sábado, 28 de janeiro de 2012

«Salvem o euro – livrem-se da Alemanha», Anatole Kaletsky

Ilustração do Times para o artigo «Salvem o euro – livrem-se da Alemanha», do Anatole Kaletsky
«O mundo tem estado a assistir com horror e fascínio ao trabalho dos investigadores que buscam a causa para um naufrágio eminentemente evitável em Itália. Enquanto isso, a causa de um muito maior naufrágio salta à vista.
À medida que a Grécia avança para a bancarrota, que França, Itália e Espanha sofrem descidas de notação de crédito e que as negociações do tratado fiscal do mês passado chegam a um impasse, o euro caminha na direção das rochas e a força condutora está a ficar bem clara. A verdadeira causa do desastre do euro não é a França, a Itália ou a Grécia. É a Alemanha.
O problema fundamental não reside na eficiência da economia alemã, embora tenha contribuído para a divergência dos resultados económicos, mas no comportamento dos políticos e banqueiros centrais alemães. O Governo alemão não se limitou a vetar permanentemente as únicas políticas que podiam ter colocado a crise do euro sob controlo – garantias coletivas europeias para dívidas nacionais e intervenção em grande escala do Banco Central Europeu. Para piorar a situação, a Alemanha tem sido responsável por quase todas as políticas erradas postas em prática pela Zona Euro, que vão desde subidas loucas da taxa de juros no ano passado pelo BCE até exigências excessivas de austeridade e perdas bancárias que agora ameaçam a Grécia com uma bancarrota caótica.
É aqui que chegamos à raiz da culpa da Alemanha na crise atual.
Para o euro sobreviver, terão de ser satisfeitas três condições necessárias. A primeira, aquela em que a Alemanha insiste, é a imposição de disciplina orçamental, que só pode ser executada por controlo centralizado da UE sobre as políticas fiscais e de gastos dos governos nacionais.
A segunda é um elevado grau de responsabilização coletiva europeia pelas dívidas nacionais dos governos e por garantias bancárias. Este apoio mútuo é o reverso do federalismo fiscal, como Monti deixou bem claro; mas é um entrave que os alemães têm recusado sistematicamente nem que seja debater.
A terceira condição é o apoio do BCE à federação fiscal, comparável ao apoio monetário aos mercados de dívida pública pelos bancos centrais nos EUA, Reino Unido, Japão, Suíça e todas as outras economias avançadas. É por causa deste apoio do banco central aos seus mercados de títulos de dívida governamental que EUA, Reino Unido e Japão conseguem financiar défices muito maiores do que a França ou a Itália, sem qualquer preocupação séria sobre abaixamentos dos níveis de crédito.
A alternativa pessimista é que a Alemanha esteja genuinamente determinada a impedir a flexibilização fiscal e monetária necessária para o euro ter uma hipótese de sobrevivência. Se for esse o caso, então os restantes membros do euro vão, em breve, enfrentar uma escolha histórica. Abandonar o euro? Expulsar a Alemanha ou pedir-lhe simplesmente para sair? Ou, mais provavelmente, fazer acordos entre si para uma estratégia monetária e fiscal que provoque a saída da Alemanha?
França, Itália, Espanha e os seus parceiros da Zona Euro têm meios para salvar o euro e, de caminho, poderem escapar à hegemonia económica alemã. A única questão está em saber se têm a autoconfiança e entendimento económico necessários para se unir contra a Alemanha.
Em todo o caso, em breve os dirigentes da Europa vão ter de parar de atribuir a crise do euro à economia mundial, aos bancos ou à prodigalidade de governos anteriores. Como escreveu Shakespeare: "A culpa, caro Brutus, não está nas nossas estrelas / Mas em nós mesmos, que aceitamos ser subordinados."»

As feriadices do álvaro e a "parva" da Constituição!

o alvaro, o tratado de tordesilhas do ano da desgraça de 2012 e a alvarice do 'debate', por fernanda câncio (Jugular)
«estive a ouvir - até certa altura, quando desisti por manifestamente não aguentar mais idiotice - o fórum da tsf sobre o corte de feriados superiormente decidido pelo álvaro (inesquecíveis para todo o sempre aquelas palavras - 'não podiamos tirar o 25 de abril e o 1º de maio, o 10 de junho é o dia de portugal, sobravam o 5 de outubro e o 1º de dezembro') e não queria crer que a ninguém ocorresse dizer o mais óbvio dos ululantes óbvios: toda esta conversa de 'tinhamos de cortar 2 feriados civis porque a igreja concordou em cortar 2 religiosos' é simplesmente absurda.
admitindo que é um imperativo nacional cortar 4 feriados -- o governo tem legitimidade para tomar esse tipo de decisões, por estúpidas e infundamentadas que nos surjam --, fazendo as contas constatamos que nos 13 feriados ditos nacionais estabelecidos na lei 8 são de cariz católico. mais de 60% dos feriados impostos pelo estado são portanto referentes a celebrações de uma religião -- e uma apenas.
isto começa logo por ser um problema constitucional, em virtude da separação entre estado e religião, e prossegue sendo-o à luz da lei de liberdade religiosa. óptima oportunidade pois a que se oferece para endireitar esses erros clamorosos e contra-natura. porém, como é sabido, o governo não o fez -- invocando a concordata e o facto alegado de que ela obriga o estado português a entender-se com a igreja católica (entendida aqui como a hierarquia da dita e o seu quartel-general, o vaticano) nesta matéria.
sucede que isso é rotundamente falso. e não acreditem em mim, vão ler a concordata. e já agora oiçam também sobre isso o suponho que insuspeito cardeal patriarca.
temos pois que o que se passou com este dividir dos cortes de feriados 'ao meio' foi que o governo português decidiu entregar à igreja católica - ou seja, se quisermos, a um 'poder estrangeiro' -, a decisão sobre uma matéria que só ao estado português diz respeito e em relação à qual não se constituiu jamais em qualquer obrigação. e isto só se pode interpretar como deliberação de, por um lado, erodir a memória colectiva e abalar a identidade histórica nacional num fervor saloio de pseudo-liberalismo e de 'nós podemos tudo' (chama-se a isto fazer tábua rasa) e por outro 'comprar' a benevolência dos bispos, curvando-se perante uma religião e afirmando que a simbologia clerical lhe é mais cara que a nacional. uma mistura de oportunismo parvenu e beatice interesseira. é bonito. mas mais bonito ainda é a forma como o país dos comentadores e dos jornalistas engoliu isto tudo sem dificuldade, repetindo à saciedade 'feriados civis e religiosos', como se essa distinção tivesse o menor sentido; como se não houvesse apenas feriados nacionais e não se tratasse, ao reduzi-los, de ter em consideração a dignidade nacional e o cumprimento da constituição -- mas, claro, a constituição já não vale nada, não é?»

