domingo, 27 de junho de 2010

"O meu apoio a Manuel Alegre é natural" - Jorge Sampaio


O MIC reproduz a entrevista de Jorge Sampaio ao DN.
Diz JS que “o meu apoio a Manuel Alegre é natural e outra coisa não seria de esperar pois pertencemos à mesma família política. Fizemos parte da mesma geração de oposição ao regime, trilhei com ele um caminho comum na defesa da consolidação da democracia portuguesa, designadamente no trabalho parlamentar e em vários desafios partidários. Partilhamos princípios e inquietações sobre o progresso e a dignidade do homem e compartimos semelhantes exigências por um mundo mais justo e solidário.”
P: Alegre anunciou cedo a sua candidatura ou o PS é que apoiou tarde?
R: A relatividade do tempo faz parte do caleidoscópio da vida.
P: A atitude de Mário Soares está de acordo com a estatura histórica?
R: Não costumo fazer esse tipo de juízos de valor.
P: O PS ficou sem Mário Soares após apoio dado a Alegre?
R: Não dei por nada.
P: A aprovação pelo Presidente do casamento gay será motivo para haver um segundo candidato à direita?
R: Constata-se que assim o pensam algumas pessoas.
P: A candidatura suprapartidária de Fernando Nobre tem viabilidade?
R: Os obstáculos a superar são consideráveis, mas que uma candidatura seja suprapartidária não significa que seja apolítica.
P: Cavaco Silva recandidata-se?
R: Por que não haveria de o fazer?
P: À luz dos mandatos, como analisa a crispação entre Sócrates e Cavaco?
R: Em primeiro lugar, a crispação a que se refere é uma dedução sua. Não sei se existe crispação, mas também não me parece que seja o elemento-chave. É óbvio que, como na vida em geral, em tempo de dificuldades é sempre mais difícil gerir emoções ou mesmo diferenças de pontos de vista, por isso a qualidade suprema a cultivar é, sem dúvida, a da paciência…A meu ver, no caso referido, o que importa é o entendimento institucional, que é indispensável num país em crise.
P: Crê que Cavaco Silva vai fazer no 2º mandato o mesmo que fez: demitir o governo?
R: A história nuca se reproduz, embora as reacções tendam a repetir-se. Dito isto, deixe-me fazer uma precisão: em termos constitucionais, o Governo não é politicamente responsável perante o Presidente. E este só pode demitir o Governo quando se trate de garantir o regular funcionamento das instituições. Em abono do rigor, lembro-lhe que eu não demiti o Governo: dissolvi a Assembleia, a qual inevitavelmente acarretaria, depois, a queda do Governo.
P: O que pensa do mandato de Cavaco?
R: Sobre o Presidente da República, eu tenho sempre a mesma atitude que tiveram para comigo. Respeito o exercício de todos os presidentes, acho que é essencial à nossa democracia preservar o exercício do que foram as actividades exigentes de um presidente da República. Tenho até tido todo o apoio do Presidente nas minhas iniciativas e não tenho mais nada a comentar, porque também não comentaram sobre mim, com uma única excepção, em 2004.
P: Mas o Presidente fez um comentário à sua insatisfação com a qualidade da democracia…
R: Está no activo e pode partilhar o que quiser. Eu não posso partilhar ou despartilhar. Tenho essa regra.
P: Disse que “os portugueses devem relativizar a crise. Há países a sofrer mais.” Até quando os governos passam sem resolver o problema?
R: A solução dos problemas de um país não passa só pelo Governo mas também pelo conjunto das sociedades. A capacidade de gerar compromissos horizontais, constituir plataformas de entendimento e criar dinâmicas de concertação é indispensável para reformar. Mas é decisiva a capacidade política para reunir um leque vasto de apoios ou o ímpeto reformista chocará sempre contra os interesses particulares, que não conseguirá remover.