sábado, 24 de julho de 2010

A IGREJA CATÓLICA E A SUA (NÃO) INTROMISSÃO NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS



Já deixei clara a minha posição sobre as presidenciais e sobre quem apoio. Falo hoje de quem não apoio. Decididamente, não apoio Cavaco Silva. Seria muito fácil elencar as (in)qualidades que não lhe revejo e muito difícil lembrar-me (assim, de repente!!) de alguma qualidade para lhe apontar.
Mas não gosto de ver ninguém – imagine-se que nem os políticos! – a ser atacado por algo “sem ponta por onde se lhe pegue”! Evidentemente que Cavaco nunca pretendeu ser fixe, mas, estou certa, à sua maneira – que raramente compreendo! – tenta ser o presidente de todos os portugueses. Que Deus me perdoe (!), mas, quanto mais não seja, porque está, em princípio, candidato às próximas eleições, e se pode tomar medidas que o beneficiem em pré-campanha, não deixará de o fazer. Se há coisa que Cavaco já confirmou e comprovou é que é um estratega de nível! Da Figueira da Foz ao desmaio na tomada de posse de António Guterres, no Palácio da Ajuda, em 1995, muito andou Anibal.
Ora, o “candidato da direita conservadora” e, segundo grande parte dos católicos portugueses – pelo menos dos que se pronunciam sobre o tema - o “candidato dos católicos” vê agora o seu eleitorado típico e esperado retrair-se, por causa do não-veto ao casamento gay.
Julgo que nenhum de nós imagina o Presidente como um convidado de uma destas cerimónias e nem sequer acreditamos que o tolere, no seio da família ou do circuito dos amigos. Cavaco Silva sempre foi conhecido, mesmo enquanto Ministro, por observar, julgar e punir as atitudes dos outros quando estas não coincidem com os seus conceitos e valores. Por isso, penso que os católicos se devem entender, ao menos neste ponto: não querem Cavaco Silva num segundo mandato porque não, ou não o querem porque sim. É que o que vem a público é tão contraditório que ninguém entende muito bem o porquê desta querela.
O Cardeal Patriarca afirma que esperava que Cavaco Silva “usasse o veto político” na dita lei e acredita que se o tivesse feito “ganhava as eleições” presidenciais do próximo ano. “Pela sua identidade cultural, de católico, penso que precisava de marcar uma posição também pessoal”. D. José Policarpo diz que não compreende as razões invocadas pelo presidente da República quando anunciou a promulgação da lei. “O discurso levava a uma conclusão que depois não aconteceu. Temos muita dificuldade em ver como é que um veto político vinha prejudicar a crise económica. Aquela relação lógica causa-efeito a mim não me convenceu”, referiu o prelado. Dá até a entender que era altura de Cavaco pagar, mais uma vez, um (ou outro e outro) preço do voto católico. Continua “o argumento principal não era o da eficácia política, era um gesto dele como pessoa, como presidente que foi eleito pelos portugueses e pela maioria dos votos dos católicos portugueses, que se distanciasse pessoalmente: quando assinasse era mesmo porque tinha de ser e naquela altura não tinha de ser”.
Cem mulheres católicas dizem-se "desiludidas" com Cavaco Silva e abordam Bagão Félix. O movimento Mulheres Século XXI reabriu a questão presidencial no centro-direita – o espaço eleitoral afecto a uma recandidatura de Cavaco Silva. Santana Lopes entrou também na liça, aparentemente – tudo nele é aparente, como se sabe! - exclui-se da corrida, mas vai alimentando a ideia em artigos de opinião e no seu blogue. Dado que, pensando bem, não tem este último, o “perfil” de beatitude e homem de família desejado – apesar de ter muitas, o que conta aqui não é a quantidade! - Pedro Passo Coelho travou o delírio e evitou mais um estrago do próprio.
Após as primeiras reacções, a hierarquia da Igreja Católica remeteu-se ao silêncio, mas a "ferida" continuou aberta. "Estamos num grande drama, porque não sabemos em quem votar. Por isso propomos o dr. Bagão Félix, pois acredita nos valores da família", disse Thereza Carvalho, da Plataforma Cidadania e Casamento. Acusa directamente Cavaco Silva de "ter virado as costas à população católica" e vaticina mesmo que a opção que tomou no casamento gay "pelo politicamente correcto" terá custos eleitorais pesados. "Vai ter um efeito dominó na perda de votos", sustenta, confiando em que Bagão Félix repondere a sua decisão.
Foi feita, pois, uma clara ameaça. Não votam em Cavaco porque não e porque sim. Mas Bagão Félix calou-se e a Igreja deve ter entendido ser conveniente “jogar pelo seguro”. Vai daí que agora decidiu não se intrometer nas eleições presidenciais, segundo o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga. Sobre as campanhas em curso, com propostas de homilias, incentivando ao envolvimento da Igreja Católica nas eleições, D. Jorge Ortiga disse que são iniciativas de alguns católicos, no direito que têm de se manifestarem, mas que não correspondem a “uma atitude da Igreja em Portugal”.
Do início da novela até ao fim, “não bate a bota com a perdigota”, uns responsáveis e dirigentes da Igreja criticam Cavaco Silva e outros, também responsáveis e dirigentes da mesma Igreja, dizem que “não se metem”. Não me lembro de nenhum acto ou facto político em que a Igreja não tenha “metido a colher” e não me parece que vá começar agora.
Por acaso, o meu voto não depende nem é minimamente influenciado pela posição da Igreja, mas, por respeito aos que, pelo contrário, o são, lançaria aqui um apelo às odes eclesiásticas: já que tantas almas regem a sua vida, incluindo o exercício do direito de voto, pelas vossas ordens, decidam-se e …. falem a uma só voz!