domingo, 16 de agosto de 2009

Os que vão (há quem venha depois?)

Segundo refere a TVi24.iol.pt
As próximas eleições autárquicas de 11 de Outubro marcarão a despedida de diversos «dinossauros» autárquicos, muitos dos quais no poder desde 1974 e que por imposição legal, decorrente da entrada plenamente em vigor da Lei nº 46/2005, que limita os mandatos dos presidentes de Câmara e de Junta.
É o que acontecerá com o presidente da Câmara de Vila Nova de Poiares, Jaime Soares (PSD), em exercício desde o 25 de Abril de 1974, que mostra grande revolta com o facto de não haver, igualmente, uma lei como esta, que é «um atentado à democracia», para a limitação dos mandatos de deputados, porque, segundo ele, "Não lhes dava jeito, não é?». Não lhes dava jeito, mas o senhor sabe lá, e isso eu própria presenciei, quando tive oportunidade de fazer parte do gabinete do Secretário-Geral da AR, no mandato do Prof. Barbosa de Melo, o corropio que é servir no Parlamento! Há lá maior azáfama! Valha aos pobres coitados a pensão vitalícia de que podem usufruir por ter carregado tão pesado ónus! Graças a Deus, que, como ao tempo verifiquei, nem todos os senhores deputados aparecem, ou não aparecem todos os dias, e outros, cujas fotografias admirava no pequeno caderninho que continha as suas interessantíssimas biografias e currículos difíceis de equiparar, tal era a multiplicidade de saberes académicos e outros, tantos e tão vastos, que, presumo, para não envergonharem o comum dos mortais, era reduzida a dois três parágrafos, quatro cinco linhas, e aí tranquilizáva-mo-nos (afinal todos um dia poderíamos ser deputados!).
Já o presidente da Câmara Municipal de Benavente, António José Ganhão (CDU), no cargo desde 1979, afirmou «não ter o sentimento» de que a lei seja «justa, correcta e adequada»: «Acho que quem limita os mandatos é o povo.» É óbvio, Senhor Presidente, mas parece que causava grande transtorno aos cofres do Estado pôr tanta gente a limitar os mandatos, até porque disso ainda poderiam fazer actividade liberal (limitar fisicamente, obstruindo a entrada? ou limitar porque sim?, sei lá, promovendo grandes manifestações, executando o cárcere privado do próprio, ou então como?). Por isso se inventou este mito, senhor presidente, de que o Parlamento representa o povo, como se fosse um cabeça-de-casal ou um seu mandatário. Ora, como foi este que criou tal lei, a verdade, acredite o senhor ou não, é que há quem acredite que, afinal quem fez a lei foi ... o povo. Complexo isto da democracia, não? Por certo, que já de pantufinhas em casa se poderá entregar a tais pensamentos filosóficos e compreenderá. Acredite, bem pensada a coisa até nem é muito difícil de entender.
Ao que parece também Mesquita Machado (PS), presidente da Câmara de Braga, Mário Almeida (PS), autarca de Vila do Conde, e António Bugalho (CDU), presidente da autarquia de Sobral de Monte Agraço, são outros «dinossauros» do poder local que se despedem de cena com as eleições autárquicas de 11 de Outubro. Oxalá tenham entretanto encontrado alguma actividade lúdica a que se possam entregar, senão o risco de cairem em depressão é considerável. É que o poder nunca se estranha mas entranha-se com uma facilidade. Vai uma pessoa ao café ou à mercearia do Bairro e, ou se dá ao trabalho de explicar que vai-se a cadeira mas fica o título, ou deixar de ser o senhor presidente e passar a ser o Zé, o Tó e tal, deve ser doloroso. Será que ainda dão pelo nome? Se fosse a eles nem respondia. Oferece uma pessoa uma vida inteira ao serviço público e depois é relegado como um trapo, uma ex ou um ex, para terceiríssimo plano. Mais Calimeros, ele há lá justiça!
Quem não volta em 2013, são cerca de 200 presidentes de Câmara que se encontram actualmente no poder e que, apesar do sacrifício, se prestaram dada a escassez de missionários, a concorrer às autárquicas deste ano. Estes, porém, estão mais satisfeitos, é a última vez que o País lhe pode exigir uma penitência destas porque já não poderão recandidatar-se em 2013. Jesus do Céu, oxalá entretanto mudem a Lei! Como vai sobreviver o povo? São perdas irreparáveis, imagine-se o complexo de órfão que estes municípios sentirão. Quererão quiçá mudar de nome ou até de sítio. É que a saudade .... mata.
Dos 308 presidentes da Câmara actualmente no poder, 191 recandidatam-se em 2009, mas, em caso de nova vitória, não poderão ir a votos em 2013, por concorrerem este ano pelo menos a um terceiro mandato.
Rui Rio (PSD), no Porto, Joaquim Raposo (PS), na Amadora, Fernando Seara (PSD), em Sintra, Fernando Ruas (PSD), em Viseu, Maria Emília de Sousa (CDU), em Almada, têm a última oportunidade de ir a votos.
E diz a TVi24, que também os independentes Isaltino Morais (Oeiras), Valentim Loureiro (Gondomar) e Fátima Felgueiras (Felgueiras) são autarcas que têm no sufrágio deste ano a última possibilidade de ir a votos.É o fim da festa! Estou crente que todos ensaiarão riquissimas biografias, para que haja díscipulos e seguidores senão é uma perda de saber que os seus sucessores levarão anos e anos a apanhar o jeito à coisa. Oxalá deixem guias, receituários, manuais!
Carlos Encarnação (PSD), em Coimbra, António Capucho (PSD), em Cascais, Isabel Damasceno (PSD), em Leiria, e Ana Cristina Ribeiro (BE), em Salvaterra de Magos, são outros autarcas que vão também pela última vez a sufrágio este ano.
Vai ser um queimar de pestanas a arranjar sucessores, parece que ninguém aparece, que não há voluntários, eu, por mim, para que a Democracia continue, das duas uma: não se dá de escolher aos rapazes, é o vai você e você mesmo e nem pio ou sorteia-se pelos rapazes que ainda não estiverem colocados em empresas públicas, ou altos cargos da Administração Pública e explica-se-lhes que alguém tem de trabalhar e que chegou a vez deles, que, arre!, os outros já não têm mais resistência física, se têm de entregar aos seus projectos pessoais, dar atenção às famílias, se já perderam uma ou duas, paciência, arranjem-se outras.
Preocupa os partidos e todos nós! Não se vê gente que queira assumir tão ingratas funções! Mas valha-nos Deus nem todos podemos ser cidadãos livres e descomprometidos e ter o prazer de nos entregar às coisas mais terra-a-terra. Alguém tem de ser sacrificado! É começarem já os partidos a escolher os tipos, marcá-los, e dar-lhes desde agora o catequismo, a educação, o sentido de abnegação, de entrega.