"Quem fez o Passos Coelho primeiro-ministro? Uns tipos do piorio, que existem em Portugal. Um é Miguel Relvas, o outro é Marco António. Andaram durante um ano e meio a bater as distritais para angariar votos. A realidade é esta. Quem está no poder é o aparelho [não o PSD], quanto a isso não há dúvida. Encontra algum social-democrata no Governo? Nem um. Estes tipos não têm convicções. Simplesmente não têm uma ética de convicções e, portanto, não têm uma ética de responsabilidade. Querem o poder pelo poder. Estão centralizados, incrustados e vivem num regime de sucessão eterna, quase dinástico, que se torna opressivo e do mais fechado que há. O regime é auto-fágico. Vão-se reproduzindo e é como um panzer. Levam tudo à frente. (...) Vejam o que fizeram à Manuela Ferreira Leite e ao Pacheco Pereira. Todos expurgados, considerados inimigos. Fecharam as portas do partido e ninguém lá entra. (...) Estes que lá estão não são os homens de Estado. São políticos do aviário." - Miguel Veiga (em 1974, ao lado Francisco Sá Carneiro, Magalhães Mota, Pinto Balsemão e outros, foi um dos fundadores do Partido Popular Democrático (hoje PSD))
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Portugal, um País nu - nas palavras de Eduardo Lourenço
"Portugal é, neste momento, um país nu. Quer dizer, um país nem nenhum álibi histórico, entrincheirado na sua confinada faixa atlântica, sem possibilidades de sonhar outro sonho que não o seu próprio, caseiro. Nós passámos séculos a fugir de nós mesmos enquanto apenas portugueses. Fuga simultaneamente estelar e criadora que não nos permitiu nunca que nos encontrássemos connosco mesmos. Fomos sempre outros. Essa fuga é agora impossível. Chegou a hora desse encontro secularmente adiado para o qual ninguém sabe até que ponto estamos colectivamente preparados. Uma das tentações que nos espreita é de novo a invenção de mitos, de esquemas orientadores, destinados a superar imaginariamente os obstáculos inevitáveis de o nosso longo passado de irrealismo histórico e político acumulou. A nossa aventura histórica é a de um povo que viveu sempre em bicos de pés, , acima das suas possibilidades reais, esperando tudo de milagres que às vezes aconteciam, de dons sebastiões e de caldos de portaria, a ponto de converter esta existência pícara em segunda natureza. Quando os desastres aconteceram, descobriu-se-les logo o antídoto, criando a especialidade lusitana por excelência de transfigurar os alcáceres-quibires reais em aljubarrotas fictícias. O espaço para estes jogos e miragens históricas desapareceu, sumiu, como dizem os brasileiros, com a supressão dos horizontes quiméricos do nosso pseudo-imperialismo. Encurralados na nossa autêntica realidade, não podemos nem devemos procurar saídas que continuem a ser, como sempre foram as nossas, "portas pintadas na parede". Temos de ajustar-nos ao que realmente somos e podemos para a partir daí construirmos um Portugal possível e não uma quimera. O que somos é considerável e nada desprezível, como nos grandes momentos de realismo e unanimismo pátrio o provámos. E o que podemos, se soubermos adequar os meios de que dispomos à invenção do país possível, permite a esperança de dominar o desafio incomum que a situação actual e a nossa aposta histórica requerem. Mas é perfeitamente inócuo e nocivo recriar sob outra roupagem novos "orgulhosamente sós", ou exaltar-se com o pavor suposto ou efectivo que inspiramos neste momento a um "certo mundo" como demagogos em delírio apregoam." Eduardo Lourenço, Expresso, 03-05-1975
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Maçonaria e o "drama social" actual. Impõe-se Intervir!
Comungo das palavras do Past Grão Mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL), António Arnaut, ao afirmar que não entende o silêncio da maçonaria perante o “drama social que estamos a viver”, defendendo que as ordens maçónicas devem “realmente intervir” contra “este capitalismo opressivo”. Não compreende porque a maçonaria não se recusa ao papel de “cúmplice” e não se manifesta publicamente contra “este capitalismo opressivo”. “Todos aqueles que sentem o povo e a Pátria não podem ficar calados, sob pena de serem cúmplices do drama social que estamos a viver”, disse. O GOL “devia realmente intervir” e condenar publicamente “este capitalismo opressivo”, tal como as restantes ordens maçónicas. “A maçonaria devia ter dito aquilo que disse o Papa Francisco: o neoliberalismo faz os fortes mais fortes, os fracos mais fracos e os excluídos mais excluídos”, complementou. Tanto mais porque “trata-se de uma intervenção no plano dos direitos humanos, da dignidade do homem e da própria defesa da identidade e da soberania da Pátria”, mas a maçonaria tem abdicado desse papel: “devia ter uma palavra e tem estado calada. Devia fazer alguma coisa. Devia realmente utilizar os instrumentos do ofício: a régua e o esquadro, que significam a retidão e a justiça, e o compasso, que significa o livre pensamento e a liberdade”. “Chegámos a este ponto mais por culpa dos socialistas, dos social-democratas e democratas-cristãos do que propriamente dos neoliberais”, acusou o ex-grão-mestre, que denunciou “os que passaram para o neoliberalismo, que se venderam”. Estas são algumas das ideias do seu novo livro “Iluminuras - Adágios, incisões e reflexões”.
terça-feira, 26 de novembro de 2013
Todos os Irmãos, de Todas as Religiões, em Todo Mundo, Unidos!
