A prová-lo o texto de Francesc Relea Ginés, publicado pelo Presseurope, que, em grande medida, se transcreve.
O coração de Lisboa está envelhecido. No centro histórico, em bairros tão conhecidos como o Chiado, a Baixa, Alfama, a Graça ou Alcântara abundam as casas desocupadas. É uma imagem que se repete até em zonas mais caras. Entre lojas de luxo, hotéis, bancos e empresas multinacionais espreitam edifícios em avançado estado de degradação. A Câmara Municipal diz que são cerca de 15 na Avenida da Liberdade, a principal artéria da cidade. Lisboa e Porto estão à cabeça da lista das cidades da UE que mais se despovoaram desde 1999 e com o maior índice (24%) de habitantes com mais de 65 anos.
Helena Roseta, arquiteta, há anos que trabalha a favor de uma política de habitação decente e, em Outubro passado, foi eleita como vereadora independente na lista do Partido Socialista. Roseta aponta três elementos comuns ao panorama urbanístico de cidades como Lisboa, Porto e Braga: o grande número de apartamentos desocupados, o declive demográfico e o envelhecimento da população. Segundo um estudo de 2008, em Lisboa há 4 mil edifícios abandonados, num total de 55 mil. “Uma parte deles já tem programas de reabilitação aprovados pela Câmara, outros não podem ser recuperados e terão de ser demolidos”, explica o também arquiteto Manuel Salgado, vereador e responsável pelo pelouro do Urbanismo.
Cidade enche-se e esvazia-se como um pulmão - Nos últimos 30 anos, Lisboa perdeu cerca de 100 mil habitantes por década e passou de 800 mil habitantes para o meio milhão atual. Salgado diz ter “perfeitamente identificadas” as causas do despovoamento: “A má qualidade dos equipamentos de proximidade: creches, escolas, centros de saúde; a procura de casas unifamiliares; e, mais importante, o preço do metro quadrado, que em Lisboa é duas ou três vezes mais caro do que nos municípios limítrofes”. Um quarto da população da cidade vive no limiar da pobreza, segundo os cálculos da Câmara. Reformados, desempregados, pessoas que vivem do rendimento mínimo, de um lado. Do outro, os que têm mais recursos e têm acesso, sem problemas, ao mercado de habitação em Lisboa. Em muito casos têm, também, casas nas zonas mais exclusivas dos arredores, como Estoril e Cascais.
A cidade tem 650 mil postos de trabalho, mas apenas 500 mil residentes, dos quais só um quarto é ativo, explica o vereador. “Isto significa que, todos os dias, entram e saem de Lisboa mais de meio milhão de pessoas. É uma situação praticamente única na Europa, só comparavel a Oslo, que tem mais em comum com as cidades dos Estados Unidos”, diz o geógrafo João Seixas, professor de Geografia na Universidade de Lisboa.
As consequências deste tráfego diário são dramáticas para uma cidade que se enche e esvazia como um pulmão. Desequilíbrio, congestão da via pública, poluição e ruído. “Há 162 mil veículos registados em Lisboa e, todos os dias, entram 400 mil, o que implica um enorme desgaste para a cidade e não representa nenhuma entrada de dinheiro para a Câmara porque estas pessoas pagam impostos noutros municípios”, explica Salgado.
À noite e ao fim-de-semana, Lisboa esvazia-se e há zonas que adquirem um ar fantasmagórico. Alguns bairros mais centrais, onde abundam os edifícios abandonados, têm grandes carências de serviços. Perante a falta de procura há pouca oferta de lojas, cafés ou táxis, coisa que afugenta os moradores jovens, que optam por viver em bairros mais afastados mas com mais vida.
Proprietários, inquilinos e autoridades municipais acusam-se mutuamente pela deterioração do parque habitacional. Os primeiros queixam-se da lei do arrendamento urbano, que remonta aos anos 1950, em plena ditadura salazarista, e mantém congeladas rendas irrisórias que não permitem suportar obras de reabilitação.
Apesar da decadência da Lisboa antiga e senhorial, a beleza da cidade, com as suas sete colinas e o omnipresente rio Tejo, continua a ser um poderoso imã para o visitante estrangeiro. Consciente disso mesmo, a Câmara Municipal encontrou um instrumento para recuperar a vitalidade da cidade: o programa Erasmus, que facilita a mobilidade académica dos estudantes dentro da União Europeia. “O nosso objectivo é transformar Lisboa numa cidade Erasmus”, garante Manuel Salgado. Segundo os indicadores municipais, os três mil estudantes estrangeiros que chegam todos os anos a Lisboa estão a contribuir para dinamizar o mercado de arrendamento de casas."
