Numa muito recente reunião entre banqueiros e gente da alta finança, Fernando Ulrich, presidente do BPI, investiu contra o Banco de Portugal e contra o Governo: “Deixem-nos trabalhar!” Onde foi que já ouvi isto?!
Há pouco mais de um ano, os banqueiros organizaram-se e tornaram-se activistas de um movimento: a Anti-Economia. Os efeitos repercutiram-se no caos financeiro, nas sucessivas falências e no aumento do desemprego, fome.
Em Portugal, as coisas, nas lembranças mais actuais, começaram a correr muito mal.
Começa nas finanças, e lá p'rós lados do BCP, a que seguiu o BPN (uma maçada, porque foi um banco que regista a façanha de ter sido primeiro erguido, depois construído e finalmente destruído por ex-ministros de Cavaco Silva), depois o BPP de João Rendeiro (felizmente, que para demonstrar a nossa elevadíssima civilização, este, ao contrário de Madoff, pode passear-se na sua singela casinha Quinta Patiño).
Segue e soma na Justiça, com uma quieta impunidade endémica, uma justiça paralítica, e - para quem pode - contratando os mais caros advogados do País, assiste-se à eternização dos processos, ao adiamento dos julgamentos, a uma dolcevita garantida aos amigos do alheio, fenómeno cuja demonstração encontra o seu apogeu na (in)justiça dos banqueiros.
Completamente nas tintas para meio milhão de desempregados, o encerramento diário de fábricas, a falência em catadupa de pequenas e médias empresas, os bancos continuam a maravihar-nos, declarando lucros provocatórios e exorbitantes. Eu que sou optimista por natureza e cultivo o positivismo, fico extasiada. Nunca vi bancos anunciarem prejuízos. O que às vezes acontece é que, com lágrimas de crocodilo, declaram uma “diminuição de lucros”, até porque só esse anúncio já seria em si um enorme prejuízo.
Vem agora o Banco de Portugal tentou erguer-se, qual Quixote, contra a usura da banca nacional e fixar limites máximos para a cobrança de juros de empréstimos. Para o crédito pessoal o máximo são 19.6%. Para o crédito automóvel, 16,1%. E, para os cartões de crédito, 32.8%. (Sim, não é gralha, são mesmo 32,8%!) E ficámos muito contentes. É de peregrino. Esquecemo-nos de pensar, ou de ver, para o lado de cá. Quer uma ajudinha? Se um cidadão aplica uma poupança, num depósito a prazo, os bancos oferecem entre 0,5% a 1% ao ano! Aqui vai uma simulação: para 10 mil euros aplicados num depósito a prazo de 1 ano, ao fim de qual receberá a extraordinária quantia de ... entre 50 a 100 euros. Deduzindo, obrigatoriamente, 20% para o IRS, acaba por receber apenas entre 40 e 80 euros. Mas, como tem um cartão de crédito, vai pagando despesas também de 10 mil euros. Como paga um juro de 32,8%, o banco vai cobrar-me a módica quantia de 3.280 euros! Isto é, com os 10 mil euros – que depositou a prazo – o banco paga-lhe, de juros, um máximo de 80 euros. Mas, simultaneamente, cobra-lhe 3.280 euros pelos créditos da utilização do cartão. Em conclusão: com os seus 10 mil euros, o banco, arrecadou a módica quantia de 3.200 euros! “É fartar, vilanagem!”
Acompanhando usos de países como a França, a Alemanha ou a Inglaterra, o Governo propõe-se agora aplicar uma taxa sobre os “bónus” que os banqueiros recebem para além dos vencimentos, e que constituem uma espécie de comissão sobre os resultados conseguidos. Os valores destes “bónus” atingem montantes ... interessantes! No Reino Unido o valor da taxa vai ser de 50% sobre todos os prémios. Aqui, acreditamos que, como a Manuela defende, não devem ser os ricos a pagar a crise e que, sendo um país de brandos costumes, a taxa venha a ter um valor simbólico.
Ai. Que bem se vive neste País à beira-mar plantado! Sobretudo os banqueiros! Para o comum dos mortais resta acompanhar o pensamento de Álvaro de Campos "O que há em mim é sobretudo cansaço/Não disto nem daquilo,/Nem sequer de tudo ou de nada:/Cansaço assim mesmo,/ele mesmo,/Cansaço (...)! E ver o filme "Inimigos Públicos". E ouvir "Handel e seus inimigos". E lembrar-mo-nos que, para quem se assustou com a civilização demonstrada por Cavaco, em Belém, no Natal, aparentando um ar de trégua com o PM, ainda mais se assusta quando pensa na última do PR que é de, nem mais nem menos, condecorar Santana com a Ordem de Cristo (o que demonstra que deve estar muito mal informado sobre o simbolismo da medalha e sobre o que foi a Ordem). Eu assusto-me, confesso!
Parece que depois de se ter desapontado (ou de nós querermos acreditar que se desapontou) com Dias Loureiro, Cavaco se prepara para um novo desapontamento: o de Santana lhe demonstrar, por A + B, que não tem nada a ver com tal condecoração.
Públicos inimigos! A única razão que encontro para este gesto de Cavaco é que provavelmente tem para si o mote "Que Deus me salve dos amigos; dos inimigos, encarrego-me eu!" ou "Muitos inimigos, muita honra".
É bonito! Mas será que o PR desconhece que os perdões natalícios são episódios de Natal? Ou alguém o terá convencido que até no Carnaval se concedem perdões políticos? E se condecoram inimigos públicos? Por mim, acho que algum assessor devia dar ao PR um conselho de Estado: "já que perdoa o Pedro (a quem deve tantas mágoas) perdoe também o José". E mais. Santana e Sócrates podiam ser condecorados no mesmo dia. Porque se o José é inimigo de Cavaco, todos sabem que o Pedro é - muito mais e de há muito mais tempo - um "inimigo de estimação"!