Nos Vedas, sobre a harmonia das religiões, lê-se: “A Verdade é uma; os sábios a chamam por nomes diversos”. Este sentimento ecuménico que fomenta a união, nos corredores do tempo, de pessoas iluminadas de diferentes religiões, em diferentespartes do mundo, é bem claro na resposta do pensador romano Quintus Aurelius Symmachus a Santo Ambrósio, o dogmático bispo de Milão:“O cerne de tão grande mistério”, que teria dito Symmachus, “jamais poderia ser atingido seguindo-se apenas uma estrada”. E Ibn’Arabi, o grande místico sufi do século XIII, escreveu no Tarjuman al-Ashwaq (A Interpretação do Amor Divino): "Meu coração é capaz de toda forma Clausura para o monge Templo para ídolos Pasto para gazelas A Caaba do devoto As tábuas do Torá O Corão O amor é meu credo Não importa em que direção Ele conduz os meus camelos O Amor ainda será Meu credo e minha fé." Igualmente, Apuleius, o filósofo platónico do século II, tinha a firme convicção de que o Divino era “adorado através do mundo, de diversas maneiras, segundo costumes variáveis e sob múltiplos nomes”. Lembrando, afinal, que "Cada irmão é diferente. Sozinho acoplado a outros sozinhos." (Carlos Drummond de Andrade, in 'Boitempo')
O que não fica em "segredo" do "segredo de (in)Justiça)!
Ainda em resposta à iniciativa da Procuradoria-Geral da República sobre o segredo de justiça, em que a PGR pretende ouvir os grupos profissionais ligados ao sector judiciário, ao estudo do Direito, à investigação criminal e à comunicação social, a formulação de algumas perguntas foi mal recebida. Pelo questionário - que tem um núcleo-base de perguntas, variando consoante a classe profissional ouvida -, quer-se saber em que circunstâncias deve ser decretado o segredo de justiça e que valores deve proteger, e pedem-se sugestões de medidas para prevenir as infracções. Pelo meio, porém, pergunta-se ao destinatário se "alguma vez teve conhecimento pessoal de uma dessas situações" (de violação de segredo de justiça), se "pode identificar os processos" e "os autores". António Marinho E Pinto disse já que "Os responsáveis pelo processo onde haja violação do segredo de justiça devem ser objecto de averiguação imediatamente. Finalmente alguém toma uma iniciativa para pôr cobro a esta farsa em que está transformada a Justiça, permanentemente a atirar lama para a dignidade das pessoas nos órgãos de informação". Paulo Saragoça da Matta diz que a auditoria da PGR faz lembrar uma velha máxima: "É preciso fazer alguma coisa, para que tudo fique na mesma. Ou seja, haver ou não inquérito é irrelevante para o que é realmente importante: tornar excepcionais as violações de segredo de justiça, até porque já são excepcionais os casos de existência de segredo de justiça". "Tenciono responder, menos àquelas duas perguntas, em que se pedem explicitações relacionadas com a minha vida profissional", diz Ricardo Sá Fernandes. Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos Jornalistas, diz que ainda vai analisar o pedido, mas tem uma certeza: "Não responderei àquelas duas perguntas". "Parece uma caça às bruxas. Em que é que isto vai melhorar a situação da Justiça? E numa altura em que tantas alterações estão em curso na Justiça, isto pode contribuir para criar mais conflitos e desconfiança no sector", comenta Fernando Jorge, presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais.
Ora tudo isto me faz lembrar que "Aqui importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilo, modas, maneiras, pilhérias, tudo vem em caixotes pelo paquete. A civilização custa-nos caríssimo, com os direitos de Alfândega: e é em segunda mão, não foi feita para nós, fica-nos curta nas mangas..." - Eça de Queiroz, in Os Maias
terça-feira, 19 de novembro de 2013
Sempre a pedagogia dos oprimidos a falar mais alto ---- Escolas públicas, ainda, e Crato.
Relendo A Pedagogia dos Oprimidos, de Paulo Freire ...
Quando Paulo Freire estava no exílio no Chile nos anos 60, estabeleceu o seguinte diálogo com alguns camponeses:
"Depois de alguns momentos de bom debate como um grupo de camponeses o silêncio caiu sobre nós e nos envolveu a todos. O discurso de um deles foi o mesmo. A tradução exacta do discurso do camponês chileno que ouvira naquele fim da tarde.
— Muito bem — disse-lhes eu. — Eu sei. Vocês não sabem. Mas por que é que eu sei e vocês não sabem?
Aceitando o seu discurso, preparei o terreno para minha intervenção. A vivacidade brilhava em todos. De repente a curiosidade se acendeu. A resposta não tardou.
— O senhor sabe porque é doutor. Nós, não.
— Exacto, eu sou doutor. Vocês não. Mas, por que eu sou doutor e vocês não?
— Porque foi à escola?
— Porque seu pai pôde mandar o senhor à escola. O nosso, não.
— E por que os pais de vocês não puderam mandar vocês à escola?
— Porque era camponês?
— É não ter educação, posses, trabalhar de sol a sol sem direitos, sem esperança de um dia melhor.
— E porque ao camponês falta tudo isso?
— Porque Deus quer.
— E quem é Deus?
— É o Pai de nós todos.
— E quem é pai aqui nesta reunião?
Quase todos de mão para cima, disseram que o eram. Olhando o grupo todo em silêncio, fixei-me num deles e perguntei-lhe:
— Quantos filhos você tem?
— Três.
— Você seria capaz de sacrificar dois deles, submetendo-os a sofrimento para que o terceiro estudasse, com vida boa no Recife? Você seria capaz de amar assim?
