Dando conta que o mundo, em certas coisas, parece ir de mal a pior, o Papa Bento XVI, provavelmente depois de trocar algumas impressões a propósito com um seu superior hierárquico, veio revelar os novos 6 pecados capitais, o que se compreende dado que os sete até agora vigentes foram fixados no século XVI - preguiça, orgulho, gula, luxúria, avareza, cólera e inveja - e, portanto, a precisar de revisão e interpretação actualística. Temos agora treze pecados capitais. «Se ontem o pecado tinha uma dimensão individualista, hoje possui uma ressonância principalmente social devido ao fenómeno da globalização», afirmou o Monsenhor Gianfranco Girotti, um dos responsáveis pelas questões de consciência da Igreja Católica (e eu ignorante a pensar que cada um de nós era responsável pela sua própria consciência fiquei agora a saber que o Vaticano delega estas preocupações neste Monsenhor: compreendi. Afinal, a Igreja é uma pessoa colectiva e, portanto, havia de ter alguém que se responsabilizasse pela sua própria consciência, o que, convenhamos, deve ser tarefa esgotante e fustigadora).
Mas as preocupações da Igreja em "actualizar" os pecados mortais e "renovar" a lista de situações que, sem arrependimento ou confissão, condenam a alma humana ao fogo eterno do inferno, tem muito mais a ver com um recente fenómeno que muito a preocupa: a diminuição das confissões. O que apenas podemos compreender por causa do aumento de psicólogos, psicoterapeutas e esta mania de querer que os amigos nos oiçam! Isto é, encontrámos novas formas de exorcizar os nossos demónios!
De qualquer forma, a partir de agora, consumir drogas (ansiolíticos, antidepressivos, chá preto, café e tabaco também?), poluir o ambiente (deitar lixo ou cuspir para o chão, não reciclar, andar de automóvel, viajar de avião, também?), praticar qualquer acto que gere desigualdade social (não dar preferência nas filas a grávidas e idosos, preferir secretárias a secretários ou motoristas a motoristas, ter empregada doméstica em vez de empregado doméstivo, um acto omissivo de um Governo que não legisle, também?), ser pedófilo (que nem comento porque o mero facto de andarem por aí livremente a confessar-se já é demasiado arrepiante!) ou praticar o aborto (que também não comento, porque pôr quem o pratica em pé de igualdade é já, de per si, demasiado atroz!) e praticar actos de manipulação genética (pelo que a Elsa Raposo vai ter de se confessar por ter feito inseminação e escolhido o sexo do feto, se bem que até entendo que deve ter mais uma série de pecados por que se confessar!) passam a constar da lista de novos pecados que podem custar o descanso eterno e que obrigam à redenção pela confissão. Ou confessa-se quem os pratica ou vai direitinho para o Inferno! Acho bem! Só pena que o segredo da confissão aqui cubra o que os padres vão ouvir, porque se pudessem colaborar com a justiça denunciando estes crimes seria muito mais interessante!
Depois de nos alertar para estes pecados que recentemente lhe foram comunicados por quem de Direito, Monsenhor Girotti denunciou, com grande preocupação, a crise que afecta o confessionário, citando o exemplo que vem de Itália, onde, actualmente, 60% dos fiéis não se confessam. Preocupava-me mais a avalanche de confissões a que todos estes pecados dariam azo, enchendo confessionários, abarrotando igrejas, que, in extremis, denunciaria uma outra crise: a falta de vocações para novos padres!