quinta-feira, 8 de julho de 2010

Relatório do Observatório do Tráfico de Seres Humanos



A chefe da equipa do Observatório, Joana Wrabetz, admite que ainda não é possível perceber se estes números reflectem a realidade do problema ou se são "apenas a ponta de um iceberg".
Mulher estrangeira e solteira procura uma vida melhor. Este é o perfil da maioria das vítimas de tráfico humano mas há também histórias de mulheres que vêm atrás de um amor prometido ou mesmo de um casamento.
No ano passado, foram sinalizadas 84 pessoas como eventuais vítimas de tráfico de seres humanos, destas 61 eram mulheres, revela o primeiro relatório do Observatório do Tráfico de Seres Humanos (OTSH). No ano passado, foram sinalizadas 84 pessoas como eventuais vítimas de tráfico de seres humanos: 61 eram mulheres, 18 eram homens e os restantes cinco casos não foram caracterizados devido à falta de informação, revela o relatório. Joana Wrabetz, esclareceu à Renascença que destes casos sinalizados, apenas sete foram "policialmente confirmadas como vítimas", mas outras poderão surgir à medida que os processos de investigação decorrem.
“Em 2009, as vítimas foram maioritariamente do sexo feminino, predominantemente solteiras e de nacionalidade brasileira, seguida de vítimas de nacionalidade portuguesa e romena”, revelou a responsável, acrescentado que um grande número tinha a sua situação regularizada.
O motivo para a migração é “a promessa de uma vida melhor”, com propostas de trabalho, por exemplo em restaurantes, que são apresentadas por “amigos”.
Segundo Joana Wrabetz , "a maioria são vítimas de exploração sexual (41), mas há também casos de exploração laboral (15)". Os números indicam que as mulheres são normalmente traficadas para o mundo do sexo e os homens para o trabalho.
O controlo de movimentos, ameaças directas, ofensas corporais e a sonegação de documentos surgem como as principais formas de controlo, sendo que por vezes há "uma combinação entre vários tipos".
Apesar do tráfego para exploração sexual ter mais visibilidade é importante chamar a atenção para a exploração laboral que ocorre em casas particulares, em quintas, locais de construção e noutros espaços não tão visíveis. “Muitos portugueses acabam por ser levados para Espanha para trabalhar nos campos. E, surgiu também um caso de tráfico para servidão doméstica de uma moça moçambicana. São casos de pessoas que vêm trabalhar em casas para ajudar, por exemplo, a tomar conta dos filhos de pessoas de classe média-alta, acabando por ser mantidas em situações de escravatura”, alerta.
A chefe da equipa do Observatório lembra que “falar de tráfico de seres humanos não é apenas o transporte ilegal de pessoas é, acima de tudo, uma situação de escravatura. É a exploração do trabalho de outra pessoa”. E alerta para o facto de terem sido descobertas familias de diplomatas que fazem tráfico humano.