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Sejamos Essa Alavanca!

Deixo-vos hoje com algumas referências à alavanca. O símbolo que representa o poder da vontade. Com ela realizámos a nossa terceira viagem, carregámo-la na mão esquerda, juntamente com a régua de 24 polegadas a força. Consta das instruções para o Companheiro o seguinte conteúdo: «Dando-vos a alavanca, emblema do poder que sustenta o fraco e faz tremer o mau, a Maçonaria desejou simbolizar a expressão da força divina, da força moral que resiste a tudo que é impuro e corrupto, a tudo que é arbitrário ou tirânico, à superstição, aos vis impostores que se aproveitam da ignorância dos povos para torná-los impotentes escravos dos seus caprichos”. “[...] em pleno oceano da vida, em meio às vagas tempestuosas das paixões, lembrai-vos que, ao serdes consagrado Companheiro, tivestes em vossas mãos a Alavanca, talismã contra as tentações da inércia”.» Ou «Oração e trabalho são os recursos mais poderosos na criação moral do homem. A oração é o íntimo subliminar-se da alma pelo contacto com Deus. O trabalho é o inteirar, o desenvolver, o apurar das energias do corpo e do espírito, mediante a acção contínua de cada um sobre si mesmo e sobre o mundo onde labutamos. ... O Criador começa e a criatura acaba a criação de si própria. Quem quer, pois, que trabalhe, está em oração ao Senhor.» (trecho da Obra de Rui Barbosa extraído do artigo do Ir:. Raimundo Rodrigues - Cartilha do Companheiro - Ed. A Trolha - 1a. Edição - 1998 - págs. 105 e seguintes).
Com ela ergue o Maçon o seu templo social. Na vertical. Com ela recorda que a perseverança é uma qualidade. As três portas em que batemos representam as três disposições necessárias à procura da Verdade: Sinceridade, Coragem e Perseverança. A alavanca lembra essa qualidade de força, de firmeza e de coragem inquebrável.
Os tempos que atravessamos são de provação para os Maçons. É agora, mais que nunca, importante recordar que somos em cada um a alavanca de todos.
O Libertador Bolívar (iniciado na maçonaria em 1803, na Loja "Lautaro", Cádis, Espanha) perdeu várias batalhas até triunfar por fim.
Franklin Roosevelt (iniciado na Loja Holland No 8, New York) já paralítico e numa cadeira de rodas, foi o primeiro mandatário dos Estados Unidos e teve um papel determinante na IIª Guerra Mundia, não deixando de colocar a pirâmide maçónica nas notas de 1 dólar, recordando os ideais de construção de uma Nação Livre.
Thomas Edison foi um Maçon e fez 10000 testes até descobrir a Luz.
Cervantes legou-nos Dom Quixote de la Mancha, presenteando-nos com uma das mais belas imagens cavaleirescas de sempre (“− Nunca donde estou me levantarei, valoroso cavaleiro, enquanto vossa cortesia me não conceder um dom que vos peço, o qual redundará em vosso louvor e proveito do gênero humano.”)
Transportemos em Nós essa Alavanca, como Companheiros Uns dos Outros. Em Força. Com Coragem. Em Perseverança.
Arquimedes afirmava: "Dai-me um ponto de apoio que erguerei o mundo". Esse ponto é a mão de cada um de nós que se dá ao outro.
Serenos ante a adversidade, cabe-nos proteger a Ordem Iniciática que abraçámos. Com a tenacidade de Galileu que, quando ameaçado pela inquisição por afirmar que a "terra gira em torno do Sol" e, apesar de temendo a fogueira se ter retratado, não deixou de, ainda diante do papa, reafirmar aos seus amigos: "Mas que gira, gira".
Digam o que disserem não percamos de vista o essencial: Um Maçon é sempre um Maçon! Somos Maçons! Comportemo-nos como tal! Reconheço-os!

domingo, 22 de janeiro de 2012

Baltasar Garzón - Quando a Justiça incomoda!