Helena Roseta, arquiteta, há anos que trabalha a favor de uma política de habitação decente e, em Outubro passado, foi eleita como vereadora independente na lista do Partido Socialista. Roseta aponta três elementos comuns ao panorama urbanístico de cidades como Lisboa, Porto e Braga: o grande número de apartamentos desocupados, o declive demográfico e o envelhecimento da população. Segundo um estudo de 2008, em Lisboa há 4 mil edifícios abandonados, num total de 55 mil. “Uma parte deles já tem programas de reabilitação aprovados pela Câmara, outros não podem ser recuperados e terão de ser demolidos”, explica o também arquiteto Manuel Salgado, vereador e responsável pelo pelouro do Urbanismo.
Cidade enche-se e esvazia-se como um pulmão - Nos últimos 30 anos, Lisboa perdeu cerca de 100 mil habitantes por década e passou de 800 mil habitantes para o meio milhão atual. Salgado diz ter “perfeitamente identificadas” as causas do despovoamento: “A má qualidade dos equipamentos de proximidade: creches, escolas, centros de saúde; a procura de casas unifamiliares; e, mais importante, o preço do metro quadrado, que em Lisboa é duas ou três vezes mais caro do que nos municípios limítrofes”. Um quarto da população da cidade vive no limiar da pobreza, segundo os cálculos da Câmara. Reformados, desempregados, pessoas que vivem do rendimento mínimo, de um lado. Do outro, os que têm mais recursos e têm acesso, sem problemas, ao mercado de habitação em Lisboa. Em muito casos têm, também, casas nas zonas mais exclusivas dos arredores, como Estoril e Cascais.
A cidade tem 650 mil postos de trabalho, mas apenas 500 mil residentes, dos quais só um quarto é ativo, explica o vereador. “Isto significa que, todos os dias, entram e saem de Lisboa mais de meio milhão de pessoas. É uma situação praticamente única na Europa, só comparavel a Oslo, que tem mais em comum com as cidades dos Estados Unidos”, diz o geógrafo João Seixas, professor de Geografia na Universidade de Lisboa.
As consequências deste tráfego diário são dramáticas para uma cidade que se enche e esvazia como um pulmão. Desequilíbrio, congestão da via pública, poluição e ruído. “Há 162 mil veículos registados em Lisboa e, todos os dias, entram 400 mil, o que implica um enorme desgaste para a cidade e não representa nenhuma entrada de dinheiro para a Câmara porque estas pessoas pagam impostos noutros municípios”, explica Salgado.
À noite e ao fim-de-semana, Lisboa esvazia-se e há zonas que adquirem um ar fantasmagórico. Alguns bairros mais centrais, onde abundam os edifícios abandonados, têm grandes carências de serviços. Perante a falta de procura há pouca oferta de lojas, cafés ou táxis, coisa que afugenta os moradores jovens, que optam por viver em bairros mais afastados mas com mais vida.
Proprietários, inquilinos e autoridades municipais acusam-se mutuamente pela deterioração do parque habitacional. Os primeiros queixam-se da lei do arrendamento urbano, que remonta aos anos 1950, em plena ditadura salazarista, e mantém congeladas rendas irrisórias que não permitem suportar obras de reabilitação.
Apesar da decadência da Lisboa antiga e senhorial, a beleza da cidade, com as suas sete colinas e o omnipresente rio Tejo, continua a ser um poderoso imã para o visitante estrangeiro. Consciente disso mesmo, a Câmara Municipal encontrou um instrumento para recuperar a vitalidade da cidade: o programa Erasmus, que facilita a mobilidade académica dos estudantes dentro da União Europeia. “O nosso objectivo é transformar Lisboa numa cidade Erasmus”, garante Manuel Salgado. Segundo os indicadores municipais, os três mil estudantes estrangeiros que chegam todos os anos a Lisboa estão a contribuir para dinamizar o mercado de arrendamento de casas."
Há quem diga já que Lisboa está a cair. Para mim, ela é sempre aquela radiante e vibrante gaiata de chinela no pé. Não creio que caia. Julgo, apenas, que está doente. Mas não irremediavelmente.