"Cerremos esta porta.
Devagar. devagar, as roupas caiam
Devagar. devagar, as roupas caiam
Como de si mesmos se despiam deuses,
E nós o somos, por tão humanos sermos,
É quanto nos foi dado: nada.
Não digamos palavras, suspiremos apenas
Porque o tempo nos olha.
Alguém terá criado antes de ti o sol,
E a lua, e o cometa, o negro espaço,
As estrelas infinitas.
Se juntos, que faremos? O mundo seja,
Como num barco no mar, ou o pão na mesa,
Ou rumuroso leito.
Não se afastou o temo. Assiste e quer.
É já pergunta o seu olhar agudo
À primeira palavra que dizemos:
Tudo." (in Poesia Completa, Alfaguara, pág. 636-637)