«Começou a encenação do calvário judicial que poderá acabar com a carreira profissional do juiz espanhol Baltasar Garzón. O primeiro dos três casos por que é julgado é punível com desqualificação por 17 anos, significando na prática o afastamento definitivo da magistratura. Suspeita-se que as queixas são fruto de desejos ocultos de acerto de contas, vingança política, inveja profissional e preconceitos ideológicos. A acusação pública não vê crime na conduta do juiz.
Neste primeiro processo, o Supremo Tribunal acusa Garzón do crime de prevaricação (tomar uma decisão sabendo que é injusta), por ter ordenado a gravação de conversas telefónicas entre os principais acusados no caso Gúrtel — teia de corrupção que envolve o Partido Popular, no poder — e os seus advogados, ao suspeitar que colaboravam na ocultação de provas e no branqueamento de capitais. Protegido pela qualidade de juiz, Garzón não ocupa o banco dos réus. Senta-se, vestido com a toga, junto do seu advogado. Só foi obrigado a despi-la quando as partes compareceram para o interrogar.
No caso Gurtel são arguidos, entre outros, altos cargos do governo autónomo da Comunidade Valenciana (do PP, que fala em perseguição), incluindo o ex-presidente Francisco Camps. São acusados de receber presentes em troca de favores nos concursos públicos.
Os acusadores de Garzón argumentam que violou o direito de defesa dos arguidos ao gravar os advogados. Garzón negou-o, alegando que gravava presos e não causídicos, como ficou provado ao não resultar das gravações qualquer diligência judicial. As escutas foram autorizadas pelos promotores públicos e confirmadas pelo juiz do processo.
Dois dos sete magistrados que julgam Garzón — Varela e Marchena — são instrutores dos outros dois processos que ele enfrenta nos próximos dias: um por ter investigado os crimes da ditadura franquista (julgamento a 24 e 31 deste mês), impulsionados por duas organizações de extrema-direita, o partido da Falange Espanhola e a associação Manos Limpias, a quem o procurador acusou de “patente voracidade litigante”; outro devido a uma acusação de suborno por ter recebido dinheiro dos patrocinadores dos cursos que organizou na Universidade de Nova Iorque. Garzón tentou em vão recusar Varela e Marchena, aduzindo a sua manifesta parcialidade, mas nem o Supremo nem o Constitucional aceitaram. Conseguiu recusar outros cinco juizes deste caso. Varela e Marchena distinguiram-se na perseguição furiosa e comentários depreciativos sobre o juiz.
O juiz que ousou perseguir Pinochet - A sua ideia da justiça universal, a luta convicta contra o genocídio e os crimes contra a Humanidade levaram-no a perseguir desde as ditaduras latino-americanas ao próprio Osama bin Laden. Atormentado pela convicção de que a sua carreira de juiz em Espanha terminou (está suspenso desde 2010) e de que o tribunal que o julga encontrará maneira de o condenar, Garzón orienta a sua atividade para o exterior: é conselheiro externo de Luis Moreno Ocampo, procurador do Tribunal Penal Internacional de Haia, consultor do Comité para a Prevenção da Tortura do Conselho da Europa e conselheiro da Organização dos Estados Americanos para o processo de paz na Colômbia.
As causas do juiz-estrela - Garzón tornou-se famoso pelas operações ‘Nécora’ (1990) e ‘Pitón’ (1991), contra o tráfico de drogas, sobretudo na Galiza. Dirigidas pelo próprio a partir de um helicóptero, desmantelaram as maiores redes espanholas de comércio de cocaína.
Destacou-se na luta contra a ETA, sem dúvida marcado pelo assassínio da sua amiga, a promotora Carmen Tagle, às mãos do grupo terrorista. Foi o primeiro juiz a deslocar-se a França para interrogar líderes da ETA presos no país vizinho; deteve comandos armados e perseguiu as estruturas de apoio ao bando: fechou o jornal “Egin” e a sua rádio; ilegalizou o Herri Batasuna (braço político) e prendeu os seus dirigentes; desarticulou a rede financeira da ETA.
Atreveu-se, também, a perseguir os grupos financeiros mais importantes, incluindo o Banco Bilbao Vizcaya, cujos executivos denunciou por ocultação de contas em paraísos fiscais e por se autoatribuírem pensões à custa dos acionistas. O que deu notoriedade internacional a Garzón foi a ordem de deter em Londres, em outubro de 1998, o ditador chileno Augusto Pinochet, dando esperança a milhares de vítimas das tiranias de todo o mundo. Instaurou processos contra as ditaduras argentina e uruguaia, expôs a ‘Operação Condor’ (que coordenava com a CIA a repressão uruguaia, chilena e argentina à “subversão” das esquerdas) e conseguiu extraditar para Espanha torcionários como Ricardo Domingo Cavallo, que aplicava técnicas abomináveis na sinistra Escola de Mecânica Naval, de Buenos Aires. Em 2002, personalidades e organizações promoveram a sua candidatura ao Prémio Nobel da Paz.» Angel Luís de la Calle (correspondente em Madrid - Expresso) | 21-01-2012

sábado, 21 de janeiro de 2012

Graça Moura no CCB - olha a calaceira!

