Deixo-vos aqui alguns pontos de reflexão sobre o que é ser um "Cavaleiro"!
Na história medieval, por detrás da Ordem do Templo, ergueram-se figuras grandiosas e míticas, que serviram de inspiração ao ideal Sinárquico. Do Templário do Oriente em conjunção com os Ismaelitas do Velho da Montanha, dos cabalistas, dos judeus da Espanha muçulmana, das ordas do Khanat de Gengiskan, dos cavaleiros árabes de Saladino, das histórias da demanda do cálice, dos romances e lendas da Távola Redonda, de Artur a Parcival.
Jacques De Molay, já a par com Godofredo de Charney, enfrentou o fogo naquele pelourinho defronte da Catedral de Notre Dame. Exposto ante o povo, como hereges impenitentes, diz-se que voltou a cabeça em direção ao local onde se encontrava o rei e imprecou: "Papa Clemente, Cavaleiro Guilherme de Nogaret, Rei Felipe...Convoco-os ao tribunal dos céus antes que termine o ano, para que recebam vosso justo castigo. Malditos, malditos, malditos!...Sereis malditos até treze gerações..." Consta que todos morreram como fôra profetizado.
A mística do cavaleiro serve de mote para a recomendação dada a quem Nos procura "Se é a curiosidade que aqui vos conduz, desisti e voltai. Se persistirdes em conhecer os mistérios da existência, fazei antes o vosso testamento e despedi-vos do mundo dos vivos".
Quanto pode o cavaleiro de hoje enfrentar os "Abiram" de hoje? Os "assassinos por excelência" - o dos Jubelos! Abiram representa a ignorância, a Liberdade oprimida, a corrupção e o crime. Opondo-se a Hiram que encorpora a inteligência que percebe a Verdade; a Liberdade sem a qual a inteligência é impotente - a compreensão da Verdade através da Razão. O cavaleiro de hoje mantém vivo o dever de Stolkin? De procurar e vencer os assassinos de Hiram. Os que ameaçam matar a Verdade da Razão! Stolkin é o cavaleiro vivo em cada um de nós. Aquele que nos interpela à Grande Busca. Afinal, o que detém essa Glória: a de encontrar e vencer os assassinos que estão em nós, os que "ferem" as Virtudes, os que nos tornam "maus".
O Irmão Stolkin recorda os deveres que os Membros da Loja assumem perante os Neófitos: "Prometemos a estes Irmãos recentemente eleitos, nunca os abandonar em
qualquer trabalho empreendido de acordo com os preceitos maçónicos. Nada lhes devemos em interesse pessoal; devemos-lhes, sim, o socorro dos nossos braços, da nossa influência, do nosso trabalho e auxílio, quando agirem num interesse
humanitário social. Quando um irmão for investido numa função pública, nós nos
empenharemos em sustentá-lo, se proceder corretamente, e em adverti-lo, se se desviar do bom caminho. Quando um irmão sofrer, no mundo profano, por causa de sua fidelidade maçónica, devemos-lhe todas as nossas forças para defendê-lo".
Vamos menosprezando esta lição. Esta promessa.
De que nos serve a Espada da Razão? Para que usamos - se é que usamos - a Espada da Verdade? (Mors Liberatrix) «Na tua mão, sombrio cavaleiro, Cavaleiro vestido de armas pretas, Brilha uma espada feita de cometas, Que rasga a escuridão como um luzeiro. Caminhas no teu curso aventureiro, Todo involto na noite que projectas... Só o gládio de luz com fulvas betas Emerge do sinistro nevoeiro. — «Se esta espada que empunho é coruscante, (Responde o negro cavaleiro-andante) É porque esta é a espada da Verdade. Firo, mas salvo... Prostro e desbarato, Mas consolo... Subverto, mas resgato... E, sendo a Morte, sou a Liberdade.» (Antero de Quental, in "Sonetos").
Será o próprio Maçom; daí o valor que se deve der à primeira máxima dos Eleitos dos
Nove: "Sê bravo contra tuas próprias fraquezas".
Sabemos que "A Maçonaria é uma Instituição perfeita, formada por homens imperfeitos", mas sabemos também - talvez estejamos um pouco esquecidos - mas sabemo-lo! - que nos cabe, como Cavaleiros a quem se exige uma visão mais profunda, influenciarmos os outros para que valorizem o Bem. Para que pratiquem o Bem! A missão cavaleiresca não morreu em Percival - perguntemo-nos porque foi Ele o único cavaleiro da tabula redonda a chegar a ver o Santo Graal!("A Morte de Artur": de Thomas Malory, "Parzival: de Wolfram von Eschenbach). A mensagem encriptada só perceptível aos olhos que Vêem é a de que o Graal só poderia ser recuperado quando um cavaleiro perfeito encontrasse o Castelo do Rei Ferido - ou (na ópera Parzival, de Wagner, o Rei Pescador, símbolo do ser humano ferido pela separação entre o ego e o self) - e fizesse a pergunta correta: "a quem serve o Graal?". Esta era a Palavra. A indagação que demonstraria a capacidade de quem Procura se tornar consciente do significado real das coisas, de afastar a névoa de ilusão que permeia o mundo. Não foi na primeira vez que encontrou o castelo que Percival não fez a pergunta. Sabendo o significado oculto, amadureceu a ideia em si, desenvolveu a compaixão, e só depois fez a pergunta e recuperou o Graal. Apenas Percival, de entre todos os cavaleiros, teve a pureza e a humildade precisar para encontrar o castelo do Rei Ferido e fazer a pergunta que curou a Terra Devastada. Em que nos comparamos à figura de Percival? Na consciência de que a Verdade não advém da precipitação, dos instintos, mas da maturidade, dos sentidos trabalhados e vividos, experimentados.
Cabe aos Cavaleiros de hoje recuperar a mística. E fazê-lo percorrendo os Bons Caminhos. Os Virtuosos Caminhos. Recordando a sábia recomendação "Toda a vida útil é curta, embora dure um século; mas a vida do homem laborioso é sempre longa. O trabalho prova a verdadeira coragem e encerra os verdadeiros prazeres. Aquele que não cultivar a Inteligência faz de si mesmo um animal incapaz de se ocupar de outra coisa a não ser daquela em que consiste o destino dos animais. Tende, pois, o bom senso de procurar a Felicidade onde ela está. Nisso consiste a sabedoria que Deus, o Grande Arquiteto do Universo, legou aos homens e cujas verdades ninguém poderá ouvir sem profunda admiração".
Sejamos, ainda e sempre, Cavaleiros.