sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A mão de "Deus"

O artigo de Paulo Gaião no Semanário intitulado "O rei vai nu" (alegoria usada em artigos antecedentes a propósito do nosso principezinho Pedro "O Maquivel" obriga a pensar os bons de portugueses que sempre viram no PR um semi-deus.
Diz ele que:
"Ao longo dos anos muita gente se tem recusado inexplicavelmente a aprofundar quem é, realmente, Cavaco Silva." Discordo do "inexplicavelmente"! Quem critica Cavaco não te nem bom nem mau caminho, fica sem caminho!
A propósito do saneamento político de Fernando Lima, recorda como o PR sempre foi implacável. Vejam-se o "eclipse" de Eurico de Melo, Miguel Cadilhe, Fernando Nogueira, Álvaro Barreto, Santana Lopes.
Fernando Nogueira, um dos homens que provavelmente mais venerou Cavaco, n.º 2 de Cavaco no Governo, viu, no silêncio (estes silêncios estratégicos que tão bem MFL consegue seguir) do 1º sobre as presidenciais, um sinal de que Cavaco pretendia avançar para Belém, apadrinhando a sua ascensão. Engoliu o sapo. Cavaco descredibilizou-o, fê-lo perder o papel de delfim, deixando a todos a imagem de que sobre as intenções do PR nada sabia e que portanto não havia qualquer relação privilegiada entre os dois. Ao tempo, foi a antevisão de uma morte política. Ou se segredava com Cavaco, se frequentava Boliqueime, ou era-se nada. E FN ficou reduzido a pó.
"Cavaco só pensou em si e no seu interesse político ..."
Miguel Cadilhe foi Ministro das Finanças. Bastou a acusação de que teria fugido à sisa para se ver o fumo do fim de uma carreira que se adivinhava brilhante, até porque havia sido apadrinhada por Cavaco. Este dá a impressão de o apoiar e depois a reimpressão de que pensando melhor ... fez Cadilhe sair do governo, foi um "assassinato político a sangue frio".
Segue-se o raciocínio do analista com Álvaro Barreto (um dos remodelados no mesmo "arrastão" de Cadilhe). Parece que Cavaco nunca lhe sentira o devido agradecimento por tê-lo feito ministro ", ele que estava no lote de ministros com "patine", como Mira Amaral, muito longe do país profundo de Boliqueime."
Bastou Álvaro Barreto deixar cair, numa entrevista, uns alegados "recados incómodos para dentro do Governo", segundo o PR (estas manias de perseguição já vêm de trás, portanto, como se vê!).
Na célebre "leva" dos remodelados de 1990, "uma remodelação que apanhou todos os ministros de surpresa, feita na passagem do ano," prepara a queda de Eurico de Melo -um dos poucos barões que o apoiara incondicionalmente em 1985, na Figueira da Foz, "frente a João Salgueiro, apoiado por quase todos os barões do partido." Como "paga" Cavaco levou-o para o seu governo. Anos volvidos, quando Eurico quis sair do governo por motivos pessoais, Cavaco ter-lhe-á pedido que ficasse. Ao que EM acedeu "com a grandeza de um presbítero meses depois, Eurico voltou a pedir a Cavaco para sair." Cavaco volta a pedir-lhe para esperar.
Vai que foi na tal "leva" dos remodelados, que Eurico cai como os demais, sem qualquer sinal de respeito, de diferença, especial.
Segue-se Santana Lopes, "o caso ainda é fresco, nos célebres tiros de dentro da trincheira. A 27 de Novembro de 2004, Cavaco Silva escreveu no "Expresso" um artigo sobre a má moeda, atacando directamente o governo do seu próprio partido. Três dias depois, e muitas intentonas de vários sectores à mistura, Santana Lopes tinha perdido o lugar de primeiro-ministro." Reconheça-se que a PSL nem Cavaco chegou para o "assassinar politicamente"!
Por fim, abriu-se a porta ao PS e à candidatura presidencial do próprio Cavaco.
O que se passou com Fernando Lima poderá parecer uma incógnita. Mas se o parece não o é, com certeza.
Trata-se de mais um soldado que obedeceu a ordens cegamente sem as refutar e depois foi ostracizado para mostrar a discordância do chefe quanto às ditas!
E se Cavaco tem sido um padrinho para algumas das almas gémeas (como MFL) também tem estado muito bem na pele de carrasco quando os seus mais fiéis seguidores mostram que afinal vêm para além da sua própria sombra!