Já se adivinham "em primeira mão" extractos do discurso de Graça Moura na cerimónia de posse como presidente do conselho de administração da Fundação CCB. «Sabe-se que Moura pretende dar um ar da sua graça logo a abrir o discurso: “ (…) podemos enumerar: a natureza calaceira dos portugueses; o seu feitio de incumpridores relapsos; a sua irresponsabilidade nas exigências desenfreadas; o corporativismo imperante nos sectores sócio-profissionais [sic]; os péssimos níveis de qualificação escolar e profissional; a iliteracia generalizada e irremediável; uma certa propensão para a estupidez e a crendice fácil que explica algumas vitórias eleitorais socialistas; a desagregação e desprestígio de todos os sistemas de autoridade democrática; o arrastamento intolerável da administração da justiça que nos torna uma vil caricatura do Estado de Direito; a neutralização do papel das famílias que são cada vez menos as células-base da sociedade; a falta de coragem e discernimento de alguns sectores da classe política, que não sabem pensar a mais de três meses de prazo e sempre de olho posto na comunicação social... Enfim, a juntar a isto, a crise de todos os valores éticos, identitários e culturais, o espírito de eleitoralismo permanente em que os detentores do poder político vivem, dos governantes aos autarcas, a pilhagem do aparelho de Estado pelos boys, a promiscuidade entre os grandes interesses económicos e a actividade política - e estou longe de ter esgotado um quadro que nos transformou num país sem alternativas e sem saída.
O regime democrático deveria aprender a pensar-se a partir da única metáfora que seria válida para o mudar nas eleições: a vassourada. Mas talvez ninguém ouse fazê-lo, porque os arranjinhos, os compadrios, o nacional-porreirismo, a falta de nervo, intervêm infalivelmente num país que não chegou a consolidar-se como comunitário e agora enfrenta uma Europa de construção cada vez mais problemática.
Portugal está uma porcaria.’»
Porque é que se adivinha o discurso? Porque ainda o ano passado, o Vasco dizia isto «A solução para a São Caetano pode ser mudar de povo. Só o desespero alimentado pelos resultados das últimas sondagens pode justificar esta onda de insultos à inteligência dos eleitores a que o PSD, de forma tão relevadora quão mesquinha, se tem entregue nos últimos dias.
É verdade que o Carlos Abreu Amorim já havia comparado os eleitores mais vulneráveis à propaganda aos famigerados cães de Pavlov. E é verdade que Miguel Relvas, depois de ter comparado os portugueses com os marroquinos, confessou as suas angústias perante aquela “parte do eleitorado que quer ser iludida, quer ser enganada e quer ser iludida” [sic].
Mas era necessário transformar este desprezo pelos eleitores num naco de prosa mais distinto e reluzente. Para isso, ninguém melhor que o poeta de serviço, Vasco Graça Moura, que, nas páginas do órgão oficial do PSD, o “Povo Livre” (página 10), discorre livremente sobre os defeitos dos portugueses – os mesmo que ajudam a explicar por que raio é que o PS está há tanto tempo no poder e é tão difícil tirá-lo de lá (...) A conclusão geral, mais à frente no artigo, é lapidar: “Portugal está uma porcaria”.»
E, já na altura, a indignação surgiu com gente a perguntar «É esta a imagem do país dada por um ex-deputado europeu, eleito por portugueses “calaceiros” por natureza, “incumpridores relapsos”, “irresponsáveis”, “desqualificados”, “iletrados”, propensos para a “estupidez e a crendice fácil”. Ainda perguntam de que(m) é que é preciso defender Portugal?» (Câmara Corporativa)

sábado, 14 de janeiro de 2012

Catroga não é maçon - e foi uma nomeação "bizarra". Isso conta?!

Catroga é maçon?, por Filipe Luis, Visão
"Será que Eduardo Catroga é da maçonaria? Que se saiba, não. Mas isso não impede este prestigiado professor e economista, detentor de uma das reformas milionárias de que tanto se fala, ocupar um cargo que, a honorários praticados nos últimos anos (inclui uma prestação para PPR!), lhe renderá, em termos brutos, 639 mil euros por ano, durante os três anos do mandato. Catroga, 69 anos, é de uma competência comprovada. Mas há outros com igual competência, mais jovens, promissores e... independentes. Terá sido a competência o único critério que levou à sua nomeação para presidente do Conselho Geral e de Supervisão da EDP? Ou será porque Catroga é um ministro histórico do PSD, próximo de Cavaco Silva, conselheiro privilegiado de Passos Coelho (antes da ida deste para o Governo) e seu representante nas negociações com a troika? Maçonarias são como os chapéus: há muitas. Mas os palermas somos nós.
A maçonaria surgiu como uma enorme cortina de fumo mediática que nos distrai de outro processo em curso: o das nomeações. Elas tardam mas não falham: na Caixa Geral de Depósitos (CGD), na EDP (empresa que foi privatizada, sob o signo de uma cumplicidade entre governos que parece perdurar - os chineses da Three Gorges são estatais...), nos hospitais e suas chefias intermédias e, em seguida, no que resta do setor empresarial do Estado. Olhem para os outros nomes do órgão de supervisão da elétrica: Paulo Teixeira Pinto, PSD, coordenador do projeto de revisão constitucional do partido. Ilídio Pinho, administrador da empresa onde trabalhou o primeiro-ministro. Jorge Braga de Macedo, ex-ministro de Cavaco. Rocha Vieira, antigo ministro da República nos Açores, nomeado por Cavaco, ex-governador de Macau e sempre compagnont de route do Presidente. Celeste Cardona, CDS, antiga modesta jurista mas cuja passagem pelo Governo da AD a fez transitar para um não menos polémico cargo na CGD.
As nomeações para a EDP demonstram que os chineses querem manter o Governo português como um aliado (que tê-lo na mão seria uma expressão demasiado forte). Os chineses, com um Estado fortemente centrípeto, percebem bem esta linguagem de conúbio entre política e empresas. Algo com que Passos Coelho prometeu acabar.
Sobre a maçonaria, estamos conversados: trata-se de uma associação com mérito na laicização do Estado, no primado da igualdade perante a lei, da educação e da ciência como orientadoras do espírito humano. Lutou contra poderes autocráticos que a forçaram a uma existência secreta, onde se jurava a entreajuda entre "irmãos". Em democracia, porém, o seu secretismo deixou de ter cabimento. E a própria esfera privada, que serve de escudo aos seus membros, deve terminar onde começa o nepotismo daqueles de entre eles que ocupam cargos públicos.
Mas a maçonaria não pode ser um bode expiatório: a partidocracia é pior. Ninguém, hoje, se inscreve num partido por idealismo - talvez, nos das franjas do espetro político, por protesto. Alguns inscrevem-se por julgarem que, lá dentro, terão mais possibilidades de intervir civicamente. A esmagadora maioria adere para ter uma carreira, lugares e dinheiro. E, para isso, ser ou não ser da maçanoria, pouco importa. Como bem sabe Eduardo Catroga. "

