terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Memória curta ou estratégia: Desméritos e condecorações

Em artigo do DN-Opinião, de 17, Pedro Marques Lopes, comenta a ideia, de Pedro Santana Lopes, de convocar um congresso extrardinário. Lembra que as últimas iniciativas do ex-líder do PSD não correram bem. Nem para ele nem para o PSD. Foi desde a ideia de formar um Governo, quando Jorge Sampaio era PR - o que constituiu um livre-trânsito perfeito para mais tarde a maioria absoluta se virar para Sócrates - , até à campanha falhada para a Câmara de Lisboa, passando pela derrota eleitoral nas legislativas de 2005 e pelo tentativa gorada de voltar a liderar o PSD. De todos os falhanços, já podia PSL concluir que, tanto os eleitores como os militantes sociais-democratas, não o querem de volta à política e muito menos a cargos políticos. Santana Lopes, diz o comentador, "quer se queira quer não, representa um passado que ninguém quer voltar a viver."
Fica, pois, a interrogação sobre quais serão as reais intenções do Pedro. Falamos das razões substantivas que levaram PSL a ser o mentor deste congresso extraordinário. Primeiro, o PSL defendia mudanças na forma de se eleger o líder. Em entrevista ao Expresso, admitiu que a reunião magna serviria - um "bocadito" - para tirar eventuais candidatos da toca. Num político de excelência, que quer ser PM - porque é isto que ele quer - esperar-se-ía que tivesse um projecto, um conjunto de ideias, para liderar os sociais-democratas. Mas Santana nem pensa nisso. A sua modéstia (falsa) impede-o. A não ser que ..., a meio do congresso, entre um semáforo vermelho e outro amarelo, seja assaltado por um apelo, mais ou menos divino, de missão: a de salvar o partido, na condição, óbvia, de ser ele a pilotá-lo. Aliás, por isso diz que precisa do congresso para fazer um balanço. Balanço ou baloiço? Com tiques de auditora, esolho o balanço. Mas esse foi já feito nas legislativas e o povo (incluindo militantes e simpatizantes do PSD) até lhe apresentou já o relatório. Ele é que não fez as contas! Mais sagaz, Ferreira Leite compreendeu-o quando decidiu não voltar a candidatar-se e marcar as directas.
Um congresso, nesta altura, não servirá para mais nada a não ser para prolongar a agonia da indefinição de que o partido sofre, alimentar as clivagens internas e aumentar o descrédito do partido juntos dos portugueses. Será mais uma manobra suicida do PSD, protagonizada pelo mesmo actor que já o levou, outras vezes, ao desastre. Aproveitarão para, em vez de brilhar na arena política, se perder em mais discussões internas, em lutas intestinais - a maior parte delas de carácter pessoal, enquanto o País se contorcirá ao ver mais um seu contributo para a ingovernabilidade, para a sua dissência na AR, para o adiamento da discussão do OE.
E, se no início, a direcção de MFL apoiou Santana, hoje remete-se a um silêncio equívoco. O PSD volta a ser o maior aliado do Governo, facilitando a vida a Sócrates e dificultando a reeleição de Cavaco Silva. Quem dentro do PSD acredita que este congresso servirá de mote para a redescoberta do caminho para a ascensão do partido? Ou sequer para pacificá-lo? Se os congressos servissem para isso o PSD estaria mais que pacificado - basta contar pelos dedos o número de congressos sociais-democratas nos últimos anos! PSL, conclui o comentador, "com esta iniciativa, está a prestar um mau serviço ao PSD e a contribuir para piorar o pouco saudável estado de um partido fundamental para a democracia portuguesa."
No conjunto de vozes dissonantes de Santana, figuram alguns dos maiores nomes do PSD. Morais Sarmento rejeita um congresso que discuta as directas tipo «Benfica-Sporting» e critica a oportunidade do momento para discutir a questão, deixando cair umas quantas verdades em jeito de aviso a PSL e aos aderentes desta ideia para «terem o cuidado e a reflexão que na altura não tiveram» e que conduziu à «irresponsabilidade colectiva» que foi a aprovação desse método de escolha do líder. Num comentário no programa «Falar Claro» da RR, o presidente do Conselho de Jurisdição do PSD revelou o seu cepticismo quanto à agenda do congresso extraordinário incluir as directas, considerando que ao discuti-las «como maneira de pensar que resolvemos e esgotamos o exercício de reflexão que colectivamente temos que fazer sobre um partido seria um segundo erro ainda maior do que foi o erro» da sua aprovação. «É bom que não absolutizem as certezas com que agora parecem vir se não depois arrependem-se outra vez». «Um congresso para discutir o modo de eleição do nosso líder, peço desculpa, mas, principalmente promovido por aqueles que são os primeiros responsáveis pelo erro em que estamos metidos, chega. Um congresso para discutir o posicionamento e a estratégia do partido, com certeza. Confundir isso ou resumir isso com mais uma questão de Benfica-Sporting, directas ou indirectas, para aqui ou para ali. Não. É outra vez camuflar, mistificar e brincar com questões que são, do ponto de vista da identidade, do futuro do partido, questões sérias e importantes», acrescentou. Para o político, a questão das directas não resolve os problemas do país e não é sequer essencial - e concordamos com ele, evidentemente. Morais Sarmento recorda-se de ver PSL, Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite e Alberto João Jardim a promoverem as directas que, na sua opinião, foram defendidas por «razões panfletárias» e «porque era popular dentro do partido». Couto dos Santos é outra voz contra. Diz que "o congresso só vem atrapalhar" e "trazer novamente para a baila aqueles que já estavam de parte e compram assim mais um palco". " ...é mais um instrumento daqueles que morreram e estavam nas cinzas, para tentarem renascer novamente". Também Mendes Bota acha que se trata de mais um "sintoma de ausência de liderança", e, mais importante que tudo, qualifica a hipótese inoportuna "O país está na crise económica e social em que está e o PSD vai fazer catarses colectivas, discutir estatutos e debates inconclusivos?"
Alheio às inqualidades que sempre apontou a PSL, Cavaco Silva condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo. Terá errado 2x o PR. Porque não entenderá o que é uma condecoração, ou seja, um «acto de simbolismo». E porque também não entenderá igualmente o específico «sentido» e «valor» daquela condecoração, em particular (e já não me refiro ao seu sentido esotérico). Duas consequências. Como foi Jorge Sampaio que dissolveu a Assembleia da República e que demitiu PSL, e, se este prestou altos serviços à Nação, «ponha-se um processo ao Dr. Sampaio», como diz Marinho Pinto. Segundo, na altura da demissão de PSL, Cavaco escreveu um artigo onde defendeu que os bons políticos (a boa moeda) deviam afastar os maus políticos (a má moeda).
Memória curta ou estratégia? É o que descobriremos por altura das presidenciais.