— Não.
— Se você — disse eu —, homem de carne e osso, não é capaz de fazer uma injustiça dessa, como é possível entender que Deus o faça? Será mesmo que Deus é o fazedor dessa coisa?
Um silêncio diferente, completamente diferente do anterior, um silêncio no qual algo começava a ser partilhado. Em seguida:
— Não. Não é Deus o fazedor de tudo. É o patrão!
A humilhação da classe docente - a perspectiva de uma professora emigrada
A humilhação da classe docente, por Isabel Rodrigues, DN Opinião
"Acordei indignada! Não, indignada não é a palavra mais adequada. Talvez, chocada, envergonhada, incrédula, sejam adjectivos mais representativos daquilo que senti numa manhã desta semana, quando, ainda na cama, lia as notícias sobre Portugal. E pergunta o leitor o porquê da minha indignação, se o que abunda no país são vozes de indignação! Passo a explicar. Estou fora do país há cerca de nove meses e como tal faço os possíveis por acompanhar de perto, ou pelo menos o mais perto que me é possível, a situação e assuntos do país. E acreditem que indignação é coisa que não tem faltado quando se trata de ver o que se passa em Portugal.
Mas esta semana foi a gota de água. Pelo menos para mim. Estando atentos e fazendo as contas, pode o leitor pensar que sou mais uma daquelas jovens que seguiu o conselho do nosso primeiro-ministro e emigrou.
Pois bem, não foi bem assim. Emigrei, é certo, até já tinha pensado em fazê-lo anteriormente, mas a realidade é que foi a paixão pelo ensino que me impediu de fazer as malas mais cedo e partir.
Foi preciso uma paixão maior, para me fazer mudar de ideias. As coisas do coração são assim. Já dizia o dito popular que o amor surge quando menos esperamos e leva-nos para onde nunca imaginámos.
E foi desta forma que uma professora de História, com 30 anos, com oito anos de tempo de serviço, veio parar a Oslo.
Agora que já me apresentei, posso explicar o porquê da minha indignação: o estado do ensino em Portugal. Mas sinceramente nem sei muito bem por onde começar.
Pelas políticas economicistas que no início dos últimos anos lectivos têm afastado milhares de docentes das escolas; dos financiamentos públicos às escolas privadas; do atabalhoamento com que o país é brindado todos os inícios de anos lectivos; da precariedade profissional da classe docente, do achincalhamento de que é alvo, da culpabilização dos professores pelos maus resultados dos alunos nos exames; da burocratização que o ensino se tornou, que quase impede o professor de fazer aquilo que realmente gosta e o realiza: ensinar?
Não fartaria pano para mangas, pois qualquer um destes assuntos daria muito que falar. Mas a minha última indignação é mesmo a prova de avaliação de competências que os docentes contratados terão de realizar a 18 de dezembro.
Manobra de encaixe financeiro para uns, humilhação da classe docente para outros. Para mim, uma vergonha nacional sem precedentes.
E atenção, não sou contra qualquer avaliação, desde que esta seja respeitadora e igualitária. Se um professor deve fazer uma prova das suas competências, terão, na minha opinião, todos os outros funcionários públicos de o fazer.
Não passa pela cabeça de ninguém impedir um médico, um enfermeiro, um advogado, um economista, um engenheiro, do exercício das suas funções, para as quais se qualificou, só porque não realiza uma prova de competências.
Parece-me que o Ministro da Educação se está a pôr em cheque quando ele próprio põe em causa a legitimidade e competência das próprias Universidades nesta matéria.
Os professores estudam quatro ou cinco anos para tirar uma licenciatura e mais um ano de estágio pedagógico, com aulas assistidas por orientadores e coordenadores científicos das universidades, e depois surge alguém com a brilhante ideia de dizer que afinal nada disto tem importância e que se têm de dar provas de competência anuais.
Retirar crédito ao cidadão comum, já o português está habituado, mas às Universidades digamos que não é assim tão frequente.
Mas voltemos um pouco atrás. Partindo do pressuposto que a dita prova se realiza a 18 de dezembro.
O que pretende o Ministério da Educação com esta prova? Supostamente melhorar a qualidade do ensino. Mas como melhora se só cerca de 20.000 professores (de cerca de 120.000) irão realizar a prova?
Conhecimentos científicos e pedagógicos não são algo que se avalie de ânimo leve. Gostava apenas que os teóricos da Educação, não falassem e opinassem de realidades que desconhecem com a leviandade com que frequentemente o fazem.
Ouvi-los-ei com gosto no dia em que, dentro de uma sala de aulas, um deles consiga ensinar um qualquer conteúdo programático a uma turma de 28 alunos desmotivados e com problemas sociais graves (de fome e violência, por exemplo).
Esperam os nossos governantes algum tipo de respeito quando colocam no mesmo texto legislativo, a prova dos professores, lado a lado, com as informações dos testes intermédios e exames nacionais? Estamos a falar do mesmo assunto? Os critérios serão os mesmos?
Esperam algum tipo de respeito, quando a um mês da realização da dita prova, ainda não apresentaram a matriz? O que se pretende com isto? Eu tenho uma resposta: humilhar socialmente a classe docente. Descredibilizá-la perante a opinião pública. Sem margem de manobra para se preparar, a maioria dos professores contratados vai-se espalhar ao comprido, numa prova que vai ser toda ela feita para esse efeito.
