Uma fortaleza fechada raramente é sinónimo de integração. Sugiro, pois, uma verdade mais incómoda. Os outros países há muito que se ressentem da intromissão moralizante ocidental, e arranjaram agora coragem para deitar abaixo uma Europa cuja influência global já não é encarada como uma certeza. Como exemplo das limitações do nosso “soft power”, quando pergunto a pessoas de qualquer parte do mundo o que significa para elas “Europa”, surpreende-me sempre a pouca frequência com que mencionam a democracia social ou os direitos humanos, ou mesmo a “boa vida”. As respostas de longe mais comuns são memórias da dominação colonial europeia e uma noção muito forte de um autoconvencimento de superioridade dos europeus. Quando os europeus fizeram história em 1918, 1945 e 1989, o resto do mundo ainda os recorda por 1842, 1857 e 1884, e assim vai ficar para sempre. Houve muitas oportunidades para ultrapassar esse passado, mas muitos encaram a Europa como uma fortaleza fechada, que oferece poucas oportunidades de integração ou de inovação.
Pode a Europa libertar-se deste passado? A resposta é sim, mas se for para a Europa se tornar no líder multilateralista que desejamos que seja, é urgente uma mudança de imagem. A primeira etapa seria projectar uma imagem mais inclusiva, de um continente aberto a novas pessoas e ideias. Nos Estados Unidos, a eleição do filho de um queniano para a Presidência pode ter feito pouco para apagar as desigualdades internas do país; mas, de uma penada, permitiu ao país reinventar-se e renovar-se como nação global. A Europa tem emigrantes bem sucedidos, mas é um facto triste ter havido mais diversidade étnica no Politburo de Estaline do que na actual Comissão Europeia. Em segundo lugar, podemos tentar contar uma história coerente ao mundo exterior. A nossa preferida é uma narrativa muito cristã de queda e redenção, uma história sobre um continente devastado por séculos de guerra e conquista que, depois do desastre de 1945, decidiu fazer a paz consigo mesmo e acabar com as suas ambições coloniais.
Se conseguíssemos contar esta história de forma credível, a União Europeia poderia transformar-se no líder multilateral a que aspira. Mas sempre que temos de encarar o mundo exterior, a máscara não pára de deslizar; e lá aparecem as velhas rivalidades e maquinações nacionais, feias e a sobrar pelas bordas. Quando chega o momento de reformar o Conselho de Segurança das Nações Unidas ou de votar direitos nas instituições de Bretton Woods, enterramos a cabeça na areia. Sinceramente, acho que os alemães não se dão conta do ridículo a que se sujeitam ao exigir mais um lugar europeu no Conselho de Segurança, quando a Índia ainda não está lá representada. Do mesmo modo, muito tem sido feito em matéria de segurança e de política estrangeira comum na Europa, mas nas missões em África – a única intervenção substantiva fora da Europa –, é difícil iludir as maquinações pós-coloniais dos interesses franceses, belgas e britânicos. (Presseurope)
Pode a Europa libertar-se deste passado? A resposta é sim, mas se for para a Europa se tornar no líder multilateralista que desejamos que seja, é urgente uma mudança de imagem. A primeira etapa seria projectar uma imagem mais inclusiva, de um continente aberto a novas pessoas e ideias. Nos Estados Unidos, a eleição do filho de um queniano para a Presidência pode ter feito pouco para apagar as desigualdades internas do país; mas, de uma penada, permitiu ao país reinventar-se e renovar-se como nação global. A Europa tem emigrantes bem sucedidos, mas é um facto triste ter havido mais diversidade étnica no Politburo de Estaline do que na actual Comissão Europeia. Em segundo lugar, podemos tentar contar uma história coerente ao mundo exterior. A nossa preferida é uma narrativa muito cristã de queda e redenção, uma história sobre um continente devastado por séculos de guerra e conquista que, depois do desastre de 1945, decidiu fazer a paz consigo mesmo e acabar com as suas ambições coloniais.
Se conseguíssemos contar esta história de forma credível, a União Europeia poderia transformar-se no líder multilateral a que aspira. Mas sempre que temos de encarar o mundo exterior, a máscara não pára de deslizar; e lá aparecem as velhas rivalidades e maquinações nacionais, feias e a sobrar pelas bordas. Quando chega o momento de reformar o Conselho de Segurança das Nações Unidas ou de votar direitos nas instituições de Bretton Woods, enterramos a cabeça na areia. Sinceramente, acho que os alemães não se dão conta do ridículo a que se sujeitam ao exigir mais um lugar europeu no Conselho de Segurança, quando a Índia ainda não está lá representada. Do mesmo modo, muito tem sido feito em matéria de segurança e de política estrangeira comum na Europa, mas nas missões em África – a única intervenção substantiva fora da Europa –, é difícil iludir as maquinações pós-coloniais dos interesses franceses, belgas e britânicos. (Presseurope)