Illana Katz, no livro In a World of His Own: A Storybook About Albert Einstein, em que afirma que o alemão "era um solitário sem amigos que tinha receio de multidões"). Até aos sete anos repetia frases para si próprio. Em adulto, as suas aulas eram confusas e absorvia-se tanto nos problemas da física que esquecia o mundo à sua volta.
O estudo da vida destes homens, absolutamente invulgares e destacados da mediania, fez, contudo, que Glen Elliott, psiquiatra da Universidade de São Francisco (EUA), cheguasse a outras conclusões. Prevenindo que a solidão destes génios, por vezes confundidas com uma espécie particular de autismo, terá outras explicações. Como no caso do físico alemão, sobre o qual diz: "A impaciência com a lentidão intelectual dos outros, narcisismo e paixão por uma missão de vida pode tornar os indivíduos isolados e de difícil interacção." Até porque, segundo relatos da época, Einstein tinha bom sentido de humor, algo difícil de encontrar em alguém com avançado estado da síndrome de Asperger.
A mente humana é um Universo ainda com muito por explicar e a circunstância de se ter um ente querido com determinada patologia assusta-nos. Mas, julgo que essa tem de ser vista e sentida, não como uma "anormalidade", mas sim como gente "especial" - e neste caso, há quem defenda que excepcional - que carece da nossa melhor compreensão e sensibilidade. Até porque é dentro desta gente diferente que sobressaem os grandes homens e os grandes génios da Humanidade. E ter um entre mãos pode ser, sem dúvida, uma tarefa hérculea, senão mesmo, estóica. Nada na vida é a preto e branco, e, o que pode parecer um problema pode até vir a revelar-se uma benção. Assim, saibam os "normais" descobrir a chave para ajudar estes pequenos grandes homens a encontrarem a normalidade possível sem perder as potencialidades da sua excepcionalidade!