sábado, 2 de novembro de 2013

Saudade "aprisionada"!


"A Minha Saudade Tem o Mar Aprisionado na sua teia de datas e lugares. É uma matéria vibrátil e nostálgica que não consigo tocar sem receio, porque queima os dedos, porque fere os lábios, porque dilacera os olhos. E não me venham dizer que é inocente, passiva e benigna porque não posso acreditar. A minha saudade tem mulheres agarradas ao pescoço dos que partem, crianças a brincarem nos passeios,
amantes ocultando-se nas sebes, soldados execrando guerras. Pode ser uma casa ou uma rede das que não prendem pássaros nem peixes, das que têm malhas largas para deixar passar o vento e a pressa das ondas no corpo da areia. Seria hipócrita se dissesse que esta saudade não me vem à boca com o sabor a fogo das coisas incumpridas. Imagino-a distante e extinta, e contudo cresce em mim como um distúrbio da paixão." (José Jorge Letria, in "A Metade Iluminada e Outros Poemas")