E a sociedade em geral, cansada e amargurada como sempre, irá tratar de enxovalhar e dizer "É assim mesmo. Andam lá e nem sabem o que andam a ensinar", esquecendo-se que é isso mesmo que a tutela quer.
E o que se pretende ao colocar professores do quadro a vigiar os seus congéneres precários? Fragmentar a classe. Nem quero imaginar o ambiente de Guerra Fria que se vive nas salas de professores, quando se sabe que "aquele", "aquele" e "aquela" vão/deverão estar do outro lado da barricada a vestir a pele do lobo.
Mesmo partilhando dos medos dos contratados, haverá sempre professores do quadro que, por medo e pressão, irão vigiar a prova.
E, já me esquecia, a cereja em cima do bolo: o professor contratado ainda vai ter de contar os trocos para ir fazer a prova: 20 euros cada prova, 20 euros se se quiser a revisão de prova e 15 euros por cada prova a mais que um professor queira fazer (desgraçados daqueles que possuem habilitações que lhes permitem concorrer a mais do que um grupo de recrutamento).
Parece-me que é dinheiro fácil. Muito fácil até. Vai começar com os professores contratados. Mais ano menos ano estender-se-á aos professores do quadro.
E, ou muito me engano, ou isto será estendido às restantes classes profissionais que trabalham no funcionalismo público, pois é, simultaneamente, dinheiro e despedimento fáceis.
Não se esqueça o leitor que as cobaias de qualquer experiência da tutela na Função Pública têm sido os professores.
Chorei, chorei de raiva e de indignação. Não por mim, que decidi no dia em que fiz as malas para sair do país, não voltar a sentir o que sentia todos os dias 1 de Setembro.
Chorei pelos meus colegas que respeito e a quem estão a destruir e adiar sonhos.
Pelos meus ex-alunos, inseridos num jogo em que mudaram as regras a meio do jogo. Pelas gerações mais novas, que não terão direito a uma Educação como eu e a minha geração tiveram: feita por pessoas com ideais e apaixonadas pelo seu trabalho.
Estão a destruir um sistema de ensino. Um pilar fundamental de qualquer sociedade. Tem as suas lacunas e aspectos negativos, mas sem dúvida um dos melhores.
Não é por acaso que há cada vez mais profissionais de recursos humanos estrangeiros a fazer feiras de emprego em Portugal, para ir buscar profissionais altamente qualificados a custo zero. Mas enfim, é tão bom para as elites governar um país sem massa crítica.
Chorei porque me senti impotente. Por norma sou optimista e costumo ver os aspectos positivos das coisas, mas neste caso a visão já está tão turva... Vejo uma classe docente cansada e desmotivada, sem forças para lutar.
Pior que isso, vejo uma sociedade cada vez mais virada para os seus próprios problemas, sem grandes razões para ser feliz, focada numa quase sobrevivência que facilmente resvala para a indiferença dos problemas dos "outros", que afinal também são tão "nossos"!
A luz ao fundo do túnel vai afunilando e, nesse momento, lembro-me do poema que imortalizou Martin Niemoller:
"Quando os nazis vieram buscar os comunistas, eu fiquei em silêncio; eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu fiquei em silêncio; eu não era um social-democrata.
Quando eles vieram buscar os sindicalistas, eu não disse nada; eu não era um sindicalista.
Quando eles buscaram os judeus, eu fiquei em silêncio; eu não era um judeu.
Quando eles me vieram buscar, já não havia ninguém que pudesse protestar."
E fico profundamente triste."
"Alma! Eis o que nos falta."
«Alma! Eis o que nos falta. Porque uma nação não é uma tenda, nem um orçamento um bíblia. Ninguém diz: a pátria do comerciante Araújo, do capitalista Seixas, do banqueiro Burnay. Diz-se a pátria de Herculano, de Camilo, de Antero, de João de Deus. Da mera comunhão de estômagos não resulta uma pátria, resulta uma pia. Sócios não significa cidadãos». [Guerra Junqueiro, Pátria] - quadro de José de Faria
O povo tem pressa porque a vida é curta ....
“… o povo tem pressa porque a vida é curta, deslembrando de que, se passam rápido os anos, podem ser longos os dias, as horas, os minutos… Tudo depende de como saboreá-los, degustando-os lentamente como faz um provador de vinhos. E como um vinho, a vida não deve ser bebida de um trago; senão a gente logo se embriaga e perde o preciso saber de cada gole…” - Mário Quintana – Da preguiça como método de trabalho
"Segredo de Justiça" - denúncia de violação interpares!
O apelo da procuradora-geral da República (PGR), Joana Marques Vidal, para que advogados denunciem quem viola o segredo de justiça, suscitou, ontem, reações distintas entre representantes da Justiça.
Mouraz Lopes, presidente da Associação Sindical dos Juizes, criticou o pedido, temendo a criação de “mais uma cultura de desconfiança entre as profissões, mais uma acha para uma cultura de denúncias anónimas, muito pouco corretas e muito pouco éticas e que vão, se calhar, agravar-se”, para além de que a responsabilidade de denunciar violações do segredo de justiça já decorre da lei. “Seria preferível fazer uma investigação mais adequada e mais instrutiva e verificar exatamente de onde é que vêm os problemas”, disse.
O bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, elogiou a iniciativa da PGR e defendeu que as investigações sobre violações do segredo de justiça devem começar pelos magistrados. Sublinhando que é preciso acabar “com a monstruosidade do Estado de Direito” que são as violações da confidencialidade do processo judicial, considerou que as investigações devem procurar, desde logo, pelo titular do processo. “Se sou eu o titular desse processo, tenho de responder pelas violações do segredo de justiça e deve começar por aí a investigação. Eu sou responsável pelo que acontece em minha casa. A culpa depois averiguar-se-á a quem pertence”. Elogiou o apelo, avisando para as “resistências poderosas” que já começou a suscitar.
