Se há coisa com que a Democracia nos abona diariamente é com a aprendizagem do exercício de se ser "politicamente correcto". Compreende-se que haja uma certa retracção na linguagem pelos que detém cargos públicos, já que a função em si se sobrepõe à pessoa em si, já não compreendo tão bem que se seja politicamente correcto para ficar bem visto e entrar na elite de um partido ou da política para se encaixar no "perfil" - coisa que serve para nomear e exonerar discricionariamente alguém num cargo público - dos escolhidos para o poder. Claro que já falo em "perfil" para não falar em "cunha", tal como falo em "cargo" para não falar em "tacho", o que significa que, mesmo sem ter consciência disso, já estou a ser politicamente correcta. Embora francamente julgue que não tenho o "perfil" e confesso que não estou minimamente interessada em "tachos".
Se, antes das actuais contenções orçamentais sobre promoções, quem fosse politicamente incorrecto pagava a preço de uma carreira de “cepa torta”, fora os casos dos que são estrategicamente "emprateleirados", hoje qualquer aleivosia mais ou menos atrevida que caia mal às chefias justifica a mobilidade “especial”, e com algum talento jurídico politicamente sufragado, até o despedimento.
Portanto, fica a saber-se que, por conveniência, qualquer um, que, a qualquer título contratual, mantenha uma ligação com o Estado, deve preparar-se para - engolir sapos, tomar chá de camomila ou um vallium 10 - ser politicamente correcto. Razão pela qual muitas pessoas de reconhecido mérito se afastam da política. E, dado que tenho mau feitio e pouca predisposição para engolir sapos - a não ser pernas de rã fritas - e não estou para me enfrascar em litros de chá - até porque normalmente tenho chá suficiente porque o tomei em pequenina em doses substanciais, - e, muito menos, sou dada a antidepressivos e calmantes - até porque nunca me apetece estar "calma" quando a isso me obrigam.
Vale a pena lembrar que a linguagem politicamente correcta surgiu nos Estados Unidos, berço da Democracia, mas com uma longa tradição de preconceitos: entre o país de Thomas Jefferson existiu também o país da Ku Klux Klan. Um negro era um nig.ger, um judeu, um ki.ke...
Com o “Politicamente Correcto” pretendia-se erradicar expressões pejorativas, discriminatórias, sexistas e racistas, substituindo-as por um discurso único, consensual, apaziguador de conflitos sociais. Recorre-se então a eufemismos: “pessoa de cor” refere-se a “pessoas de raça negra” ou a “negros”. Os americanos usam o famoso termo “afro-americano”.
Portanto, fica a saber-se que, por conveniência, qualquer um, que, a qualquer título contratual, mantenha uma ligação com o Estado, deve preparar-se para - engolir sapos, tomar chá de camomila ou um vallium 10 - ser politicamente correcto. Razão pela qual muitas pessoas de reconhecido mérito se afastam da política. E, dado que tenho mau feitio e pouca predisposição para engolir sapos - a não ser pernas de rã fritas - e não estou para me enfrascar em litros de chá - até porque normalmente tenho chá suficiente porque o tomei em pequenina em doses substanciais, - e, muito menos, sou dada a antidepressivos e calmantes - até porque nunca me apetece estar "calma" quando a isso me obrigam.
Vale a pena lembrar que a linguagem politicamente correcta surgiu nos Estados Unidos, berço da Democracia, mas com uma longa tradição de preconceitos: entre o país de Thomas Jefferson existiu também o país da Ku Klux Klan. Um negro era um nig.ger, um judeu, um ki.ke...
Com o “Politicamente Correcto” pretendia-se erradicar expressões pejorativas, discriminatórias, sexistas e racistas, substituindo-as por um discurso único, consensual, apaziguador de conflitos sociais. Recorre-se então a eufemismos: “pessoa de cor” refere-se a “pessoas de raça negra” ou a “negros”. Os americanos usam o famoso termo “afro-americano”.
Mas o problema é que o politicamente correcto criou terminologias artificiais e ridículas que, com o uso, adquiriram novas conotações negativas e tiveram de ser reformuladas com outros readaptados eufemismos. Ao fim e ao cabo, tudo não passa de um exercício de cosmética linguística.
Alguns exercícios eufemísticos ficaram registados: não se diz “trabalhadores”, mas sim “trabalhadoras e trabalhadores” (o feminino sempre em primeiro lugar!), para fazer passar uma mensagem defensora da igualdade de género - apesar de, para mim, ter o efeito contrário, já que a gramática portuguesa contempla o plural masculino para agregar um grupo com por pessoas de ambos os sexos - .
