"Não dormes sob os ciprestes, Pois não há sono no mundo.
O corpo é a sombra das vestes Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte, E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte, Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro, Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada: Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna, Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa, Mas vês que são teus iguais.
A sombra das tuas vestes Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes.
Neófito, não há morte." (Fernando Pessoa)