E agora pergunto eu: a que ponto chegámos para advogados denunciarem juízes e procuradores? É esta a cultura de Justiça que queremos ter? Como pode o cidadão comum confiar em estruturas que entre si mantém sinais sintomáticos de desconfiança? Onde está o equilíbrio entre as forças da Justiça? Se a medida dará resultados, duvido. Como seria visto um advogado que denunciasse um juiz ou procurador quer interpares quer pelos demais juizes e procuradores? Alguém duvida que um advogado fique "marcado" se o fizer? Cada vez mais, é do sexo dos anjos que falamos. E sobre isso, sabe-se o que se sabe: rigorosamente nada! Sejamos sérios!
terça-feira, 12 de novembro de 2013
"Os nossos políticos não são gente." - Fernando Pessoa
"Perdemos a noção das proporções. (...) Os nossos políticos não são gente. Nenhum deles mostra ter tido na sua vida uma daquelas crises espirituais donde se emerge talvez ferido para sempre, mas psiquicamente homem, personalidade espiritual. São ateus pela mesma razão que o é um burro ou uma árvore. São portugueses porque, por desgraça nossa, nasceram adentro da nossa fronteira, oriundos de gente que assim tinha feito. Nenhuma consciência da Raça lhes acende um momento o olhar. São vazios e estúpidos. Só sabem comer e manobrar para comer.
A subserviência, a indisciplina, a desorganização dos homens; a desonestidade, a corrupção, a opressão dos processos governativos; a incúria com que fazem a educação como o fomento, o exército e a marinha como o comércio e a indústria - em que mudaram estas coisas, se não em refinarem, se não porque tudo piorou, pelo menos porque tudo progrediu, e onde o facto é o mal, progredir é piorar. Cada vez mais corruptos, cada vez mais indisciplinados, cada vez mais à mercê do estrangeiro: (...) O facto de esse homem, que em nenhuma outra parte mandaria fora da regedoria ou junta de paróquia que condiz com a sua mentalidade rudimentar, teria a posse dum partido, e, através dele duma pátria. Como é natural, a revolta atingiu o máximo nos adversários. Esta opressão, que todos nós sentimos, esta vergonha de estarmos sendo governados por tendeiros da política, que roubam no peso da própria retórica." - Fernando Pessoa in "Carta a um herói estúpido"
António Lobo Antunes - Porque não fala do Governo.
"Perguntam-me muitas vezes por que motivo nunca falo do governo nestas crónicas e a pergunta surpreende-me sempre. Qual governo? É que não existe governo nenhum. Existe um bando de meninos, a quem os pais vestiram casaco como para um baptizado ou um casamento. Claro que as crianças lhes acrescentaram um pin na lapela, porque é giro. - Eh pá embora usar um pin? que representa a bandeira nacional como podia representar o Rato Mickey. - Embora pôr o Rato Mickey? mas um deles lembrou-se do Senhor Scolari que convenceu os portugueses a encherem tudo de bandeiras, sugeriu: - Mete-se antes a bandeira como o Obama e, por estarem a brincar às pessoas crescidas e as play-stations virem da América, resolveram-se pela bandeirinha e aí andam, todos contentes, que engraçado, a mandarem na gente. - Agora mandamos em vocês durante quatro anos, está bem? depois de prometerem que, no fim dos quatro anos, comem a sopa toda e estudam um bocadinho em lugar de verem os Simpsons. No meio dos meninos há um tio idoso, manifestamente diminuído, que as famílias dos meninos pediram que levassem com eles, a fim de não passar o tempo a maçar as pessoas nos bancos, de modo que o tio idoso, também de pin. - Ponha que é curtido, tio para ali anda a fazer patetices e a dizer asneiras acerca de Angola, que os meninos acham divertidas e os adultos, os tontos, idiotas. Que mal faz? Isto é tudo a fazer de conta.
