Miriam Assor, a ser, finalmente, premiada pelo excelente trabalho de investigação que tem vindo a fazer em prol de uma causa que defendo fervorosamente: o reconhecimento do trabalho e do empenho dos judeus na história de Portugal. Sobre o patriotismo dos portugueses judeus, note-se que está interiorizado na mente dos historiadores portugueses, na sua grande maioria de formação católica, a ideia que só os católicos são verdadeiramente portugueses. Os que professam outras religiões são simplesmente tratados como judeus ou protestantes. O objectivo não confessado é exclui-los do grupo dos portugueses. A verdade é que história destes excluídos está repleta impressionantes exemplos de amor à pátria, mesmo depois de terem dela sido obrigados a fugir.
A expansão portuguesa desde o inicio (1415), contou com inúmeros judeos que deram a sua vida ao serviço deta causa nacional. Mestre Abraão Negro, rabi-mor de D. Afonso V, por exemplo, morreu na conquista de Arzila (1471), onde compareceu com os seus servidores, a cavalo. No período de ocupação de Portugal pela Espanha, entre 1580 e 1640, os exemplos foram multiplos. No país aparecem à frente de muitas revoltas contra os espanhóis. Entre 1540 e 1821 a Inquisição portuguesa, em todos os seus tribunais, instaurou 44.817 processos, executou 2.064 pessoas, das quais 600 foram em esfinge (estátua). Cerca de mil dos mortos foram acusados de judaísmo. Portugal foi até final do século XVIII, conhecido como uma nação de judeus, tal era o grau de "impureza" do sangue dos seus habitantes, ainda que fossem maioritariamente católicos... Na Idade Média, em Portugal, a conversão era suficiente para passar do judaísmo para o cristianismo. A miscigenação era intensa. Duas leis portuguesas datadas de 1211 referem o assunto: Uma proíbe ao pai judeu que deserde o filho que se fez cristão. A outra proibe a conversão temporária, para evitar conversões oportunistas. No final do século XV e principios do XVI são frequentes os casamentos de fidalgos com ricas herdeiras judias. O regimento dos Ofícios Mecânicos de Lisboa, datado de 1572, estabelecia que a metade dos eleitores deveriam ser descendentes de judeus. Em 1647, quase todas as dignidades da Sé de Lisboa eram descendentes de judeus. No estrangeiro, muitos portugueses católicos, para não serem identificados como judeus escondiam a sua nacionalidade. Ao longo de séculos, podemos observar a um constante cruzamento entre judeus e católicos, o que levou que ambos comunguem do mesmo património genético em Portugal. Inúmeros judeus converteram-se ao cristianismo, mas o contrário também aconteceu com bastante frequência, cristãos que se convertiam ao judaísmo. Um exemplo: Um frade pregador, irmão do célebre Simão Dias Solis, impressionado pela forma como o mesmo fora julgado e morto, renunciou ao catolicismo, refugiou-se na Holanda, tendo-se convertido ao judaísmo, adoptando o nome de Eleazar de Solis.
Um estudo internacional sobre o património genético da população portuguesa, corroborou aquilo que os historiadores à muito sabiam: Ainda hoje 37% tem material genético de antigos judeus da Palestina. A acreditar nos resultados deste estudo, temos que concluir que existem mais "judeus" (biológicos) em Portugal do que em Israel !, muitos dos quais aliás são de origem lusa... Pensem nisto!