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

"Pedradas entre a pedreiragem"! - José António Barreiros




Do José António Barreiros. Subscrevo. Do seu blog A Revolta das Palavras.
"Pedradas entre a pedreiragem
Sociedade iniciática destinada ao conhecimento esotérico, através de rituais simbólicos, associação benemerente, clube filosófico, deísta na tradição inglesa ou agnóstica na tradição francesa, a Maçonaria pode ser uma agremiação de pessoas de bem, afirma-se ser de «homens livres e de bons costumes», como consta de um dos seus textos fundadores. O problema é a definição do que sejam «bons costumes»
Fernando Pessoa, que não era maçon, defendeu-a honradamente num memorável escrito, quando foi promulgada legislação que levou à sua extinção pelo Estado Novo.
Estado Novo, diga-se, de que muitas das suas figuras gradas pertenciam a lojas maçónicas e detinham altos graus. Foi maçon o próprio Presidente da República, Óscar Fragoso Carmona, foi maçon e fundador da loja Fernandes Tomás, na Figueira da Foz, o professor de Direito José Alberto dos Reis. O primeiro, promulgou a lei que ilegalizou a Maçonaria, o segundo presidiu à Assembleia Nacional onde se votou. Figuras da Igreja Católica, com grau de Bispo, foram membros da Maçonaria. Fiéis ao seu Deus e ao Supremo Arquitecto do Universo.
O facto de a sociedade dos pedreiros-livres se prestar a conluio e a perversões é tão antiga como a sua existência. A sua defesa e os ataques contra ela são parte da História Contemporânea. Trata-se de uma entidade que já recebeu como irmão o ditador Augusto Pinochet e de que fizeram parte a quase totalidade dos Presidentes dos Estados Unidos da América e grande número de membros da Família Real Inglesa. Além de uma multidão de pessoas que, em termos de importância social, são nada. E gente decente que nada tira e tudo dá.
Há nela de tudo. E há sobretudo quem esteja nela pelas mais díspares razões, incluindo as moralmente honestas. E quem a abandone pelos mais variados motivos, incluindo os miseráveis e até pela inconsciência de ter estado. E o seu contrário.
Alexandre Herculano, ao ter saído, mal entrara, escreveu, em 1876: «Uma das minhas rapaziadas foi ser pedreiro livre. Não tardei a deixá-la (à Maçonaria). Achei a coisa mais inepta, mais inútil e muito mais ridícula que uma irmandade de carolas». Sucedeu a muitos.
Salazar, um católico que o CADC animara, sobrepôs a sua ânsia de poder total à sua moderação conservadora, e fez decretar, através de uma Lei n.º 1901, proposta na Assembleia Nacional pelo deputado José Cabral, a extinção da Maçonaria, Lei das Associações Secretas, a votada sob Alberto dos Reis e firmada por Carmona, em nome da qual todos os funcionários públicos teriam de jurar não pertencer nem jamais pertencer-lhes.
Foi por causa do jamais pertencer que o filósofo Agostinho da Silva, em nome da liberdade de poder vir a pertencer, se exilou no Brasil. Quis, já agora, o paradoxo que voltasse a Portugal para um encontro secreto com o mesmo Salazar, através de um arranjo organizado por Franco Nogueira, Ministro dos Negócios Estrangeiros do antigo regime, mas quiseram as fadas que o encontro não tivesse lugar, porque tinha havido uma indiscrição. E daí que esse encontro secreto tivesse passado a um momento discreto na vida do filósofo que não abjurara o secretismo, e que era, aliás, um grande homem e um notável vulto da Cultura.
Escrevo isto porque está na ordem do dia a questão de, a coberto da Maçonaria, poder haver arranjos interesseiros entre políticos, negócios e serviços secretos e outras tropelias. E estar em causa quem deve ou não pertencer. E discutir-se se o mal não é a Maçonaria em si ou aquelas ovelhas negras do rebanho laico.
Não faz dúvida ao meu espírito nada do que se discute. Por isso aqui estou.
Não há uma Maçonaria, sim lojas maçónicas. Cada uma tem autonomia e pode albergar uma corja de bandidos ou um grupo de ingénuos. Não há uma Maçonaria, sim várias Maçonarias, com várias orientações filosóficas e diversos rituais, de que os ritos Escocês Antigo e Aceito e o Francês são os mais difundidos em Portugal.
Não se trata em rigor de uma sociedade secreta, porque tudo o que ali se passa de regular e lícito consta de uma imensa biblioteca disponível em qualquer livraria e cada um é livre de declarar a sua pertença. O segredo da Maçonaria, a justa e perfeita, é outro, é o conhecimento gnóstico que a fraternal cadeia de união, através do ritual, permite alcançar, o mistério da morte e ressurreição, a transmutação da imperfeição, uma alquimia em que se torna o chumbo corpóreo na alma aurífera. O tentar o encontro do homem com o Homem, a semente do Humanismo. Como se num êxtase, uma celebração, uma epifania. Quando sucede.
Problema é o que se possa passar nos bastidores, pior, nos esgotos dali. E que a natureza da organização torne suspeito porque menos claro. Daí que eu ache que magistrados não devem fazer parte de nada que não seja público, laico ou religioso. Porque não se podem expor à mínima dúvida.
Claro que, acossadas pela simplificação que os media servem e a política instiga, as pessoas perdem o fiel da balança mental que é o elemento comparativo. O medo ajuda a não pensar. E nada como quem não pensa muito para condenar depressa, tudo e todos.
Num país maioritariamente católico, ridiculariza-se o usar avental em cerimoniais, esquecendo que os padres católicos andam de saias, casulas, estolas e se munem de báculo e hissope e outros artefactos que, vistos de fora, podem ser tão absurdos como ridículos para os que perderam o respeito ao que é simbólico e cuja alarvice os levaria seguramente a rir à gargalhada quando, no momento agónico de uma missa, aquele sujeito assim vestido eleva os braços com uma roda de farinha e a um cálice e dele bebe o vinho!