Esta criançada é curiosa. Ensinaram-me que as pessoas não devem ser criticadas pelos nomes ou pelo aspecto físico mas os meninos exageram, e eu não sei se os nomes que usam são verdadeiros: existe um Aguiar Branco e um Poiares Maduro. Porque não juntar-lhes um Colares Tinto ou um Mateus Rosé? É que tenho a impressão de estar num jogo de índios e menos vinho não lhes fazia mal. No lugar deles arranjava outros pseudónimos: Touro Sentado, Nuvem Vermelha, Cavalo Louco. Também é giro, também é americano, pá, e, sinceramente, tanto álcool no jardim escola preocupa-me. A ASAE devia andar de olho na venda de espirituosas a menores. Outra coisa que me preocupa é a ignorância da língua portuguesa nos colégios. Desconhecem o significado de palavras como irrevogável. Irrevogável até compreendo, uma coisa torcida, e a gente conhece o amor dos pequerruchos pelos termos difíceis, coitadinhos, não têm culpa, mas quando, na Assembleia, um deles declarou: - Não pretendo esconder nem ocultar apesar da palermice me enternecer alarmou-me um nadita, mau grado compreender que o termo sinónimo seja complicado para alminhas tão tenras. Espíritos tortuosos ou manifestamente mal formados insinuam, por pura maldade, que os garotos mentem muito, o que é injusto e cruel. Eles, por inevitável ingenuidade, não mentem nem faltam às promessas que fazem: temos de levar em conta a idade e o facto da estrutura mental não estar ainda formada, e entender que mudar constantemente de discurso, desdizer-se, aldrabar, não possui, na infância, um significado grave. A irrealidade faz parte dos cérebros em evolução e, com o tempo, hão-de tornar-se pessoas responsáveis: não podemos exigir-lhes que o sejam já, é necessário ser tolerante com os pequerruchos, afagá-los, perdoar-lhes. Merecem carinho, não crítica, uma festa na cabecinha do garoto que faz de primeiro-ministro, outra na menina que eles escolheram para as Finanças e por aí fora. Não é com dureza desnecessária e espírito exageradamente rígido que os educamos. No fundo limitam-se a obedecer a uns senhores estrangeiros, no fundo, tão amorosos, que mal fazem eles para além de empobrecerem a gente, tirarem-nos o emprego, estrangularem-nos, desrespeitarem-nos, trazerem-nos fominha, destruírem-nos? São miúdos queridos, cheios de boa vontade, qual o motivo de os não deixarmos estragar tudo à martelada? Somos demasiado severos com a infância, enervam-nos os impetuosos que correm no meio das mesas dos restaurantes, aos gritos, achamos que incomodam os clientes, a nossa impaciência é deslocada. Por trás deles há pessoas crescidas a orientarem-nos, a quem tentam agradar como podem à custa daqueles que não podem. Os portugueses, e é com mágoa que escrevo isto, têm sido injustos com a infância. Deixem-nos estragar, deixem-nos multiplicar argoladas, deixem-nos não falar verdade: faz parte da aprendizagem das mulheres e homens de amanhã. Sigam o exemplo do Senhor Presidente da República que paternalmente os protege, não do senhor Ex-Presidente da República, Mário Soares, que de forma tão violenta os ataca e, se vos sobrar algum dinheiro, carreguem-lhes os telemóveis para eles falarem uns com os outros acerca da melhor forma de nos deixarem de tanga. Qual o problema se há tanto sol neste País, mesmo que não esteja lá muito certo de o não haverem oferecido aos alemães? E, de pin no casaco que nos fanaram, isto é, de pin cravado na pele (ao princípio dói um bocadinho, a seguir passa) encorajemos estes minúsculos heróis com um beijinho, cheio de ternura, nas testazitas inocentes." - António Lobo Antunes, Nov.2013, Visão
domingo, 10 de novembro de 2013
Cunhal - Uma referência na luta pela Democracia!
«Tão magro, de magreza impressionante, chupado a face fina e severa, as mãos nervosas, dessas mãos que falam, mal penteado o cabelo, um homem jovem mas fisicamente sofrido, homem de noites mal dormidas, de pouso incerto, de responsabilidades imensas e de trabalho infatigável, eu o vejo, sentado ao outro lado da mesa, diante de mim, falando com a sua voz um pouco rouca, os olhos ardentes no fundo de um longo e sempre vencido cansaço, e o vejo agora como há cinco anos passados, sua impressionante e inesquecível imagem: Álvaro Cunhal, conhecido por Duarte, o revolucionário português. Falava sobre Portugal, sobre que poderia falar?
Sua paixão e sua tarefa: libertar o povo português da humilhação salazarista, libertar Portugal dessa já tão larga noite de desgraça, de silêncios medrosos, de vozes comprimidas, de alastrada e permanente fome do povo, de corvos clericais comendo o estômago do país, de tristes inquisidores saídos dos cantos mal iluminados das sacristias e da História para oprimir o povo e vendê-lo à velha cliente inglesa ou ao novo senhor norte-americano. Sua paixão e sua tarefa: fazer de Portugal outra vez um país independente e do povo português um povo novamente livre e farto e dono da sua natural alegria.
Ah! Aqueles cansados olhos fundos sorriam e a voz estrangulada de cólera se abria em doçura de palavras de amor para falar de Portugal e do povo português. Eu compreendia que aquele homem de magreza impressionante, de físico combalido pela dura ilegalidade perseguida, era o seu próprio país, seu próprio povo e que, com seu cansaço, sua fadiga de anos, sua rouca voz de velho sono, suas mãos ossudas, eles estava construindo a vida, o dia de amanhã, o mundo novo a nascer das ruínas fatais do salazarismo.
Como era terno seu sorriso ao falar das festas populares nas aldeias do Minho ou dos homens rudes de Trás-os-Montes! Conhecia tudo do seu país e do seu povo, tudo o que era autentico de Portugal, desde o mar-oceano com a sua história portuguesa e gloriosa até as vinhas ao sol e as cantigas e os poemas dos poetas reduzidos na sua grandeza pela censura fascista; desde as histórias heróicas dos militantes presos, torturados até à loucura e à morte, as tenebrosas histórias do Tarrafal, o campo de concentração mais antigo e mais cruel da Europa, até às doces histórias de amor da província portuguesa, com um sabor romântico das velhas legendas.
