O J.A.Saraiva teve um dos seus laivos de lucidez que adjudico desde já.
Pergunta ele: Onde estão as elites? Refere-se ele à elite política.
E parte de um princípio profundamente lógico.
Única questão.
Tendo em conta que a evolução e o desenvolvimento dos países depende da capacidade dos homens que os lideram, dos que se posicionam em situação de influência nos sectores vitais da sociedade.
E quando falamos em capacidade fala-se em gente capaz, séria, competente e empreendedora (não a gente que recorre à fraude, à corrupção, à usura para alcançar os objectivos!).
E aí vem, de novo, a pergunta: Onde estão as elites?
Isto porque é sabido que, em várias áreas-chave, estamos cheios de gente que, pura e simplesmente ... não presta.
Vejamos, acompanhando o J.A.Saraiva.
Quanto ao ensino. No tempo de Salazar (de que aliás a minha família não tem qualquer boa memória!) não havia universidades privadas (excepção para a Católica, fundada em 1968, com um estatuto (já então!) especial). Depois do 25 de Abril, uma das reivindicações dos liberais foi a criação de universidades privadas, que se multiplicaram numa quantidade reprodutiva apenas igualável aos ... coelhos: Lusíada, Independente, Lusófona, Internacional, Atlântica, Moderna... Anos volvidos, eis os escândalos, também multiplicados em ... cadeia (a Moderna, a Independente, a Internacional) e, aparentemente, a primazia de um ideal - o negócio (às vezes, o negócio fraudulento).
Na banca, uma história semelhante. Antes do 25 de Abril podiam fundar-se bancos privados "embora sob a vigilância próxima do Estado (e o olhar atento de Salazar)", o que não impediu "casos" como o da herança Sommer e os conflitos com Cupertino de Miranda. Passado o período revolucionário, a banca portuguesa adquiriu novo fôlego, com as reprivatizações dos bancos (BPA, Totta, Espírito Santo) e a criação de bancos novos (BCP, BPI e outros), as aquisições e fusões em série, e estalou o escândalo do BCP (de contornos mal definidos, uma zanga entre accionistas que destapou situações que, noutras circunstâncias, seriam inconsequentes), seguido do escândalo do BPN e a este o do BPP. Em suma, escândalos que cataduparam toda a área para a suspeita. (Como sucedeu nas universidades, em que só as públicas e a Católica não passaram a ser olhadas com desconfiança, na banca, só a Caixa Geral de Depósitos não foi afectada pela hecatombe!).
Veja-se por cúmulo o futebol, sempre uma área difusa, dominada por interesses privados, acompanhada de perto pelo anterior regime. O Benfica, com o evidente apoio estatal (Salazar não deixou Eusébio emigrar!), o Sporting integrava figuras gradas do regime (o Belenenses tinha Américo Thomaz como adepto e presidente honorário). O 25 de Abril até aqui mais uma revolução, ‘completada' mais tarde por Pinto da Costa, que transfere o centro de gravidade clubístico de Lisboa para o Porto. Tal como nas duas áreas anteriores, depois de o futebol ter sido entregue a si próprio logo se começou a falar de escândalos. Do Apito Dourado, até pesadelos "justiceiros" com árbitros, dirigentes e presidentes de Câmara (José Guímaro, Pimenta Machado, Valentim Loureiro, Fátima Felgueiras, José Eduardo Simões ...).
Três sectores que fugiram ao controlo/tutela do Estado, com a sociedade civil em livre trânsito, e o resultado à vista: o descalabro (corrupção, fraudes financeiras, gestão ruinosa, associações criminosas, fugas ao fisco ...).
E isto já diz muito (ou tudo!) sobra as nossas elites (ou a falta delas!).
Em duas áreas de referência social - a universidade e a banca - e na que desencadeia maiores paixões e arrasta multidões - o futebol -, os dirigentes (ou seja, as supostas elites) falharam rotundamente.
E é este o aspecto mais preocupante da sociedade portuguesa.
Os países podem ter melhores ou piores Governos, mas só podem desenvolver-se sobre a aurea das elites (das boas elites). E, por "elites" entendemos tãosomente "gente capaz, séria, competente e empreendedora".
Pergunta ele: Onde estão as elites? Refere-se ele à elite política.
E parte de um princípio profundamente lógico.
Única questão.
Tendo em conta que a evolução e o desenvolvimento dos países depende da capacidade dos homens que os lideram, dos que se posicionam em situação de influência nos sectores vitais da sociedade.
