"Tomado por imbecil e serve de expressão ao desrespeito. Entre os pérfidos indivíduos práticos de hoje, a mentira há muito perdeu a sua função de iludir acerca do real. Ninguém acredita em ninguém, todos sabem disto. Só mentimos para dar a entender ao outro que nele nada nos importa que não tenha necessidade dele, que nos é indiferente o que ele pensa de nós. A mentira, antigamente um meio liberal de comunicação, tornou-se hoje uma técnica de descaramento com cujo auxílio cada indivíduo espalha em seu redor a frieza sob cuja proteção ele pode prosperar (Adorno, 1993). Assim sendo defini-se o traço da falsidade como uma característica do que não tem veracidade. De fato, algumas pessoas se sentem obrigatoriamente a serem falsas, cínicas, mentirosas, canalhas, desgraçadas, pois se cultua o superficialismo humano, afetivo, estético, econômico, portanto estão distantes de Deus. Desse modo precisamos buscar apoio divino para retirar o espírito maligno que abastece o mal. Força-se uma barra para ter um nível econômico inexistente. Endivida-se para viver uma falsidade. Freqüenta-se uma igreja, mas o coração permanece sujo. Amigos são desleais, portanto nos traem pela inveja. Casam-se obrigatoriamente, uma vez que se sentem impulsionados ao cinismo social. Mostram-se superiores para os vizinhos fofoqueiros. Emagrecem-se com venenos. Tomam bomba para ficarem fortes, entretanto impotentes. Fortões dissimuladamente atacam as moças, mas são penetrados pelos peões. Desse modo, os traços das mentiras, dos engodos, das enganações, e das diversas falsas aparências humanas são pontos notórios nas relações cínicas. As esnobações sociais, políticas, econômicas, e a desfaçatez são gêneros primordiais na falta de moralidade. Tem-se a destruição de relacionamentos pelas diretrizes das mentiras dos parceiros que escondem sua homossexualidade nos banheiros públicos. Contemporaneamente vive-se em uma época em que as aparências estão em primeiríssimo lugar. Não se ama verdadeiramente, uma vez que as relações são construídas através de interesses econômicos, sociais. O orgulho a falta de moralidade, honestidade e a busca acelerada por um enriquecimento, reconhecimento superficial trazem consigo a necessidade incontrolável e quase inadiável de aparentar algo que não tem. A peste da falsidade em sua idéia central nasce da concepção do diabo e traz certos proveitos, como, por exemplo, omitir sua personalidade, sexualidade ou condição. Apresenta-se de maneira diferente para tentar levar vantagens, rentabilidade, crescimento, ascensão social. Essa falta de moralidade, amizade, companheirismo, solidariedade parece ser uma característica comum em nossa época. A ética do mundo tornou-se imoral, portanto lembrar-nos-emos de Rui Barbosa. Ele afirmou certa vez, que de tanto ver triunfar o cinismo, mentira, falsidade. Sentia-se envergonhado de ser um homem de moralidade, honestidade. Algumas pessoas que já conheci jamais poderão ter vergonha de serem honestas, pois nunca tiveram a chance. Portanto algumas criaturas vivenciam a sedução violentadora de palavras mentirosas. Atuam pela permissividade social para trapacear impunemente o outro e, em nome da rentabilidade, são conduzidos a enganar e a se permitirem ser enganados como aliados fiéis do fraudar o outro e ser enovelados na farsa de si mesmos (Caniato, 1999a). A lei que orienta a vida na sociedade do consumo é a de "enganar o bobo" (Ulloa, 2001a, 2001b)". texto de Geovane Leonardo dos Santos Braga, jornalista, mestre pela universidade federal do rio de janeiro, Professor gentilmente enviado a propósito do que os nossos "irmãos" observam neste nosso Portugal.