quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Maçonaria e fraternidade, a propósito do Natal

‎"Deixai os mortos enterrarem os seus mortos" (Mt. VIII, 22) foi um alerta para que certo discípulo não perdesse o seu tempo com o que estava perdido, recordando assim Jesus que a Humanidade se dividia em dois grupos: os mortos para a vida espiritual e os vivos para a vida espiritual.
Fomos chamados a servir a Nossa Augusta Ordem num espírito de pertença e de fraternidade que não podemos nem devemos descurar. O conhecimento impele-nos para um estado de alma "vivo", afastando-nos daquelas almas que Jesus bem entendia mortas para a vida espiritual e unindo-nos na essência da chama que nos junta enquanto I.'.
Essa centelha de fraternidade é, não esqueçamos, uma das bases do tripé que caracteriza os sólidos conceitos imateriais em que se baseia a Maçonaria. A ideia de Fraternidade é uma das marcas distintivas dos Maçons entre si e é um conceito-chave para o pleno estabelecimento da cidadania entre os homens, inter pares. A Fraternidade assume hoje a maior importância face a uma sociedade que parece disposta a remeter para a "caridade" todos e quaisquer gestos de uns em prol de outros. Cabe-nos qualificar o conceito em ordem a um outro, o de dignidade. Dignidade de todos os homens, nascidos iguais e considerados iguais no exercício dos seus plenos direitos (sociais, políticos e individuais), em oposto à ideia de caridadezinha para que a hipocrisia de um Estado falido do ponto de vista ético-social insiste em nos lançar. O nascimento de Jesus não terá, pois, melhor e mais digna forma de ser celebrado que exigir de nós que, numa cadeia de união que os tempos modernos exigem a tempo inteiro. saibamos dar as mãos entre nós e entre todos os homens.
Todos os anos, por esta altura, o Hospitaleiro se vê, por inteiro, chamado a exercer o seu cargo, de mãos dadas com todos os I.'., sem preterir aqui o papel dos A.'.M.'. e dos C.'.M.'. que especialmente têm a oportunidade de melhor compreender a abrangência do conceito de Fraternidade dentro da N.'.A.'.Or.'.. Saibamos nós explicar-lhes que o conceito transborda fora de portas mas que também cabe dentro delas. Já várias me pronunciei, em várias instâncias, sobre a forma como funciona mal ou não funciona de todo o Tronco da Viúva na grande maioria das G.'.L.'. e gostaria aqui de sublinhar a importância deste fundo para assistir aos problemas financeiros imediatos dos Ir.'. que assolam e certamente terão dificuldades nos próximos tempos. Assim sendo, a ideia de Fraternidade impõe-se entre Colunas com carácter de urgência. Os Ir.'. merecem saber e estar confiantes de que todos tudo faremos para lhes dar as mãos nos momentos dificeis que se avizinham. E que todos, incluindo os mais frágeis, igualmente ajudaremos todos os homens ainda que não sejam nossos Ir.'. maçónicos. Mas sem perder de vista que a essência do conceito começa em casa, na nossa Casa. Adentro do nosso Templo. O Hospitaleiro tem a obrigação de providenciar, dentro das possibilidades da L.'. , o necessário, em conjunto com o V.'.M.'. (e, eventualmente, como o Ir.'.Tes.'.), em sigilo ou com toda a descrição possível e exigida. Os Ir.'.a quem esta crise tenha batido à porta de forma mais violenta serão confortados com a certeza de nos saber, a todos, Hospitaleiros, na inacção de quem detém o cargo ou na ineficiência da L.'.. O Templo está em Nós. Começa em Nós.
Saibamos dar disso lição a quem agora começa o caminho e saibamos manter viva esta certeza a quem já nele está.
A Fraternidade, a par da Liberdade e da Igualdade, interagem numa só equação que é o espírito e que toma corpo na Maç.'.. Uma sociedade sem Fraternidade será tomada pelas realidades mais devastoras (droga, violência, fome ...) e uma L.'. sem Fraternidade é mácula entre nós.
Não pode criar-se o caos entre nós. A Ordem tem de permanecer pela constância prática das nossas virtudes. Que a Cadeia de União se sirva de nós enquanto "nós"! A Maç.'. exerce-se na vida mas começa em L.'. Um bem-haja a todos. Aceitem o meu abraço fraternal.