E quando falamos em capacidade fala-se em gente capaz, séria, competente e empreendedora (não a gente que recorre à fraude, à corrupção, à usura para alcançar os objectivos!).
E aí vem, de novo, a pergunta: Onde estão as elites?
Isto porque é sabido que, em várias áreas-chave, estamos cheios de gente que, pura e simplesmente ... não presta.
Vejamos, acompanhando o J.A.Saraiva.
Quanto ao ensino. No tempo de Salazar (de que aliás a minha família não tem qualquer boa memória!) não havia universidades privadas (excepção para a Católica, fundada em 1968, com um estatuto (já então!) especial). Depois do 25 de Abril, uma das reivindicações dos liberais foi a criação de universidades privadas, que se multiplicaram numa quantidade reprodutiva apenas igualável aos ... coelhos: Lusíada, Independente, Lusófona, Internacional, Atlântica, Moderna... Anos volvidos, eis os escândalos, também multiplicados em ... cadeia (a Moderna, a Independente, a Internacional) e, aparentemente, a primazia de um ideal - o negócio (às vezes, o negócio fraudulento).
Na banca, uma história semelhante. Antes do 25 de Abril podiam fundar-se bancos privados "embora sob a vigilância próxima do Estado (e o olhar atento de Salazar)", o que não impediu "casos" como o da herança Sommer e os conflitos com Cupertino de Miranda. Passado o período revolucionário, a banca portuguesa adquiriu novo fôlego, com as reprivatizações dos bancos (BPA, Totta, Espírito Santo) e a criação de bancos novos (BCP, BPI e outros), as aquisições e fusões em série, e estalou o escândalo do BCP (de contornos mal definidos, uma zanga entre accionistas que destapou situações que, noutras circunstâncias, seriam inconsequentes), seguido do escândalo do BPN e a este o do BPP. Em suma, escândalos que cataduparam toda a área para a suspeita. (Como sucedeu nas universidades, em que só as públicas e a Católica não passaram a ser olhadas com desconfiança, na banca, só a Caixa Geral de Depósitos não foi afectada pela hecatombe!).
Veja-se por cúmulo o futebol, sempre uma área difusa, dominada por interesses privados, acompanhada de perto pelo anterior regime. O Benfica, com o evidente apoio estatal (Salazar não deixou Eusébio emigrar!), o Sporting integrava figuras gradas do regime (o Belenenses tinha Américo Thomaz como adepto e presidente honorário). O 25 de Abril até aqui mais uma revolução, ‘completada' mais tarde por Pinto da Costa, que transfere o centro de gravidade clubístico de Lisboa para o Porto. Tal como nas duas áreas anteriores, depois de o futebol ter sido entregue a si próprio logo se começou a falar de escândalos. Do Apito Dourado, até pesadelos "justiceiros" com árbitros, dirigentes e presidentes de Câmara (José Guímaro, Pimenta Machado, Valentim Loureiro, Fátima Felgueiras, José Eduardo Simões ...).
Três sectores que fugiram ao controlo/tutela do Estado, com a sociedade civil em livre trânsito, e o resultado à vista: o descalabro (corrupção, fraudes financeiras, gestão ruinosa, associações criminosas, fugas ao fisco ...).
E isto já diz muito (ou tudo!) sobra as nossas elites (ou a falta delas!).
Em duas áreas de referência social - a universidade e a banca - e na que desencadeia maiores paixões e arrasta multidões - o futebol -, os dirigentes (ou seja, as supostas elites) falharam rotundamente.
E é este o aspecto mais preocupante da sociedade portuguesa.
Os países podem ter melhores ou piores Governos, mas só podem desenvolver-se sobre a aurea das elites (das boas elites). E, por "elites" entendemos tãosomente "gente capaz, séria, competente e empreendedora".
Aqui está o grande problema: se os portugueses funcionam bem quando estão lá fora, por que não rendem o mesmo aqui? Porque não existem elites que estimulem os cidadãos e aproveitem as potencialidades do país. Mas, estou certa que existem pessoas capazes, sérias e empreendedoras, só que existe também muita gentinha com medo de as descobrir, de as chamar à chefia, à liderança, porque as pessoas capazes de criar e sedimentar essa elite são uma ameaça aos que pretendem fazer parte - e muitos fazem parte mesmo - de uma suposta elite, que nada vale, que nada vê, que nada melhora ou desenvolve. Limita-se simplesmente a empatar o crescimento dos que podem integrar uma nova elite, por sobrevivência, porque no dia em que essa tome a liderança deste país, não haverá mais espaço para a "elite" actual.
O que é bom para o país, mas muito mau para as "ditas" elites de hoje.