quinta-feira, 1 de julho de 2010

Béla Bugár, uma ponte possível entre os povos


Béla Bugár, fundador de um partido biétnico da Eslováquia, este político de origem húngara é o primeiro a tentar pacificar as relações cada vez mais tensas entre as duas comunidades. O seu sucesso nas recentes eleições é bom augúrio para a estabilidade na Europa Central. Martin M. Šimečka faz uma análise muito interessante no protagonismo deste homem na paz possível destas comunidades.
Pela primeira vez na história da Eslováquia, um político opôs-se veementemente à ideia geralmente difundida de que a exacerbação das tensões étnicas dá votos aos partidos políticos, sejam húngaros ou eslovacos. A aposta parecia longe e muito difícil de ser ganha, já que as últimas eleições na Hungria e na Eslováquia [em abril e junho passados] foram marcadas por um reforço dos dois blocos nacionalistas. De um lado, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, que se declarava também primeiro-ministro dos húngaros a viver em território eslovaco; do outro, os partidos políticos eslovacos, a digladiar-se entre si, numa escalada de promessas que visavam acabar com Orbán, através da minoria húngara.
O ar estava saturado de discursos inflamados sobre a defesa da segurança nacional. O Parlamento eslovaco convocou uma reunião de emergência para reagir à lei de Orbán sobre a dupla nacionalidade [que atribui passaporte húngaro a todos os magiares que vivem fora da Hungria]. E o nacionalista eslovaco Jan Slota atiçava as brasas, qualificando a minoria húngara de “tumor agarrado ao corpo da nação eslovaca”.
Bugár conseguiu quebrar a maldição do ódio étnico: Neste contexto, Béla Bugár parecia efetivamente o único a acreditar no bom senso dos eleitores. Decidiu fundar um novo partido, o Most-Híd. Este nome bilingue [as duas palavras significam “ponte”, em eslovaco e húngaro] é, por si só, muito eloquente: o partido magiar-eslovaco é um projeto de reconciliação nacional. Aquando da sua criação [em junho de 2009], este projeto europeu, único no género, assemelhava-se a uma espécie de construção intelectual, inventada por um punhado de idealistas iluminados, que não percebiam absolutamente nada da “realpolitik” da Europa Central. E podia não passar disso, se não tivesse tido à cabeça Béla Bugár. Este homem, de aparência pragmática, que não professa grandes ideais, que convida apenas os seus concidadãos a demonstrarem bom senso, obteve, com o novo partido, 8,2% dos votos, nas eleições legislativas de 12 de junho [e 14 lugares no Parlamento]. De acordo com as estimativas, um quarto dos votos provêm de eleitores eslovacos que não pertencem à minoria húngara. Trata-se de um fenómeno totalmente inédito na história política do país: Bugár conseguiu quebrar a maldição do ódio étnico.
Um defensor das liberdades e dos direitos humanos: Béla Bugár teve de percorrer um longo caminho, antes de fundar este “projeto único”. Em 1990 [logo após a Revolução de Veludo], este católico conservador [nascido em 1958] juntou-se a um partido cristão húngaro, de que se tornou rapidamente o dirigente máximo. Bugár chegou, nomeadamente, a convencer o Governo da época a autorizar a criação de uma universidade húngara em Komarno [no Sul da Eslováquia]. Como um regime de tipo democrático é sempre a melhor garantia de sobrevivência para uma minoria, Bugár, entretanto dirigente do Partido da Coligação Húngara (SMK), apresentou-se como grande defensor de todas as leis sobre as liberdades e os direitos humanos. Esta posição permitiu-lhe angariar muitas simpatias na elite intelectual eslovaca. Bugár [cujo partido integra a nova coligação governamental] está hoje mais forte do que antes.
Em Bratislava, este homem, que se apresenta como um camponês e que, acima de tudo, gosta de semear as suas batatas, foi cumprimentado como visionário da reconciliação magiar e eslovaca. Na própria Sérvia, há quem queira criar um partido multiétnico seguindo o modelo do Most-Hid. Mas Bugár sabe que o caminho ainda é longo, antes de ousar prever uma verdadeira vitória, altura em que a minoria húngara terá, finalmente, o sentimento de que os húngaros não são cidadãos eslovacos de segunda. “Hoje”, diz, “ainda estamos na linha de partida”.