Contou-me coisas de espantar com sua voz ora doce, grávida de ternura, ora violenta de cólera desatada quando falava da fome dos trabalhadores, da opressão salazarista sobre o povo, da opressão imperialista sobre a sua pátria de primavera e mar. (...) os comunistas portugueses, heróis anónimos do povo, os invencíveis, os que estão rasgando a noite fascista com a lâmina de sua audácia e de sua certeza para que novamente o sol da liberdade ilumine o país dos pescadores e das uvas. De um me disse: «Esse esteve no Brasil e aprendeu com vocês» (...) Falou do campo, dos homens que habitam as montanhas, daqueles que Ferreira de Castro, o grande romancista, descreveu em «Terra Fria» e «A Lã e a Neve». (...) Falou dos operários das cidades daqueles que Alves Redol descreveu em seus magníficos romances e contou da sua irredutível resistência ao regime salazarista. (...) Naquela tarde como que me apossei por inteiro de Portugal, do melhor Portugal, do Portugal eterno, como se Álvaro Cunhal o trouxesse nas suas mãos ossudas, tão descarnadas e nervosas, como se trouxesse – e o trazia em verdade – no seu coração de revolucionário e patriota.
Voltei a vê-lo ainda uma vez, dias depois, e a longa conversa sobre Portugal continuou. Falou-me dos escritores, dos plásticos, dos pescadores, fadistas, e sobretudo da luta subterrânea, dura e difícil e jamais vencida. (...) Veio o processo, dentro dos métodos infames dos tribunais fascistas. Ali se ergueu Álvaro Cunhal (Militão morrera de torturas) e não era o réu, era o acusador, a voz de fogo a queimar o vergonhoso rosto dos carrascos do seu povo, dos vendilhões da sua pátria. (...) Pretendem matá-lo e nós sabemos que são frios assassinos os que querem matá-lo. É uma vida preciosa, preciosa para Portugal e para o mundo, ajudemos o povo português a salvá-la! (...) Há alguns meses eu estava em frente ao mar Pacífico, na costa sul do Chile, em Isla Negra, em casa de Pablo Neruda, meu companheiro de lutas de esperança. Uma figura de proa de barco se elevava em frente ao mar de ondas altas e violentas. Por isso falámos de Portugal e do seu destino marítimo. Contei ao poeta sobre Cunhal e Pablo levantou-se, deixou-me com o pescador que parara para escutar-nos e quando voltou havia escrito esse maravilhoso poema que é «A Lâmpada Marinha»* sobre Portugal, seu povo, Álvaro Cunhal e o dia luminoso de amanhã» (...) Hoje o mais bravo dos filhos desse povo heróico, aquele que tudo sacrificou para ser fiel à esperança do povo está com sua vida ameaçada.»" (Jorge Amado)
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
O “honrado e o bem-aventurado Dom Egas Moniz de Ribadouro” e a sua ligação a D. Afonso Henriques
O “honrado e o bem-aventurado Dom Egas Moniz de Ribadouro”. Tradição antiga atribui a função de educador a Egas Moniz, mas não é possível ter prova inequívoca, existindo como possibilidade o seu irmão Ermigio, também da família Ribadouro. Um trovador de D.Afonso III, trineto de Egas Moniz. João Soares Coelho, terá contribuído para o empolamento da possibilidade Egas Moniz, como Aio. Algumas “estórias”, vêem publicadas na Crónica de 1419. Numa delas relata-se um milagre, pois tendo Egas Moniz o menino Afonso à sua guarda, que havia nascido deformado nos membros inferiores, lhe apareceu a Virgem Maria, que lhe disse para procurar e desenterrar uma igreja que havia sido construída em sua honra. Levasse o menino ao altar e ele ficaria curado. Egas Moniz assim fez e Afonso Henriques curou-se (Milagre de Nossa Sra de Cárquere). Ou seria D. Afonso Henriques filho de Egas Moniz? Alexandre Herculano assegura que o I Rei de Portugal era alto, robusto e forte... não me parece que tenha herdado essas características do Conde D. Henrique.
- “foi este D. Egas Moniz chamado o Bem aventurado por ser Ayo do Senhor Rey D. Affº Henriques, o qual se achou na batalha do Campo de Ourique e em todas as mais do seu tempo; morreu no anno de 1184 [da Era: 1146A.D.], e está enterrado no Mosteiro de Passos de Souza, e em sima do tumulo esculpida toda a jornada q fez ao Imparador D. Affº [Afonso VII, rei de Leão e Castela, imperador das Espanhas], por D. Affº Henriques não querer ir a Cortes como elle tinha prometido e pello dito Rey faltar e não querer ir foi o dº D. Egas Moniz e sua m.er e f.os nus da cinta pª sima com sogas ao pescoço pª comprirem com suas vidas a palavra q o Rey não quiz comprir, e isto he o q está esculpido no dº tumulo.” (imagem: Egas Moniz de corda ao pescoço perante Afonso VII de Castela e Leão, num painel de azulejos na Estação de São Bento, figura profundamente ligada à lenda de Carvalho de Egas, aldeia do concelho de Vila Flor)
terça-feira, 5 de novembro de 2013
Da Força e da Sabedoria - e de que massa se faz o Homem!
"A Força, incontrolada ou mal controlada, não é apenas desperdiçada no vazio, tal como a pólvora queimada a céu aberto e vapor não confinado pela ciência; mas, golpeando no escuro e seus golpes atingindo apenas o ar, ricocheteia e se auto-atinge. É destruição e ruína. É o vulcão, o terramoto, o ciclone, não crescimento ou progresso. (...) Precisa ser regulada pelo Intelecto. O Intelecto é para as pessoas e para a Força das pessoas o que a delicada agulha da bússola é para o navio – sua alma, sempre orientando a enorme massa de madeira e ferro,e sempre apontando para o norte." (Albert Pike, Morals and Dogma) - imagem e citação de um artigo do Rui Bandeira, no blog A PARTIR PEDRA
O TAMANHO DAS PESSOAS!
