sábado, 30 de janeiro de 2010

Rei, República e res (coisas) publicas!


Um comentário breve acerca das mais recentes declarações do Duque de Bragança, a propósito dos €10 milhões destinados às comemorações da República. Diz que «Podemos, e estou de acordo, prestar uma homenagem ao idealismo dos homens que fizeram a Revolução de 5 de Outubro, nomeadamente a Carbonária, que era um movimento terrorista da época, mas eram idealistas dispostos a dar a vida pelas suas causas. Os líderes republicanos que tinham um ideal merecem uma homenagem, mas 10 milhões de euros acho um pouco demais». D. Duarte falava à margem do VII Almoço de Reis, em Santarém, promovido pela Real Associação do Ribatejo e que se realizou depois de uma reunião da direcção nacional da Causa Real, presidida por Paulo Teixeira Pinto. Que diz a Causa Real vai tomar uma «posição pública» sobre o dia 31 de Janeiro (dia escolhido para o início das comemorações oficiais do centenário da República). (Mas que já se demarcou da iniciativa do PPM que quer propor um referendo para saber se os portugueses preferem a monarquia ou a república) «Não temos que nos associar a iniciativas do PPM. No limite, o PPM é que poderia ter que se associar a iniciativas da Causa Real», rematou. (Ah! Como faz falta à Republica homens destes! Veemência e força de atitude. O Paulo tem tudo para ser um grande republicano, convenhamos) Duarte Nuno tem a consciência de que a Constituição proíbe outro regime que não o republicano, pelo que, primeiro, seria necessário fazer convergir para a causa monárquica dois terços dos deputados da Assembleia da República para "expurgar" do texto constitucional o artigo que declara inalterável a forma republicana, propondo Duarte que o mesmo fosse substituído pela expressão «é inalterável a forma democrática de Governo».
Vá sonhando! Não quererá por acaso fazer a vontade aos adeptos da causa fascista e retirar também a menção a "democrática"? Meu caro, acaso desconhece que as casas europeias vivem hoje em clima de regime constitucional e democrático?! Por essas e por outras é que a República aconteceu! Ora, o meu discurso sobe de tom quando dou graças a Deus por Duarte não ter lido o DL 17/2008, de 29.Janeiro, que prevê a criação da Comissão Nacional, já nomeada por decreto presidencial, de 9 de Junho, e, para esta, uma dotação orçamental de €10 milhões. Mais preocupante ainda seria se Duarte Nuno analisasse a fundo essa nova entidade empresarial que dá pelo nome de "Frente Tejo". A sociedade que vai intervencionar obras de grande volumetria, como a reabilitação e requalificação urbana na zona da Baixa Pombalina (na área entre o Cais do Sodré, Ribeira das Naus e Santa Apolónia), a reocupação parcial dos edifícios da Praça do Comércio e a reabilitação dos quarteirões da Avenida Infante D. Henrique (entre o Campo das Cebolas e Santa Apolónia), a reabilitação urbana no espaço público da zona da Ajuda-Belém (a construção de um novo Museu dos Coches e o remate do Palácio Nacional da Ajuda). A nossa preocupação não vai, pois, para a despesa dos €10 milhões, questão de dimensão mais ou menos diminuta face à sua proporção com outras dotações do OE - E, mais, basta o Duarte pensar quanto tem custado à Casa de Bragança sustentar a causa monárquica! - preocupa-nos sim que, mais ou menos a talhe de foice, a coberto do espiríto das comerações, se faça um investimento de €145 milhões (€56 milhões para a Baixa e 89 milhões para Ajuda-Belém).
Não têm de se justificar com qualquer outro pretexto os investimentos públicos nesta zona. A cidade quer e merece. Mas convenhamos que a causa republicana não pode ficar comprometida com as medidas excepcionais atribuídas à Sociedade Frente Tejo (€5 milhões de dotação orçamental). Ajustes directos para ter as obras prontas a tempo das comemorações do centenário da República! Veremos em que dará! Não haverá trabalhos a mais? Derrapagens de custos e prazos!?
Precisaria a República de associar a sua causa a empreitadas de obras públicas deste porte? Temos dúvidas! Temos, aliás, muitas dúvidas!
Esperamos que, à conta da República não se pretendam transformar as "portas" da Cidade, que é a maravilhosa baixa pombalina noutra Expo.
Estaremos atentos, Duarte de Bragança, porque muito mais assertivos do que Vossa Excelência, nós, os Republicanos, sabemos fazer justos à Causa Republicana e à Causa Carbonária a que pertenceram os nossos avós (a quem até o senhor, apesar de lhes chamar terroristas sempre que pode, reconhece uma imensa coragem!) e nada nem ninguém nos silenciará se esta nossa Lisboa e o País por que lutamos sofrerem a pretexto da República.
Enfim, ficam teatros, exposições, conferências, recriações históricas e um concerto de Rui Veloso, Pedro Abrunhosa, Rui Reininho e Sérgio Godinho (já hoje= a marcar positivamente o início das comemorações dos 100 anos da República Portuguesa (o espectáculo "4 Vozes para 100 Anos da República" encerra, no Coliseu do Porto, às 22h00, o programa do primeiro dia da celebração do centenário da República), com destaque para a entrada livre na Fundação de Serralves. A companhia Seiva Trupe, às 15h30, no Teatro do Campo Alegre, abre as comemorações, com a apresentação de "A Glorificação do Porto pelo Fervor Patriótico", o espectáculo «três em um» começa com a conferência "O 31 de Janeiro e a Implantação da República", prossegue com Ecos do 31 de Janeiro, uma teatralização da revolta do 31 de Janeiro, e termina com a peça Eu Sou a Minha Própria Mulher. Às 17h30, no Museu Nacional da Imprensa, é inaugurada a exposição A República na Imprensa - do Porto a Lisboa e, uma hora mais tarde, a Praça da Liberdade e a Praça da Batalha transformam-se no palco da recriação histórica da revolta portuense do 31 de Janeiro. Às 21h30, o Ateneu Comercial do Porto recebe a conferência «Como Construir a República no Século XXI», numa iniciativa da Associação Cívica e Cultural 31 de Janeiro.
Porque, meu caro Duarte, este Povo tem mesmo de festejar se pensar que Vossa Excelência, querendo-se preocupar com as despesas públicas não viu por detrás do pano e não se apercebeu que outras despesas que a cobro da República vão a remate, sobretudo quando são obras públicas, carecem de ser acompanhadas de perto. Não vá esquecerem-se os espíritos livres que estiveram por detrás da implantação dessa grande senhora que foi (e que é) a República e que ainda hoje nos inspira de bandeira desfraldada, arremessada, contra o vento, em prol de grandes mares, profeta de outras marés, sempre pela Liberdade!