Do vale à montanha, Da montanha ao monte, Cavalo de sombra, Cavaleiro monge, Por casas, por prados.
Por quinta e por fonte, Caminhais aliados.
Do vale à montanha, Da montanha ao monte, Cavalo de sombra, Cavaleiro monge, Por penhascos pretos, Atrás e defronte, Caminhais secretos.
Do vale à montanha, Da montanha ao monte, Cavalo de sombra, Cavaleiro monge, Por plainos desertos Sem ter horizontes, Caminhais libertos.
Do vale à montanha, Da montanha ao monte, Cavalo de sombra, Cavaleiro monge, Por ínvios caminhos, Por rios sem ponte, Caminhais sozinhos.
Do vale à montanha, Da montanha ao monte, Cavalo de sombra, Cavaleiro monge, Por quanto é sem fim, Sem ninguém que o conte, Caminhais em mim.
Análise simbólica do poema
Do Vale à Montanha é um poema isotérico e iniciático de Fernando Pessoa, datado já da fase mais tardia da sua produção literária (1932).
O interesse de Pessoa pelo esoterismo surge por volta de 1915, tempo em que escreve ao seu amigo Mário de Sá-Carneiro, e lhe fala da filosofia teosófica, chegando a traduzir para Português vários livros desta religião-filosofia.
Em elucidativa passagem na famosa "carta dos heterónimo", Pessoa diz acreditar em "mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em experiências de diversos graus de espiritualidade". É conhecedor das teorias ocultistas, tendo na sua biblioteca diversos livros sobre o assunto, assim como sobre organizações maçónicas e espirituais, como a sociedade Rosa Cruz.
Quanto ao poema "Do vale à Montanha", ele tem uma estreita relação com outro poema esotérico do poeta chamado "Na sombra do Monte Abiegno". Aliás, há quem defenda (António Quadros) que os poemas esotéricos de Pessoa estão interligados entre si, numa rede iniciática na busca interminável do conhecimento oculto por parte de Fernando Pessoa.
"Na sombra do Monte Abiegno", Pessoa fala de um monte que liga o mundo terreno ao mundo divino, a montanha sagrada que dá acesso ao conhecimento proibido e vedado aos mortais. O caminho para o topo do monte, como em muitos sitios rituais até da cristandade, assemelha-se a um processo iniciático, que filtra aqueles que têm realmente vontade ou não da ascenção ao conhecimento absoluto. Trata-se, é certo de uma metáfora, porque na verdade a ascenção é interna, tanto como externa. O monte é um simbolo e a ascenção outro.
Em "Do vale à Montanha", o tema é retomado, tendo por base as novelas de cavalaria, tão em moda nos tempos medievais. O "cavaleiro-monge" remete-nos à imagem dos cavaleiros templários - monges e simultâneamente soldados. O poema descreve um percurso iniciático, cheio de obstáculos, que o cavaleiro-monge e o cavalo de sombra percorrem. Mas ele diz: "caminham secretos", "sozinhos", "em mim". Ou seja, reforça-se que Pessoa fala de um rito de iniciação, de um caminho, de o acesso a uma verdade vedada ao comum dos mortais. É o conhecimento absoluto, verdade secreta guardada pelos iniciados, porque apenas por eles pode ser compreendida e aceite. Lembre-se que o percurso é uma fase essencial do processo esotérico - as referências ocultas referem sempre o "processo da obra" ou "os passos da obra", referindo-se à maneira como os elementos são processados pela alquimia, na busca final do ouro espiritual. Tudo são simbolos e os elementos neste caso é a própria alma do poeta.
Pensamos que Pessoa tem de Deus uma noção quase objectiva, à semelhança dos gnósticos. Pessoa acredita no acesso a Deus, iniciando-se nos seus mistério e e não o vê feito de um elemento diferente do elemento humano, apenas superior, mais espiritual, avançado.
Em resumo diriamos que o poema "Do vale à Montanha" representa mais um passo no conhecimento oculto de Fernando Pessoa e deve ser lido em conjunto com os outros poema esotéricos. Citando alguns: "Além-Deus", Os Passos da Cruz", "Á sombra do monte Abiegno", "Magnificat".
Nele Pessoa, usando uma personagem de dupla dimensão (sombra e cavaleiro-monge) usa de metáforas para acentuar a necessidade do ritual para acesso ao conhecimento oculto. Sobretudo reforça a necessidade da solidão e do sofrimento - eles (que são só um), caminham sozinhos, caminham libertos, caminham dentro dele. O título do poema faz-nos pensar num poema da Mensagem intitulado "Ascensão de Vasco da Gama", onde Pessoa fala também de um vale. Diz ele: "Pelo vale onde se ascende aos céus". Este vale poderá ser o vale mitíco, falado na Biblia, o vale de Josafá onde iria decorrer o juízo final? Não sabemos.
Intuimos que o vale e a montanha poderão ser respectivamente o vale de Herdemos na Escócia e o monte Abiegno.