E com isso se faz blague e risota fácil.
A partir daí está aberta a porta à argumentação barata, mesmo vinda da boca dos que deveriam ter da inteligência um pouco mais de sobejos. Transformada, no arengar desses, em baile de máscaras, a Maçonaria degradada a Carnaval, os seus membros tornam-se palhaços idiotas enfeitados e o Zé Povinho ri, apoucando, às escâncaras, como se o circo tivesse descido à cidade.
Claro que tudo isto é fácil de passar a espectáculo nos meios de comunicação de massa onde se perdeu pudor na argumentação e sobretudo respeito, tudo afogado pela rudeza vil e pela insolência canalha. Basta ligar a TV e ver o lixo nauseabundo que é servido ao País como entretenimento, a devassa sórdida, a violência sanguinária, a repugnância verbal do palavrão a passar por humor, a demagogia.
Mas não é só do ridículo que cuidam os que vêm para a praça pública por causa da Maçonaria. É que, segundo alguns, ela permite ilegalidades e crimes impunes, porque secreta. Ora está aí o ponto por causa do qual vim aqui.
É que os mesmíssimos que assim o proclamam são os que esquecem, em amnésia conveniente, que, em igual critério, a própria Igreja Católica escorre sangue e vergonha porque se comprometeu, em nome da Fé, com coisas bem mais graves do que negociatas e combinas, quando legitimou a carnificina das Cruzadas contra o Infiel ou o extermínio indiscriminado pela "Santa" Inquisição. Para não falar da pedofilia, em Papas sodomitas e assassinos. Houve tragicamente de tudo.
Com uma diferença para pior. É que, na hora do apuramento das contas, dos maçons os honrados ainda podem dizer que, dada a discrição com que tudo se passa no seu seio, não sabiam do que de gravemente errado se passava na Obediência, e dada a autonomia de cada loja e seus triângulos poderão argumentar que só algumas estarão em crime de prevaricação e que ainda há quem se salve.
Na Igreja Católica, das catedrais carregadas de ouro às capelinhas rurais despidas de qualquer adorno, tudo se passou e passa sempre de casa cheia e à vista de todos. Todos os que se ajoelham em oração ou no silêncio dos seus lares rezam ao santo da sua devoção não ignoram o que foi e o que é o Templo Universal a que pertencem e sobretudo a sua História. Impõe-se-lhes humildade e pedido de perdão. Quem estiver livre de pecado que atire a primeira pedra.
As centenas de milhares de seres humanos que, em nome da Fé Cristã, foram exterminados, no dia do Juízo Final levantarão, acusadores, o dedo, sim, para para toda a cristandade. O mesmo Deus que permitiu a matança terá de absolver os matadores.
Inocentes há seguramente também no catolicismo, os que estão na religião por uma união mística com o Divino, os da Igreja de Paulo pedindo perdão pela Igreja de Pedro. Os que rezam a Deus e não a sacerdotes, os que renegam o Bezerro de Ouro, os que clamam por Jesus Cristo e seu azorrague contra os Vendilhões do Templo. Como em todos aqueles cuja Fé passa por Igrejas e Templos.
Um dia, na aldeia de Abravezes, era eu garoto, ouvi, à porta de minha casa, a minha mãe, no dia de hoje precisamente e a esta hora entregue na mesa cirúrgica ao acaso da vida e da morte, rematar uma altercação violenta com o cura da paróquia, que se recusara a ir encomendar o corpo de um pobre tuberculoso, que vivia de esmolas num palheiro, por não ser dos que pagava a côngrua. Rematando o responso, ela que tinha ido ao cemitério, de livro na mão rezar o «dai-lhes Senhor eterno descanso», o que qualquer Baptizado pode fazer como última oração antes que o pó se torne pó, lançou-lhe, como se em danação moral, àquele vergonhoso vigário: «E saiba Senhor Padre, que a minha Religião é directamente com Deus, dispensa Padres!».
É a diferença entre a Fé, os ideias, os princípios e as organizações humanas que dizem servi-los.
Eis o que nesta manhã, o meu coração íntimo dorido sentiu e a minha cabeça privada cansada pensou.
Enfim a parte cívica, pública, social: se há que denunciar vigarices, arranjismos, compadrios, pulhices a coberto de organizações, vamos a isso! Mas vamos a direito. Que não seja só nos serviços de informações.
Há uma forma simples: cada um declara a sua pertença presente e passada e o porquê: mas que isso suceda nos jornais, nos tribunais, na política, nas organizações religiosas.
Quanto a mim o que havia para saber sabe-se e soube-se pela minha boca.
Mas, já agora, porque quando o Sol nasce é para todos e o de hoje teimou em chegar, há horas com este texto que arranco às entranhas da alma, não só ser maçon: que nada escape. Que se faça um varejo de alto a baixo da influência e penetração que tiveram outras organizações, essas à pala da religião, na vida portuguesa.
Basta de hipocrisia, chega de velhacaria!
A certos e determinados que estão silenciosos quais fantasmas, lembro-lhes, para incutir ânimo, o que o seu Jose Maria Escrivà de Ballaguer escreveu: «Vira as costas ao infame, quando sussurra aos teus ouvidos: "Para que te hás-de meter em complicações?"». Venham esses também, para a praça pública, que agora é que isto está bom e sobretudo apetitoso e é a oportunidade sacrificial da mortificação.
Querem portanto discutir os organismos de influência em Portugal e no Mundo? Embora, vamos a isso! Até por uma questão de higiene moral e cívica.
É pois hora de barrela! Hora de arregaçar mangas, pôr a água a correr, venha a sabonária e a lixívia.
Que este Pais, que mete nojo e cheira mal, está a precisar de uma boa esfrega!" Subscrevo na íntegra!

