sexta-feira, 21 de agosto de 2009

No dia 4 - Revivemos "O" Hino

Já várias vezes vos falei da Academia de Estudos Laicos e Republicanos, de que me orgulho de ser um dos fundadores. O meu amigo Joffre Justino é um dos fundadores mais empenhados e brinda-nos frequentemente com autênticas pérolas de conhecimento.
Dia 4 de Outubro, pela primeira vez a Academia festejará condignamente, juntos no mesmo ideal, envoltos nos princípios em que acreditamos e pelos quais estamos prontos a dar voz.
Assim, partilho convosco o mail que o Joffre me enviou:
"Do Hino A Portuguesa
Por forma a ficar mais conhecida ainda a evolução do Hino A Portuguesa, hoje o Hino Nacional, deixo-vos abaixo a versão de 1890, com letra de Henrique Lopes Mendonça e com Música de Alfredo Keil. Na verdade, já houve quem tivesse duvidado da existência das, não duas mas várias versões deste Hino, anti britânico na sua primeira versão, e resultante da revolta em Portugal contra a imposição do Ultimatum de 1890.
Dada a importância, histórica, da envolvente que fez nascer o Hino Nacional, vale a pena relatar alguns aspectos desta envolvência que levou ao surgimento do mesmo.
Na verdade, o Ultimatum foi, sem dúvida, dada a resposta que o rei e o governo monárquico lhe deram, o motivo central para o reforçar e generalizar dos Ideais Republicanos em Portugal. Regressarei, assim, ao livro de F. Keil do Amaral, neto de Alfredo Keil do Amaral, “Histórias À Margem de Um Século de História”, que já utilizei nestes textos “Enquanto Republicano e Laico”.
“São velhas edições, mandadas imprimir por particulares para distribuir gratuitamente, da “marcha patriótica” composta pelo meu avô Alfredo Keil em 1890…são tampas de caixas de bolachas, ou de sardinha, ou de massas alimentícias, ou de cigarros, …cujos fabricantes decidiram, com alusões e homenagens à “Portuguesa”, dar realce ao seu patriotismo em chaga…estampas e postais alegóricos, ….prospectos, anúncios, leques,…programas de concertos e de espectáculos…”, eis a panóplia de instrumentos que foram a base da propaganda antibritânica tomando sempre como elemento central, a “Portuguesa” e que, por tal, se foi transformando no Hino Patriótico definitivamente ligado à República!
Relata F. Keil do Amaral que foram distribuídos, também, gratuitamente, 40 000 exemplares desta “marcha patriótica”, como recorda ainda que se fizeram “orquestrações especiais para “piano só, piano e canto, canto só, grande orquestra, banda marcial, fanfarra, pequena orquestra, charanga, sol e dó, e estudantina”. Diz ainda F. Keil do Amaral, “Meu avô comungava nessa onda de indignação. Filho de alemães, mas português de nascimento, de hábitos e de coração, vibrava de patriotismo magoado. E logo no dia 12, numa roda de amigos, com ele a sangrar, surgiu-lhe a ideia de uma marcha, ou hino, capaz de exprimir a revolta da Pátrio oprimida e de incutir ânimo para o ressurgimento nacional.”
Henrique Lopes de Mendonça, o poeta de A Portuguesa, escreveu no Comércio do Porto sobre o encontro que teve com Alfredo Keil como segue, “…Junto à porta da rua esperava-me o maestro, exaltado e exuberante de gestos, agitando na mão um rolo de papel de música…sentado no modesto piano que ainda conservo, é que Keil se explicou melhor. Tratava-se de uma música, hino ou marcha, em que a alma portuguesa desabafasse a sua revolta perante a afronta recebida e orgulhosamente marcasse, perante o mundo, a sua vitalidade”.
“…E “A Portuguesa” caiu como petróleo sobre o braseiro da revolta…No dia 1 de Fevereiro realizou-se um grande sarau em S. Carlos e ali foi ouvida a obra de meu avô e de Henrique Lopes de Mendonça, com enorme entusiasmo”.
De S. Carlos, A Portuguesa passou para o teatro Alegira, depois para o teatro Avenida, a 10 de Março os aspirantes de Marinha realizaram um Sarau a favor de uma Subscrição nacional e de novo o elemento central do Sarau era A Portuguesa que já era considerado o Hino do Povo.
Entretanto, rei e governo, novo que o anterior já tinha sido afastado, começaram a tudo fazer para reprimir o ímpeto de revolta nacional e começaram a reprimir os comícios, a dispersar violentamente as manifestações patrióticas e”…abafaram as vozes que entoaram A Portuguesa”, sendo que os jornais monárquicos a assumiam como o “hino da canalha”.