Duas referências ocultas documentadas na obra do esotérico Werner, que Pessoa leu.
Por quinta e por fonte, Caminhais aliados.
Do vale à montanha, Da montanha ao monte, Cavalo de sombra, Cavaleiro monge, Por penhascos pretos, Atrás e defronte, Caminhais secretos.
Do vale à montanha, Da montanha ao monte, Cavalo de sombra, Cavaleiro monge, Por plainos desertos Sem ter horizontes, Caminhais libertos.
Do vale à montanha, Da montanha ao monte, Cavalo de sombra, Cavaleiro monge, Por ínvios caminhos, Por rios sem ponte, Caminhais sozinhos.
Do vale à montanha, Da montanha ao monte, Cavalo de sombra, Cavaleiro monge, Por quanto é sem fim, Sem ninguém que o conte, Caminhais em mim.
Análise simbólica do poema
Do Vale à Montanha é um poema isotérico e iniciático de Fernando Pessoa, datado já da fase mais tardia da sua produção literária (1932).
O interesse de Pessoa pelo esoterismo surge por volta de 1915, tempo em que escreve ao seu amigo Mário de Sá-Carneiro, e lhe fala da filosofia teosófica, chegando a traduzir para Português vários livros desta religião-filosofia.
Em elucidativa passagem na famosa "carta dos heterónimo", Pessoa diz acreditar em "mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em experiências de diversos graus de espiritualidade". É conhecedor das teorias ocultistas, tendo na sua biblioteca diversos livros sobre o assunto, assim como sobre organizações maçónicas e espirituais, como a sociedade Rosa Cruz.
Quanto ao poema "Do vale à Montanha", ele tem uma estreita relação com outro poema esotérico do poeta chamado "Na sombra do Monte Abiegno". Aliás, há quem defenda (António Quadros) que os poemas esotéricos de Pessoa estão interligados entre si, numa rede iniciática na busca interminável do conhecimento oculto por parte de Fernando Pessoa.
"Na sombra do Monte Abiegno", Pessoa fala de um monte que liga o mundo terreno ao mundo divino, a montanha sagrada que dá acesso ao conhecimento proibido e vedado aos mortais. O caminho para o topo do monte, como em muitos sitios rituais até da cristandade, assemelha-se a um processo iniciático, que filtra aqueles que têm realmente vontade ou não da ascenção ao conhecimento absoluto. Trata-se, é certo de uma metáfora, porque na verdade a ascenção é interna, tanto como externa. O monte é um simbolo e a ascenção outro.
Em "Do vale à Montanha", o tema é retomado, tendo por base as novelas de cavalaria, tão em moda nos tempos medievais. O "cavaleiro-monge" remete-nos à imagem dos cavaleiros templários - monges e simultâneamente soldados. O poema descreve um percurso iniciático, cheio de obstáculos, que o cavaleiro-monge e o cavalo de sombra percorrem. Mas ele diz: "caminham secretos", "sozinhos", "em mim". Ou seja, reforça-se que Pessoa fala de um rito de iniciação, de um caminho, de o acesso a uma verdade vedada ao comum dos mortais. É o conhecimento absoluto, verdade secreta guardada pelos iniciados, porque apenas por eles pode ser compreendida e aceite. Lembre-se que o percurso é uma fase essencial do processo esotérico - as referências ocultas referem sempre o "processo da obra" ou "os passos da obra", referindo-se à maneira como os elementos são processados pela alquimia, na busca final do ouro espiritual. Tudo são simbolos e os elementos neste caso é a própria alma do poeta.
Pensamos que Pessoa tem de Deus uma noção quase objectiva, à semelhança dos gnósticos. Pessoa acredita no acesso a Deus, iniciando-se nos seus mistério e e não o vê feito de um elemento diferente do elemento humano, apenas superior, mais espiritual, avançado.
Em resumo diriamos que o poema "Do vale à Montanha" representa mais um passo no conhecimento oculto de Fernando Pessoa e deve ser lido em conjunto com os outros poema esotéricos. Citando alguns: "Além-Deus", Os Passos da Cruz", "Á sombra do monte Abiegno", "Magnificat".
Nele Pessoa, usando uma personagem de dupla dimensão (sombra e cavaleiro-monge) usa de metáforas para acentuar a necessidade do ritual para acesso ao conhecimento oculto. Sobretudo reforça a necessidade da solidão e do sofrimento - eles (que são só um), caminham sozinhos, caminham libertos, caminham dentro dele. O título do poema faz-nos pensar num poema da Mensagem intitulado "Ascensão de Vasco da Gama", onde Pessoa fala também de um vale. Diz ele: "Pelo vale onde se ascende aos céus". Este vale poderá ser o vale mitíco, falado na Biblia, o vale de Josafá onde iria decorrer o juízo final? Não sabemos.
Intuimos que o vale e a montanha poderão ser respectivamente o vale de Herdemos na Escócia e o monte Abiegno.
Duas referências ocultas documentadas na obra do esotérico Werner, que Pessoa leu.