«Liberty for wolves is death to the lambs» disse Isaiah Berlin.
É o pensamento que suscita o artigo "Dançar com os gregos", do José Pacheco Pereira.
«Dancem, dancem… que isto um dia acorda muito torto. Muito torto mesmo.
Os gregos vão ter mais um plano irrealista de “ajustamento”. Se fosse apenas um plano de “ajustamento”, vá que não vá. Mas é um plano irrealista, por isso é uma receita para o desastre, ou melhor, para a continuação do desastre. Obrigar os gregos a destruirem parte da sua economia que, mal ou bem ainda funciona, para baixar a dívida de 160% para 120,5% até 2020, é uma impossibilidade que pode atrair os partidários do “economês”, mas põe os cabelos no ar do cidadão “senso-comunês”. Diga-se de passagem, que nós não podemos falar muito porque vamos assinar um “pacto orçamental” com idênticas medidas irrealistas.
Vão ter uma variante do gauleiter, ou seja, no eufemismo tecnocrático, vão ter uma “presença permanente" para os vigiar. São eles que vão governar a Grécia em nome dos credores, o povo grego passa a sujeito e súbdito. Há quem diga “é bem feito” porque andaram a viver à custa do que não tinham. Diga-se, mais uma vez, de passagem que o mesmo se diz de nós, lá fora e cá dentro. Mas quem diz que “é bem feito” devia ser declarado inimputável, porque não sabe o que diz e em que caldeirão de feitiços está a meter a colher.
Vão ter que mudar a Constituição á força, o que é o supremo vexame para quem acha que as Constituições são mais do que um textozinho precário e que mexer nelas é intrinsecamente um elemento de soberania nacional. Nós também não podemos falar muito porque aceitámos o mesmo diktat. O objectivo é incluir na Constituição uma “regra da prioridade absoluta ao pagamento da dívida”, um absurdo constitucional, uma maneira de afixar na porta da Grécia que esta já teve a visita do cobrador de fraque e este obrigou-a, por escárnio, a anunciar isso numa tabuleta.»