No ano que fecha e no ano que abre pediu-se e pedem-se aos portugueses sacrifícios e paciência. A bem de patrioticamente contribuirem para o "desígnio" nacional! Que desígnio?! Somos um país geograficamente pequeno, mas que escreveu, a pulso, a sua própria história. Abrimos caminho à Europa antes de esta o ser. E, a partir da observação dos fenómenos naturais realizados por essa costa de África fora, fomos pais de muita da ciência que se fez pela Europa. Demos visibilidade ao invisível. Contrariámos o paradigma aristotélico em que jazia o conhecimento antigo (0 "vi claramente visto" de Camões). E, no entanto, teimamos em deixar por "cumprir Portugal"!. Perdemo-nos, exangues, entre os contrários de esquerda ou de direita! Impulsionamos o sistema para uma lógica especulativa, amoral e completamente desprovida de ética. E, voluntariamente, morremos.
Altura pois para aqui deixar a ideia e o espírito das Pompas Fúnebres do Rito Adonhiramita em citação de Job: 'Nós ouvimos, sombra cara, as tuas queixas e teus suspiros, dirigimos-te estas palavras ternas e consoladoras. Está escrito que seremos revestidos de uma carne incorruptível no seio da glória, que então veremos no Pai, o criador de tudo que respira; nós o contemplaremos com os nossos olhos despidos de qualquer emblema."
No ano que vem tem de haver ainda espaço para o Sonho, cientes que este "é a pior das cocaínas, porque é a mais natural de todas". E cumpre lembrar Pessoa "Fazer qualquer coisa ao contrário do que todos fazem é quase tão mau como fazer qualquer coisa porque todos a fazem. Mostra uma igual preocupação com os outros, uma igual consulta da opinião deles - característica certa da inferioridade absoluta. Abomino por isso a gente como Oscar Wilde e outros que se preocupam com seres imorais ou infames, e com o impingir paradoxos e opiniões delirantes. Nenhum homem superior desce até dar à opinião alheia tal importância que se preocupe em contradizê-la.
Para o homem superior não há outros. Ele é o outro de si próprio. Se quer imitar alguém, é a si próprio que procura imitar. Se quer contradizer alguém, é a si mesmo que busca contradizer. Procura ferir-se, a si próprio, no que de mais íntimo tem... faz partidas às suas próprias opiniões, tem longas conversas cheias de desprezo e com as sensações que sente. Todo o homem que há sou Eu. Toda a sociedade está dentro de mim. Eu sou os meus melhores amigos e os meus verdadeiros inimigos. O resto - o que está lá fora - desde as planícies e os montes até às gentes - tudo isso não é senão paisagem... "
"Falta cumprir-se Portugal." Talvez pudéssemos começar já a cumpri-Lo para o ano.