O paradeiro da arca onde Fernando Pessoa costumava guardar os seus livros, cartas e poemas era desconhecido até há bem pouco tempo. Desde 2008, altura em que foi arrematada num leilão por 50 mil euros, nunca mais ninguém lhe pôs os olhos em cima. Excepto o coleccionador privado que a comprou, claro. O leilão chocou muitos especialistas da obra do poeta português, que defendiam que o Estado a devia ter comprado para a expor ao público. Já podem suspirar de alívio. A partir de amanhã, a arca estará à vista de toda a gente na exposição “Fernando Pessoa: Plural Como o Universo” na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, até 30 de Abril. A mostra é a maior já realizada sobre o poeta e, além de poemas, quadros e fotografias, tem escritos inéditos – e a arca, lá está. A relíquia foi conseguida através de intermediários que contactaram o coleccionador que a cedeu para a exposição.
Na sede da Gulbenkian, também há poemas por toda a parte e painéis interactivos que até mudam de som consoante os heterónimos, como o ecrã de Alberto Caeiro que liberta o chilrear de pássaros.
A melhor parte da exposição são mesmo as peças que não estiveram no Brasil. Como é o caso do retrato de Almada Negreiros, que pertence ao Centro de Arte Moderna, ou os originais que agora são propriedade de coleccionadores privados ou da Biblioteca Nacional. Entre eles está uma lista com crises, escrita em 1913. Pessoa já fazia uma lista de crises. Há a crise religiosa, a crise filosófica, a crise da política interna... As listas não se ficam por aqui. Existe também uma com dívidas num pequeno caderno.
Numa vitrina estão vários cadernos, desde o mais antigo, de 1901, ao último que teve, onde escreveu o último poema antes de morrer, em 1935.
A exposição, com entradas a quatro euros, tem também um jornal que Pessoa inventou aos 14 anos com artigos fictícios, charadas e o primeiro poema em português, “bastante humorístico”.
Já nessa altura inventava nomes. Agora, vamos reinventá-lo nós!