Mas, apesar de toda a repressão e maledicência os Cidadãos “Tocavam-na e cantavam-na com mais fervor, quando podiam; quando os governantes não tinham forças para os impedir. Cantavam-na contra os ingleses, contra “os cobardes” e contra o governo…Cantavam-na com um desespero esperançoso”.
Depois de falhado o 31 de Janeiro de 1891, começaram a surgir então exemplares “que têm uma sobreimpressão cujo propósito e cuja sobriedade impressionam: em grandes letras negras, atravessadas na capa azul e branca, a recomendação “LEMBRA-TE”; mas era desnecessária. O Povo não esquecia o seu hino – o hino da esperança no ressurgimento nacional”.
A 5 de Outubro de 1910, com a implantação da República, A Portuguesa só podia transformar-se no Hino Nacional de Portugal…
"Mas para que conheçam a sua História e a sua evolução eu, luso angolano, entendi escrever e divulgar este texto junto de Vós, pois, tudo o que fica na História tem razões fortes para que tal aconteça. Infelizmente, alguns esforçam-se por esconder as razões pensando que, com tal, se pode modificar a História." Joffre Justino
Data: 1890 (com alterações de 1957), Letra: Henrique Lopes de Mendonça, Música: Alfredo Keil
I
Heróis do mar, nobre povo, Nação valente, imortal, Levantai hoje de novo O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória, Ó Pátria sente-se a voz Dos teus egrégios avós, Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas! Sobre a terra, sobre o mar, Às armas, às armas! Pela Pátria lutar Contra os canhões marchar, marchar!
II
Desfralda a invicta Bandeira, À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira: Portugal não pereceu Beija o solo teu jucundo O oceano, a rugir d'amor, E o teu braço vencedor Deu mundos novos ao Mundo! Às armas, às armas! Sobre a terra, sobre o mar, Às armas, às armas! Pela Pátria lutar Contra os canhões marchar, marchar!
III
Saudai o Sol que desponta Sobre um ridente porvir; Seja o eco de uma afronta O sinal do ressurgir.
Raios dessa aurora forte São como beijos de mãe, Que nos guardam, nos sustêm, Contra as injúrias da sorte.
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar, Ás armas, às armas! Pela Pátria lutar Contra os canhões marchar, marchar!
Data: 1890 (versão original), Letra: Henrique Lopes de Mendonça, Música: Alfredo Keil
I
Herois do mar, nobre povo, Nação valente, imortal, Levantai hoje de novo O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memoria, Oh patria sente-se a voz Dos teus egrégios avós, Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas! Sobre a terra, sobre o mar, Às armas, às armas! Pela patria lutar! Contra os Bretões marchar, marchar!
II
Desfralda a invicta bandeira, À luz viva do teu céo!
Brade a Europa á terra inteira: Portugal não pereceu!
Beija o teu sólo jucundo O Oceano, a rugir de amor; E o teu braço vencedor Deu mundos novos ao mundo!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar, Às armas, às armas! Pela patria lutar! Contra os Bretões marchar!
III
Saudai o sol que desponta Sobre um ridente porvir; Seja o eco de uma afronta O sinal do resurgir.
Raios dessa aurora forte São como beijos de mãe, Que nos guardam, nos sustêm, Contra as injurias da sorte.
Às armas, às armas! Sobre a terra, sobre o mar, Às armas, às armas! Pela patria lutar! Contra os Bretões marchar!!"
Pelas vielas redescobertas de um passado recente que nos quis, outrora, quais cavaleiros de peito desnudado e espada em riste, depois, cidadãos, feitos poetas, palavras feitas armas, ou soldados, armas em lide, coragem em corpo de bala, percebe-se a alma por detrás do Hino, o Sonho na frente de cada estrofe, a Força por entre cada rima, como raio não nos sentirmos portadores desta nobre mensagem, irmãos da mesma batalha, herdeiros da Glória, desenhada bandeira, da Mensagem, feita música.
Sem dúvida, um texto a reflectir, para acompanharmos os alunos da EPAR, que o meu querido Joffre, majestosamente envolve nestes projectos e que tao bem se saem, a recordar o que vi (e ouvi, porque a Severa impôs e bem! a sua presença) no Panteão.
Aguardamos a noite de 4, e lá estaremos, imbuídos do mesmo espírito, partilhando os valores da República, comungando das mesmas ideias, entrecruzando as mãos na mesma canção, e oferecendo, nesta luta, o que de mais sagrado nos foi dado - o coração de verdadeiros portugueses!