Alguns exercícios eufemísticos ficaram registados: não se diz “trabalhadores”, mas sim “trabalhadoras e trabalhadores” (o feminino sempre em primeiro lugar!), para fazer passar uma mensagem defensora da igualdade de género - apesar de, para mim, ter o efeito contrário, já que a gramática portuguesa contempla o plural masculino para agregar um grupo com por pessoas de ambos os sexos - .
Em tempos de intervenção armada, não se fala em guerra, mas em libertação, muito menos em invasão.
No contexto laboral , a expressão promoção horizontal significa que foram alteradas as funções do trabalhador, mas que este não sobe na hierarquia. Isto sem falar no sentido vulgar que se dá à expressão "subir na horizontal".
Em economia, fala-se em crescimento negativo e não em crise.
A uma pessoa casada com actividade sexual paralela chama-se adúltero.
Uma pessoa verticalmente desfavorecida (“vertically chanllenged”) é alguém de baixa estatura; horizontalmente desfavorecida, se não obedecer aos padrões de elegância exigíveis. Cerebralmente desfavorecido ….e por aí diante.
Ora, por não se tolerarem os golpes de asa dos politicamente incorrectos continuamos vergados ao cinzentismo, ao conformismo, aos yes-man, e segue-se o rodopio de cadeiras em que as personagens são as mesmas e só trocam as pastas (do género pataca a mim pataca a ti).
Ora, por não se tolerarem os golpes de asa dos politicamente incorrectos continuamos vergados ao cinzentismo, ao conformismo, aos yes-man, e segue-se o rodopio de cadeiras em que as personagens são as mesmas e só trocam as pastas (do género pataca a mim pataca a ti).
Nos tempos em que exerci funções em gabinetes ministeriais, era certo e sabido que, quando a asneira era grossa, só restava uma saída politicamente correcta: a do pontapé para cima. Era-se promovido de chefe a director, de adjunto a chefe de gabinete, de Secretário de Estado a Ministro, sem esquecer o último reduto de muitos dos indesejáveis: Bruxelas.
Nunca me esqueço de uma experiência pessoal. Estava como adjunto de um alto cargo dirigente e assisti às reuniões em que se escolhiam as chefias. À volta de uma mesa de chefias, discutia-se quem se escolheria para ser promovido a chefe. Veio à baila um nome de um colega reconhecidamente competente e com um excelente desempenho, e logo se indignou um dos dinossauros-chefes e sai-se com este: “Esse? Nem pensar. Esse tipo trabalha bem. Já “x” é melhor para ”coordenar”!” E o dito lá foi politicamente correcto nomeado num abrir e fechar de olhos!
Ora, convenço-me que não há revolução que chegue para alterar o status quo vigente em muitos serviços e organismos do Estado (ou seja, a mentalidade de quem o corporiza) e que poucos ousam dar-se ao luxo de criticar, já que as chefias não apreciam, em regra, o arrojo, e vêem com olhos suspeitos quem tem novas ideias e sugere alterações ou inovações e as novas mentalidades!
Ora, convenço-me que não há revolução que chegue para alterar o status quo vigente em muitos serviços e organismos do Estado (ou seja, a mentalidade de quem o corporiza) e que poucos ousam dar-se ao luxo de criticar, já que as chefias não apreciam, em regra, o arrojo, e vêem com olhos suspeitos quem tem novas ideias e sugere alterações ou inovações e as novas mentalidades!
Será essa meritosa falta de capacidade para inovar que justifica a nomeação de políticos na casa dos sessenta, que, apesar de terem feito figuras tristes nos cargos públicos, são, abrupta e inacreditavelmente (creio que até os próprios se surpreendem com tanta injustificada generosidade) promovidos para outro, ainda mais pomposo, "digno" e "gratificante", como se tivessem feito uma lipoaspiração cerebral e lhes tivesse sido retirada toda a massa encefálica que estava “menos bem” (expressão, de resto, politicamente correcta).
Por muito que queira ser politicamente correcta - e, por acaso (ou não), nunca o fui e muito menos pretendo agora começar a sê-lo - só me lembro de dizer: Em “politicamente correcto”: Que teimosia! Que impróprio! Que desadequado!”. E em “politicamente incorrecto": “Larguem esse velho osso e deixem essa besta (ou asno se for mais light) ir à vida! Raios partam!”
Por muito que queira ser politicamente correcta - e, por acaso (ou não), nunca o fui e muito menos pretendo agora começar a sê-lo - só me lembro de dizer: Em “politicamente correcto”: Que teimosia! Que impróprio! Que desadequado!”. E em “politicamente incorrecto": “Larguem esse velho osso e deixem essa besta (ou asno se for mais light) ir à vida! Raios partam!”