No dia internacional da língua materna, aqui fica a mensagem da Directora-Geral da UNESCO.
«Nelson Mandela disse um dia que “se falares com um homem numa língua que ele entenda, a informação vai para a sua cabeça. Se falares com ele na sua própria língua, a informação vai para o seu coração”. A linguagem dos nossos pensamentos e das nossas emoções é o activo mais valioso que temos. O multilinguismo é nosso aliado na procura de garantir educação de qualidade para todos, na promoção da inclusão e no combate à discriminação. A construção de um diálogo genuíno é baseada no respeito pelas línguas. Cada representação de uma vida melhor, cada objectivo de desenvolvimento é expressado numa língua com palavras específicas que animam e comunicam esse objectivo. As línguas são quem nós somos; ao protegê-las estamos a proteger-nos a nós próprios. Há 12 anos que a UNESCO comemora o Dia Internacional da Língua Materna e que canaliza energias para a protecção da diversidade linguística. Esta décima-terceira comemoração é dedicada ao multilinguismo para uma educação inclusiva. O papel dos investigadores e o impacto de políticas de implementação do multilinguismo têm provado que as pessoas percebem intuitivamente que a diversidade linguística acelera o progresso para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e em particular o objectivo de Educação para todos. O uso da língua materna na escola é um remédio poderoso contra a iliteracia. No entanto, o desafio reside em implementar isto na sala de aula. Grupos de população excluídos, tais como povos indígenas, são muitas vezes aqueles que são ignorados pelos sistemas de educação. Dar-lhes a oportunidade de aprender, desde os primeiros anos, na sua língua materna e depois nas línguas nacionais, oficiais ou outras línguas, promove igualdade e inclusão social. A Semana de Aprendizagem Móvel da UNESCO tem demonstrado que o uso de tecnologias móveis na educação é um excelente meio de melhorar a educação inclusiva. Associadas ao multilinguismo, estas tecnologias aumentam em 10 vezes a nossa capacidade de acção. Vamos aproveitá-las ao máximo. Graças aos novos media, a nossa geração tem a vantagem de dispor de uma praça pública mundial na internet: não pode aceitar um empobrecimento de línguas. A diversidade linguística é a nossa herança comum. É uma frágil herança. Quase metade das mais de 6000 línguas faladas no mundo pode desaparecer no final do século. O Atlas das Línguas do Mundo em Perigo, da UNESCO, demonstra a evolução desta luta. A perda de línguas empobrece a humanidade. É um retrocesso na defesa dos direitos a ser ouvido, a aprender e a comunicar. Para além disso, cada língua também transmite herança cultural que aumenta a nossa diversidade criativa. A diversidade cultural é tão importante como a diversidade biológica na natureza. As duas estão intimamente ligadas. Algumas línguas de povos indígenas carregam consigo conhecimentos sobre biodiversidade e gestão de ecossistemas. Este potencial linguístico é uma vantagem importante para o desenvolvimento sustentável e merece ser partilhado. A UNESCO também tenciona dar destaque a esta mensagem na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável no Rio de Janeiro. A vitalidade das línguas depende de todos aqueles que as falam e que se unem para as proteger. A UNESCO presta homenagem a todos eles e procura garantir que as suas vozes são ouvidas quando se debatem e desenham políticas de educação, desenvolvimento e coesão social. O multilinguismo é um recurso vivo, vamos usá-lo para o benefício de todos.»