Política: Porca miséria!

Miserável!, por Camilo Lourenço, JNegócios
"Primeiro foi o "caso" da maçonaria e dos políticos a ela ligados (com directos nas televisões). Depois foi o "caso" Jerónimo Martins, que até vai ser levado ao Parlamento. É assim a política portuguesa: move-se consoante a agenda mediática. Para os seus protagonistas, tudo aquilo que provoca "buzz" nas redes sociais ou na opinião pública serve para propaganda.
Primeiro foi o "caso" da maçonaria e dos políticos a ela ligados (com directos nas televisões). Depois foi o "caso" Jerónimo Martins, que até vai ser levado ao Parlamento. É assim a política portuguesa: move-se consoante a agenda mediática. Para os seus protagonistas, tudo aquilo que provoca "buzz" nas redes sociais ou na opinião pública serve para propaganda.
Sejamos honestos: algum daqueles assuntos merece que os políticos percam tempo com eles? É que enquanto o Parlamento se entretém com minudências, ficam por trabalhar as áreas que verdadeiramente tolhem o desenvolvimento do país.
Pegando na saída da Jerónimo Martins, o que devia preocupar os deputados não é o facto em si; é o que lhe está subjacente: a falta de um "acordo de regime" para se ter um quadro fiscal estável que atraia investimento estrangeiro. E, já agora, que evite a saída de empresas do País. Ainda ontem, no "DE", o antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de José Sócrates (pasme-se!) dizia: "Mesmo aquilo que está previsto no código fiscal do investimento é anulado por indefinições ao nível da administração fiscal". E concluiu: "Não será de estranhar que os contribuintes se refugiem em instâncias estáveis".
Quem diz isto não é um deputado. É a pessoa que "mandou" nos impostos, no anterior Governo. É o reconhecimento, puro e duro, de que somos incompetentes. É o reconhecimento de que a classe política conhece os problemas da nossa economia e, em vez de os resolver, assobia para o lado. Miserável."

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O Pelicano - O que Seremos em 2014




Escolho como símbolo para o ano que começa o Pelicano. Conhece-se o seu significado de símbolo maçónico. Importará deixar aqui o que confere mais força ao seu significante e o que encerra a sua forte mensagem.
São Jerónimo, num comentário do Salmo 102, disse: “Sou como um pelicano do deserto, que fustiga o peito e alimenta com o próprio sangue os seus filhos”. “Ó pássaro bom! Ó pelicano bom, Senhor Jesus!” “Que o pássaro bom nos ensine amar mais a Eucaristia, Sacramento no qual Jesus se acha presente, com seu corpo, sangue, alma e divindade. Ele é banquete sagrado, “o pelicano bom a nos inundar com vosso sangue, sangue no qual uma só gota pode salvar o mundo inteiro” (Santo Tomás de Aquino). No hino Adoro te devote: “Pie pellicáne Jésu Domine, Me immundum munda túo sánguine, Cújus una stílla sálvum fácere Tótum múndum quit ab ómni scélere.” (Senhor Jesus, terno pelicano, lava-me a mim, imundo, com o teu sangue, do qual uma só gota já pode salvar o mundo de todos os pecados).
À interpretação teológica, os místicos acrescentaram mais um significado: ao transferir para os outros os nossos talentos e dons, alimentamos as suas vidas. O Pelicano é o símbolo escolhido do Grau de Cavaleiro Rosa Cruz, 18 (grau alquímico por excelência e Cristão), lembrando a origem alquimista dos rosa-cruzes, apelando à simbologia do sacrifício de Cristo, cujo sangue derramado sobre a cruz foi instrumento de regeneração dos espíritos).
A dimensão do símbolo é transportada por Alfred de Musset, no seu poema O Pelicano: “Qualquer preocupação que sofras em tua vida,/ Oh! deixa dilatar-se, esta santa ferida/ Que os negros serafins têm cavado em teu peito/ Nada nos faz tão grandes como um sofrer perfeito./ Mas, por estar atento, não creias, ó poeta,/ Que no Mundo a tua voz deva ficar quieta !/ Os mais pungentes são os cânticos mais belos,/ E eu conheço imortais que são tristes anelos./ Quando o pelicano, em longa viagem solta,/ Nas brumas da tardinha aos seus caniços volta,/ Famintos filhos seus caminham sobre a praia,/ Vendo-o esbater-se ao longe em cima às plúmbeas águas/ Já crendo em apanhar e repartir a presa/ Eles correm ao pai com gritos de alegrias/ Erguendo os bicos sobre as gargantas frias./ Ele, galgando a passos lentos uma rocha elevada,/ Em sua asa pendente abrigando a ninhada,/ Pescador melancólico, ele olha os céus./ O sangue corre em golfadas em seu peito aberto;/ Em vão dos mares escavou a profundeza:/ O Oceano estava vazio e a praia deserta;/ Por todo alimento ele traz seu coração./ Sombrio e silencioso, estendido sobre a pedra,/ Repartindo aos seus filhos suas entranhas de pai,/ No seu amor sublime embala a sua dor,/ E, olhando escorrer seu peito a sangrar,/ Sobre seu festim de morte ele se prostra e cambaleia,/ Ébrio de volúpia, de ternura e de horror./ Mas às vezes, no meio do divino sacrifício,/ Fatigado de morrer em tão longo suplício,/ Ele acredita que os filhos o deixem vivendo;/ Então soergue-se, abre sua asa ao vento,/ E, ferindo-se o coração com um grito selvagem,/ Solta dentro da noite um tão fúnebre adeus,/ Que os pássaros dos mares desertam a beira-mar,/ E que o viajante demorado na praia,/ Sentindo passar a morte, se recomenda a Deus.” (La Nuit de Mai (1835)).
O Pelicano, enquanto Dador, está em intima ligação com o Tronco da Viúva, oferecido aos Ir.’. no sigilo do Hospitaleiro e do Venerável. Ambos providenciam. Ambos amparam. Na sacralidade do rito, faço duas ressalvas quanto ao Tronco da Viúva. A primeira para a descrição que rodeia o seu uso, adentro do texto bíblico (Mateus 6:2-4) “Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. “3 Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita; 4 para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.” A outra, para a sacralidade que acompanha a sua passagem pela L.’. e que provém do conjunto de energias [centradas, por fim, na Egrégora] que animam os Ir.’., como ele mesmo fosse incenso queimado (como a lei de Amra – causa e efeito).
Como construtores sociais, tomemos consciência do nosso papel na Ordem e na sociedade. Lembremo-nos do Pelicano. Da caridade com que distribui voluntariosamente o alimento em seu próprio sacrifício e em prol dos filhos que ama e que dele carecem para (sobre)viver. Atente-se na bondade com que o faz. Para homens que se aprimoram na conversão dos símbolos em valores e princípios operativos, o Pelicano insurge-se como uma força que devemos trabalhar em Nós. Copiemos-lhe os gestos, indo em socorro dos que precisam. Por excelência, sempre, prioritariamente, dos nossos. Sem alardes. Desprezando as luzes da ribalta, os holofotes mundanos, os favores profanos que agradecem caridades postiças e não a verdadeira generosidade [do Pelicano]. Se entendermos o Pelicano como o Deus que provê alimento para o seu Cosmos, satisfazendo-o com a própria substância, resta-nos, movidos pela energia do símbolo, abrir as nossas entranhas e deixar cair, em fraternidade, gota a gota, pedaço a pedaço (3-5-7), o alimento em falta. Ser Maçon é também Ser esse Pelicano. Oferecer essa ajuda. Emprestar as forças - não as que nos sobejam, mas as que temos, Todas as que Temos - a quem delas mais precisa. Provir essas necessidades. Sermos e Estarmos para os Outros, pelos Outros e nos Outros. Enlaçarmo-nos nesse (enorme) abraço fraternal.

