quinta-feira, 5 de julho de 2012

Tolerância. Amor. E a compatibilidade com a "perfeição"!?


Deixo-vos um texto triste, para reflexão.
O que leva alguns Ir.'. a criticarem tão severamente outros?  
A Primeira Carta de São João adverte: “Se alguém disser: “Eu amo a Deus”, mas aquele que odiar o seu irmão, esse é um mentiroso, pois aquele que não ama o seu irmão a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê.””Nós recebemos de Cristo este mandamento: “Quem ama a Deus ame também o seu irmão” (1 Jo 4, 20-21).
Nós que buscamos a perfeição (ou a perfectibilidade), enquanto reflexo da criação divina, devemos indagar-nos até que ponto, de que forma, qual a extensão e a abrangência desta almejada “perfeição”, em nós e nos outros.
Por certo que não temos em mente aquela “perfeição”, [do latim perfectione] – 1. Conjunto de todas as qualidades, a ausência de quaisquer defeitos. 2. Que atingiu o grau máximo em uma escala de valores. 3. Apuro, esmero, maestria, precisão, perícia, primor, requinte. Ou, ainda, o Ser Perfeito [do latim perfectu] – 1. Que reúne todas qualidades possíveis. 2. Que atingiu o mais alto grau em uma escala de valores; incomparável, único, sem igual. 3. Que corresponde a um modelo, conceito ou padrão considerado ideal; exemplar, modelar. 4. Executado sem defeito; primoroso, impecável. 5. Que não enseja dúvida alguma; cabal; completo; total. 6. Excelente, ótimo, irrepreensível.
O amor fraternal que temos ao nosso Ir.’. é, em essência e por natureza, um amor tolerante: Ou é um amor orgulhoso, arrogante, intolerante, na medida em que exigimos do outro o “nosso” padrão de perfeição? Se um Ir.’. se afasta de outro, porque o seu padrão de “perfeição” é outro supostamente mais alto, mais perto dos cânones etimológicos do vocábulo, é tolerante? Ensaia na sua vida essa prática de amor tolerante de aceitação e de compreensão?
"Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós” (Antoine de Saint-Exupery). “Passar” pela vida dos outros é suficiente para a dádiva da minha parca e destreinada perfeição ao outro? Vamos trilhando o caminho inóspito de perfeição possível e tropeçamos na nossa “perfeição”, tão diferente da perfeição dos outros, a que afasta? A ostraciza!? 
E a tolerância? A tal qualidade que nos leva a aceitar as diferenças dos outros na esperança egoísta de que eles assim aceitem as nossas! A solidão que, às vezes, é um caminho de vida pessoal, pode também ser um caminho maçónico. Quantos caem no adormecimento!? Talvez, numa escola de supostos livres pensadores, ainda tenhamos muito a aprender sobre o grau de perfeição que cada um deve exigir do outro e de si mesmo. E compreender que a tolerância é a ponte que nos permite estar nesta fraternidade, numa cadeia de união fortalecida. 
Sem esse amor fraternal, tolerante, a “perfeição”, enquanto parâmetro de avaliação e de ponderação entre irmãos, choca-me e pode ser uma “pedra de tropeço”! 
Recordo aqui o Hino à Tolerância, do Agostinho da Sulva: “Já será grande a tua obra se tiveres conseguido levar a tolerância ao espírito dos que vivem em volta; tolerância que não seja feita de indiferença, da cinzenta igualdade que o mundo apresenta aos olhos que não vêem e às mãos que não agem; tolerância que, afirmando o que pensa, ainda nas horas mais perigosas, se coíba de eliminar o adversário e tenha sempre presente a diferença das almas e dos hábitos; dar-lhe-ão, se quiserem, o tom da ironia, para si próprios, para os outros; mas não hão-de cair no cepticismo e no cómodo sorriso superior; quando chegar o proceder, saberão o gosto da energia e das firmes atitudes. Mais a hão-de ter como vencedores do que como vencidos; a tolerância em face do que esmaga não anda longe do temor; então, antes os quero violentos que cobardes.
Mas tu mesmo, Marcos, com que direito és tolerante? Acaso te julgas possuidor da verdade? Em que trono te sentaram para que assim olhes de cima o resto dos humanos e todo o mundo em redor? Por que tão cedo te separas de compreender e de amar? Tens a pena do rico para o pobre, dás-lhe a esmola de lhe não fazer mal; baixaste a suportar o que é divino como tu; e queres que te vejamos superior porque já te não deixas irritar por gestos ou palavras dos irmãos. Mais alto te pretendo e mais humilde; à tolerância que envergonha substitui o cálido interesse pedagógico, o gosto fraternal de aprender e de guiar; não levantes barreiras, mas abate-as; se consideras pior o caminho dos outros vai junto deles, aconselha-os e guia-os; não os deixes errar só porque os dominarias, se quisesses; transforma em forte, viva chama o que a pouco e pouco se dirige a não ser mais que um gelado desdém. (Agostinho da Silva, in 'Considerações').
A Tolerância é a justeza, a adaptação, o caminho procurado em confronto com “O aviltante conceito da perfectibilidade humana.” (Fernando Pessoa)
O espelho continua a ser o nosso maior inimigo! E se todos os espelhos de cada um forem os seus piores inimigos, então calcorrearemos as pedras do caminho sozinhos, de costas voltadas para os nossos irmãos, “orgulhosamente sós”. Jamais juntaremos as pedras! Jamais construiremos Templos! Seremos mestres construtores de muros! De muros à nossa volta, intransponíveis! Fronteiras erguidas contra os nossos irmãos? 
Teremos compreendido alguma coisa do que é Maçonaria?