Catroga é maçon?, por Filipe Luis, Visão
"Será que Eduardo Catroga é da maçonaria? Que se saiba, não. Mas isso não impede este prestigiado professor e economista, detentor de uma das reformas milionárias de que tanto se fala, ocupar um cargo que, a honorários praticados nos últimos anos (inclui uma prestação para PPR!), lhe renderá, em termos brutos, 639 mil euros por ano, durante os três anos do mandato. Catroga, 69 anos, é de uma competência comprovada. Mas há outros com igual competência, mais jovens, promissores e... independentes. Terá sido a competência o único critério que levou à sua nomeação para presidente do Conselho Geral e de Supervisão da EDP? Ou será porque Catroga é um ministro histórico do PSD, próximo de Cavaco Silva, conselheiro privilegiado de Passos Coelho (antes da ida deste para o Governo) e seu representante nas negociações com a troika? Maçonarias são como os chapéus: há muitas. Mas os palermas somos nós.
A maçonaria surgiu como uma enorme cortina de fumo mediática que nos distrai de outro processo em curso: o das nomeações. Elas tardam mas não falham: na Caixa Geral de Depósitos (CGD), na EDP (empresa que foi privatizada, sob o signo de uma cumplicidade entre governos que parece perdurar - os chineses da Three Gorges são estatais...), nos hospitais e suas chefias intermédias e, em seguida, no que resta do setor empresarial do Estado. Olhem para os outros nomes do órgão de supervisão da elétrica: Paulo Teixeira Pinto, PSD, coordenador do projeto de revisão constitucional do partido. Ilídio Pinho, administrador da empresa onde trabalhou o primeiro-ministro. Jorge Braga de Macedo, ex-ministro de Cavaco. Rocha Vieira, antigo ministro da República nos Açores, nomeado por Cavaco, ex-governador de Macau e sempre compagnont de route do Presidente. Celeste Cardona, CDS, antiga modesta jurista mas cuja passagem pelo Governo da AD a fez transitar para um não menos polémico cargo na CGD.
As nomeações para a EDP demonstram que os chineses querem manter o Governo português como um aliado (que tê-lo na mão seria uma expressão demasiado forte). Os chineses, com um Estado fortemente centrípeto, percebem bem esta linguagem de conúbio entre política e empresas. Algo com que Passos Coelho prometeu acabar.
Sobre a maçonaria, estamos conversados: trata-se de uma associação com mérito na laicização do Estado, no primado da igualdade perante a lei, da educação e da ciência como orientadoras do espírito humano. Lutou contra poderes autocráticos que a forçaram a uma existência secreta, onde se jurava a entreajuda entre "irmãos". Em democracia, porém, o seu secretismo deixou de ter cabimento. E a própria esfera privada, que serve de escudo aos seus membros, deve terminar onde começa o nepotismo daqueles de entre eles que ocupam cargos públicos.
Mas a maçonaria não pode ser um bode expiatório: a partidocracia é pior. Ninguém, hoje, se inscreve num partido por idealismo - talvez, nos das franjas do espetro político, por protesto. Alguns inscrevem-se por julgarem que, lá dentro, terão mais possibilidades de intervir civicamente. A esmagadora maioria adere para ter uma carreira, lugares e dinheiro. E, para isso, ser ou não ser da maçanoria, pouco importa. Como bem sabe Eduardo Catroga. "