Carnaval, Riso e Alegria têm alguma coisa para nos dizer.
Falo dos festejos de Baco, das saturnais romanas e das Lupercalia. A institucionalização da gargalhada, feita Carnaval, remota a antes de Cristo, aos festejos de celebração de fertilidade e produtividade das terras, entre rostos mascarados e corpos pintados à volta da fogueira. Sem desprezar as tradicionais referências à data do Carnaval e à Quaresma (sobretudo à resistência da Igreja, inicialmente contra as festividades, indignada com esta época de prazeres e desejos, até que se rende à sua popularidade em 590 d. C., e à coincidência da data com o feriado da Páscoa judaica, na primeira lua (lua cheia), na primavera ou 14 dias depois da lua nova ou à data da crucificação do Messias, no 14 dia de Nissan), traz-me aqui o Riso.
Essa bandeira, hino e quadro de alegria que marcam a espontaneidade do Carnaval. O Riso.
Com feriado ou sem ele, é tempo de soltar uma gargalhada em homenagem a esse filho pródigo da Alegria. Não percamos a espontaneidade do riso. A capacidade de nos maravilharmos perante a nossa existência. A capacidade de os homens rirem entre si, para si e de si.
Perder o riso pode ser perder o bobo da corte que há em nós. O que têm em comum o Dom Bibas (corte do conde Dom Henrique, do final do século XI), o Mitton e Thévenin de Saint Leger (corte de Carlos V), o Triboulet (cortes de Luís XII e Francisco I da França) e o Rigoletto de Vivaldi? A capacidade do Riso.
Carnaval lembra o bobo. "Que agradável e delicioso oficio, o de "bobo"!(assim dizia o herói da comédia de Alfred Musset). Aquela força que chama à terra os Reis Lears e revela o pior do ser humano exemplarmente interpretado pelo bobo “LEAR: Tu me chamas de bobo, rapaz? BOBO: Abandonaste todos os teus outros títulos, mas esse nasceste com ele.” (Rei Lear, Ato I, 4).
Rir também pode é inquirir, questionar e demandar. Este é um riso de que não abdico. Se ainda temos forças para rir? É agora que mais precisamos dessa enorme sabedoria que carrega um simples riso. "O riso é a mais útil forma da crítica, porque é a mais acessível à multidão. O riso dirige-se não ao letrado e ao filósofo, mas à massa, ao imenso público anónimo.” (Eça de Queiroz)Carta a Joaquim de Araújo, 25 de Fevereiro de 1878)
Sirva o Carnaval para nos lembrar o Riso. Procuremo-lo arduamente entre as faculdades da Alma (sete Artes liberais/virtudes). A Alegria da ¨Ode To Joy¨ de Beethoven “Alegria, formosa centelha divina, Filha do Elíseo, Ébrios pelo fogo entramos Em teu santuário celeste!”. A Alegria de Mozart na Die Maurer Freude (A Alegria Maçónica).
A Alegria a que se referia Aristóteles: “Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura.” A Alegria que Victor Hugo imortalizou: “Nunca ninguém conseguirá ir ao fundo de um riso de criança.” A Alegria de Pessoa: “Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo...".
Que extraordinária Alegria! “Huzzé, Huzzé, Huzzé”, Vivat, Vivat, sempre Vivat”, “Glória, Glória, Glória!”!
Bom Carnaval! Bons Risos! Alegria!