segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Mudam-se os tempos ... e a Maçonaria não se altera.


Os tempos obrigam a que se recorde a defesa continuada dos valores maçónicos. Hoje, como antes. Explicando porque a Maçonaria não é uma simples associação secreta mas uma ordem iniciática, apresento-vos o texto Da República (1910 - 1935), no qual Fernando Pessoa argumenta sobre o artigo de José Cabral, publicado no jornal "Diário de Lisboa": o projecto lei de proibição das actividades da Maçonaria:

1. "Tudo quanto de sério ou de importante se faz, faz-se em segredo; e, se as associações secretas são más por serem secretas, todos quantos decidem qualquer coisa sem ser em público, ou com plena publicidade ulterior, estão em igual estado de perversidade.
2. Aparentemente dirigido contra "associações secretas" em geral, o projecto de lei era realmente dirigido contra a Maçonaria.
3. A Maçonaria não é uma simples associação secreta mas uma ordem iniciática, e o seu segredo é o comum a todas as ordens iniciáticas, a todos os chamados Mistérios e a todas as iniciações, ainda que fora de Templo, isto é, directamente de Mestre a Discípulo. 
4. Da conversão do projecto em lei adviriam três consequências: (a) coisa nenhuma, porque as ordens iniciáticas não se destroem de fora, nem há exemplo de haver vingado qualquer tentativa (e citei três) de as extinguir; (b) perseguição aos melhores maçons; (c) criação de uma corrente hostil contra nós no estrangeiro — e citei exemplos de idêntica hostilidade em casos de perseguição à Maçonaria —, no que nunca há vantagem, sobretudo para um país como o nosso — pequeno, fraco, com ambições constantes sobre as suas colónias.
5. À parte tudo isto, a Maçonaria não é maléfica nem daninha, e erros ou até "crimes" que porventura provadamente se lhe apresentem são ou: (a) provenientes da falibilidade humana, pois que a Maçonaria é composta de homens; ou (b) de circunstâncias de meio e época que a Maçonaria não criou e que nela influem, ou em certos sectores dela, como influem sobre toda a gente; e que (c) nas mesmas circunstâncias está qualquer outra instituição, secreta ou pública, que exista no mundo, como, por exemplo. a Igreja de Roma, cujos erros e crimes provados são quase sem número.
Fora da linha do argumento fiz também incidentalmente, e a um outro propósito, as seguintes afirmações, que não constituem argumento:
6. O Sr. José Cabral e os anti-maçons são completamente ignorantes de assuntos maçónicos.
7. (a) Não sou maçon, nem pertenço a qualquer Ordem; (b) sou suficientemente conhecedor de assuntos maçónicos para deles poder confiadamente ocupar-me; (c) os meus conhecimentos maçónicos derivam-se, não da simples leitura de livros mas de certa "preparação especial", cuja natureza me não propunha, nem agora me proponho, indicar; (d) não sou anti-maçon; antes, através do meu estudo da Maçonaria, adquiri um conceito favorável dessa Ordem; (e) em virtude disso — não foi realmente só em virtude disso — vim defender a Maçonaria." Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão). Lisboa: Ática, 1979. - 135.)