A «deslocalização fiscal» do Pingo Doce.

Aconselho a leitura do livro. Autor: Alexandre Soares dos Santos. Considerado pela Forbes em Março de 2011 o segundo português mais rico, apenas antecedido por Américo Amorim, um singelo trabalhador da área da cortiça. "Consciente da situação que o país atravessa, Alexandre Soares dos Santos explica neste livro o enquadramento legal subjacente ao processo de transferência para uma sede, na Holanda (onde estão sediados vários offshores), das acções que a família detinha na Jerónimo Martins, e o modo como se solidariza, assim, com «as dificuldades que o povo está a atravessar» (como referia numa entrevista recentemente concedida a Fátima Campos Ferreira).(*)
No prefácio, António Barreto discorre uma vez mais sobre a falência do Estado social, reiterando que «há direitos que não são compatíveis com a crise» e critica a Constituição, na qual «o cidadão português tem todos os direitos e mais alguns». A Pordata comemorará o lançamento deste livro activando um daqueles «simuladores ao segundo» em que, em vez do aumento da despesa pública em saúde ou educação, surgirá o valor das perdas de receita que resultam dos expedientes de «deslocalização fiscal» a que recorrem muitos dos grandes grupos nacionais.
(*) Percebe-se hoje o verdadeiro alcance de uma frase de Alexandre Soares dos Santos nessa mesma entrevista: «vamos dar corda aos sapatos»." (blog Ladrões de Bicicletas)

Estado paga a especuladores do BPN (à Igreja)!

Leio que o Estado (alguém adivinha a que "estado" me refiro?) vai pagar a padres de Fátima milhões perdidos em "especulação" no BPN. Fátima "especula"!? - espanto-me (ou talvez não!). Parece que, durante um ano, uma instituição religiosa de Fátima entregou 3,5 milhões de euros a um gestor do BPN que prometia juros superiores aos dos depósitos a prazo. Só que, afinal, o dinheiro foi desviado e perdido na Bolsa. E agora o Estado vai pagar tudo. A condenação do BPN foi decidida pelos juízes do Supremo Tribunal de Justiça, numa acção cível. Estes consideram que o Instituto Missionário da Consolata tem direito a receber tudo aquilo que entregou ao gestor bancário Leonel Gordo, de 46 anos, entre 2004 e 2005, em cheques mas também em dinheiro vivo, para investimentos especulativos e de alto risco. Até aqui, faça-se Justiça. Mas "e os outros"!? Proponho que a Igreja Católica abra aqui o seu próprio banco (e não me refiro a delegações via Opus Dei) e que forme agentes especuladores a quem possamos tranquilamente entregar o pouco dinheiro que nos resta. Ao menos assim saberíamos que estava certo e seguro e que a Igreja (ciente da bondade desta decisão e desejosa de estender o seu alcance aos "outros", incluindo aqui fiéis e infiéis, se aprontaria a devolver as perdas dessa "especulação"!? Ou será que isto não funcionaria na inversa?! Valha-me Nossa Senhora de Fátima - e não me acusem de invocar o nome Dela em vão, porque qualquer santo partilhará destas perplexidades.