quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O que significa ser um seguidor De Molay, hoje?


Que é ser um seguidor De Molay hoje?
Segundo Ramon Llull, no seu Livro da Ordem de Cavalaria, “É um homem de virtudes.” 
Virtude (virtus), de vir (virilidade, vigor, homem, masculinidade). 
Conceitualmente, significa força, poder, eficácia de uma coisa, algo merecedor de admiração, que tornaria quem a possui uma pessoa melhor, moral e intelectualmente. 
Desde Platão a Aristóteles, o conceito foi entendido, para o primeiro (virtudes cardeais), como uma capacidade de realizar uma tarefa determinada; para o segundo (virtudes morais ou excelência moral), como um hábito racional, que tornaria o homem bom. 
Estas quatro virtudes cardeais (prudência, justiça, fortaleza e temperança) — pontos referenciais para a potência do homem —, eram utilizadas por todos os pensadores medievais. 
Tomás de Aquino ainda defendeu o conceito de virtude aristotélica como uma consequência dos hábitos humanos, mas sobretudo como uma hipótese de perfeição da potência (a capacidade de ser alguma coisa) voltada para a vida e para a acção. E aproveitou este sistema referencial para demonstrar que só as virtudes morais poderiam ser chamadas de cardeais, pois exigiriam a disciplina dos desejos (rectitudo appetitus), contribuindo assim, como mais nenhumas, para a virtude perfeita. Esta é a base de todas as citações medievais posteriores sobre as virtudes cardeais, inclusive de Ramon Llull, que se vale principalmente da ideia de virtude como um hábito.
Por outro lado, as virtudes teologais. 
Encontram-se em São Paulo, na sua Primeira Epístola aos Coríntios. 
Ao comentar o uso e a hierarquia dos carismas — um dos problemas cruciais do cristianismo primitivo — São Paulo, trata da importância da caridade (“Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine”). No final desta passagem, São Paulo fala das três virtudes teologais: fé, esperança e caridade, sendo que a caridade — no sentido grego de ágape, um amor de dilecção e de doação, que quer o bem do próximo, sem fronteiras, que busca a paz no sentido mais puro, o amor que é a própria natureza de Deus — e por isso a caridade é a maior de todas elas (Bíblia de Jerusalém, 1Cor, 13, 13, 2.166). 
O capítulo VI do Livro da Ordem de Cavalaria expõe as virtudes teologais (fé, esperança e caridade), virtudes cardeais (justiça, prudência, fortaleza e temperança) e os vícios ou sete pecados capitais (gula, luxúria, avareza, preguiça, soberba, inveja e ira). 
A fé é o alicerce do cavaleiro: dela decorrem a esperança e a caridade. 
Quanto à Justiça, através dela o cavaleiro teria o conhecimento do mal e a possibilidade de evitar as injúrias., as calúnias e as infâmias. Serviria ao cavaleiro todos os dias da sua vida e não somente em combate. Já a prudência sim, seria uma virtude sobretudo necessária na guerra. Com ela, o cavaleiro conheceria os presságios, o bem e o mal, esquivar-se-ía aos golpes e venceria as batalhas. Com a temperança, o cavaleiro viveria na perfeição filosófica, sem excessos nem faltas. Mas seria com a fortaleza que o cavaleiro combateria todos os vícios, os sete pecados que poderiam levá-lo às “...carreiras pelas quais vai-se aos infernais tormentos que não têm fim”.
De todas as virtudes, a fortaleza seria a mais necessária ao cavaleiro, pois com ela combateria a luxúria, a avareza, a preguiça, a soberba e a inveja, pecados mortais que assolariam a cavalaria da época. Na descrição dos vícios, Ramon dá exemplos de como os cavaleiros eram tentados. Por causa de sua riqueza, necessária ao seu ofício, a soberba tentava o cavaleiro, montado no seu potente cavalo (podendo ser tentado a esquecer que é o cavalo que dá o nome ao cavaleiro e não ao contrário), guarnecido com todas as suas armas. Ele só teria forças para combater a soberba através da fortaleza e humildade, que o lembrariam a razão pela qual se tinha feito e tinha sido cavaleiro.
O mais importante e concluindo.
A proposta utópica do Livro da Ordem de Cavalaria nunca pôde realizar-se. 
O século XIV, com o fortalecimento das monarquias europeias, a Guerra dos Cem Anos e a Grande Peste, marcou o fim dos projectos cavaleirescos e dos sonhos de harmonia do sistema feudal baseado no conhecimento das virtudes e dos vícios criados pelos clérigos — e de leigos como Ramon Llull. Terminava a Idade Média. 
Este tratado, além de ser um projecto civilizador cristão, é um registo tardio de um ideal, o ideal cavaleiresco, um sonho aviltado pelos homens de então. 
Mas é um sonho desafiador. E é um sonho intemporal e intergeracional. 
É esta A Hora! É este O Tempo! É este O Lugar!
Aceitamos a árdua e inóspita, mas triunfante e lusitana tarefa de reerguer o sonho e o ideário.
É o momento de os tornar Obra.
Portugal templário urge e surge. Impõe-se.
Cavaleiros e Damas, há um só cavalo para montar. Com ele, seja a trote seja a galope, expulsemos os vendilhões desta terra santa. O estandarte é o mesmo: o do empenho na esperança de um Mundo Melhor. 
Ainda hoje como antanho.