"O TAMANHO DAS PESSOAS - Os Tamanhos variam conforme o grau de envolvimento...Uma pessoa é enorme para ti, quando fala do que leu e viveu, quando te trata com carinho e respeito, quando te olha nos olhos e sorri. É pequena para ti quando só pensa em si mesma, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade, o carinho, o respeito, o zelo e até mesmo o amor. Uma pessoa é gigante para ti quando se interessa pela tua vida, quando procura alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto contigo. E pequena quando se desvia do assunto. Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma. Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos da moda. Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas. Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo. É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. O nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de acções e reacções, de expectativas e frustrações. Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente torna-se mais uma. O egoísmo unifica os insignificantes. Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande... é a sua sensibilidade, sem tamanho..." (William Shakespeare)
Simbolismos, nas mais pequenas coisas.
"Simbolicamente apenas? Mas não será tudo simbólico? Não o são as nossas realizações, ainda que nos batamos num mundo feito de milhões de relações humanas e com milhões de destinos entre os nossos dedos? As nossas realizações não serão, mesmo nos melhores momentos, tão lamentáveis que o combate que travámos por elas perderia todo o valor se lhes não déssemos uma importância simbólica, uma importância de combate enquanto combate? Que escassos resultados práticos! Seríamos capazes de fazer fosse o que fosse, a menor acção, se tratássemos os símbolos como realidades práticas?" (Stig Dagerman, in 'A Ilha dos Condenados')
Ser um cidadão livre ... aprendendo com Kafka.
"Ele é um cidadão livre e seguro da Terra, pois está atado a uma corrente suficientemente longa para lhe dar livre acesso a todos os espaços terrenos e, no entanto, longa apenas para que nada seja capaz de arrancá-lo dos limites da Terra. Mas é, ao mesmo tempo, um cidadão livre e seguro do céu, uma vez que está igualmente atado a uma corrente celeste calculada de maneira semelhante. Assim, se quer descer à Terra, a coleira do céu enforca-o; se quer subir ao céu, enforca-o a coleira da Terra. A despeito de tudo, tem todas as possibilidades e sente-as, recusando-se mesmo a atribuir o que acontece a um erro cometido no primeiro acto de acorrentar." (Franz Kafka, in 'Os Aforismos de Zurau ou Reflexões no Pecado, Esperança, Sofrimento, e o Caminho da Verdade (66)')
Repensando os trilhos da vida ....
"É preciso repensar a nossa vida. Repensar a cafeteira do café, de que nos servimos de manhã, e repensar uma grande parte do nosso lugar no universo. Talvez isso tenha a ver com a posição do escritor, que é uma posição universal, no lugar de Deus, acima da condição humana, a nomear as coisas para que elas existam. Para que elas possam existir… Isto tem a ver com o poeta, sobretudo, que é um demiurgo. Ou tem esse lado. Numa forma simples, essa maneira de redimensionar o mundo passa por um aspecto muito profundo, que não tem nada a ver com aquilo que existe à flor da pele. Tem a ver com uma experiência radical do mundo.
Por exemplo, com aquela que eu faço de vez em quando, que é passar três dias como se fosse cego. Por mais atento que se seja, há sempre coisas que nos escapam e que só podemos conhecer de outra maneira, através dos outros sentidos, que estão menos treinados… Reconhecer a casa através de outros sentidos, como o tacto, por exemplo. Isso é outra dimensão, dá outra profundidade. E a casa é sempre o centro e o sentido do mundo. A partir daí, da casa, percebe-se tudo. Tudo. O mundo todo." (Al Berto, in "Entrevista à revista Ler (1989)")
sábado, 2 de novembro de 2013
Saudade "aprisionada"!
"A Minha Saudade Tem o Mar Aprisionado na sua teia de datas e lugares. É uma matéria vibrátil e nostálgica que não consigo tocar sem receio, porque queima os dedos, porque fere os lábios, porque dilacera os olhos. E não me venham dizer que é inocente, passiva e benigna porque não posso acreditar. A minha saudade tem mulheres agarradas ao pescoço dos que partem, crianças a brincarem nos passeios,
amantes ocultando-se nas sebes, soldados execrando guerras. Pode ser uma casa ou uma rede das que não prendem pássaros nem peixes, das que têm malhas largas para deixar passar o vento e a pressa das ondas no corpo da areia. Seria hipócrita se dissesse que esta saudade não me vem à boca com o sabor a fogo das coisas incumpridas. Imagino-a distante e extinta, e contudo cresce em mim como um distúrbio da paixão." (José Jorge Letria, in "A Metade Iluminada e Outros Poemas")
"A honestidade de um grande coração, condensada em justiça e em verdade, fulmina." - Victor Hugo
"Dos déspotas provêm, até certo ponto, os pensadores. A palavra acorrentada é terrível. O escritor duplica e triplica o seu estilo, quando um senhor impõe silêncio ao povo. Sai desse silêncio certa plenitude misteriosa que se filtra e se condensa em bronze no pensamento. A compreensão na história produz a concisão no historiador. A solidez granítica de tal ou tal prosa célebre não é mais do que um amontoamento feito por um tirano.
A tirania constrange o escritor a circunscrições de diâmetro, que são alargamentos de força. O período ciceroniano, apenas suficiente para Verres, sobre Calígula embotar-se-ia. Quanto menor for a exuberância da frase, maior será a intensidade do golpe. Sirva de exemplo a concisão de Tácito no exprimir e a sua veemência no pensar. A honestidade de um grande coração, condensada em justiça e em verdade, fulmina." - Victor Hugo, in 'Os Miseráveis'
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