sexta-feira, 6 de julho de 2012

Miosotis: não esquecer quem somos!


O pensamento humano nunca se perde, mas esvai-se, ante a opressão, sobretudo a política. Tive ontem mais um jantar-tertúlia e vi-me invadida entre símbolos, notando que um dos menos conhecidos é, precisamente, o miosótis. 1934: Hitler ascende ao poder. A maçonaria alemã que, até então, contara com dias gloriosos, compunha-se de colunas perfeitas, nelas incluindo os mais ilustres filhos da pátria alemã (Goethe, Schiller, Lessingn…) era demasiado perigosa – como o é sempre para qualquer regime ditatorial – era um “bem” espiritual a exterminar. Mal a G.’.L.’. Alemã do Sol pressentiu o grave perigo que se avizinhava, foram muitos os maçons que se forçaram à clandestinidade e que substituíram o óbvio Compasso e Esquadro por uma pequenina flor azul: o miosótis. Passou a ser aquela despretensiosa flor azul que, adornando-lhes as lapelas, os identificava dentro e fora dos campos de concentração. Em 1945, quando cai o terror nazi, erguem-se, de entre a morte anunciada, maçons ingleses, americanos, franceses, dinamarqueses, tchecos, poloneses, australianos, canadenses, neozelandeses e brasileiros. Desde monarcas a presidentes, desde comandantes a soldados. Entre aqueles alemães maçons sobreviventes, o miosótis viveu, simbolizando a força da memória da histeria coletiva nazi, como penhor da consciência alemã, como a prova de que a velha da fraternidade da civilização alemã se manteve viva na barbárie.
Em 14 de junho de 1954, quando a G.’.L.’. Zur Sonne foi reaberta, em Bayreuth, pelo Venerável Theo Vogel, núcleo da G.’.L.’. Unida da Alemanha, que melhor lembrança do que o miosótis para a representar, homenageando os que sobreviveram àqueles anos de obscurantismo, "para além da força humana". O VM da Loja Leopold ZurTreue (agora nº 151), quando colocou, emocionado, na sua lapela aquela joia recuperada a partir de emendas de solda, tornou-se testemunha do fim de uma parte negra da História, também para os maçons. Quando os G.’.M.’. se encontraram nos USA, o G.’.M.’. da recém formada G.’.L.’. Unida da Alemanha, entregou, simbolicamente, a todos os representantes das Grandes Jurisdições presentes um pequeníssimo miosótis, como hoje o conhecemos.
A mística da flor que, para além de estar associada às forças britânicas que serviram na Alemanha, na região do Rio Reno, está ainda ligada a uma Loja, jurisdicionada à G.’.L.’. Unida da Inglaterra, a Forget-me-not Lodge nº 9035, em Ludgershall, Wiltshire, que adoptou a flor(zinha) como seu estandarte.
Sendo, aparentemente, tão pequena, aquela mimosa florzinha azul é um sinal de fraternidade e, ainda hoje é um dos símbolo mais usados pelos maçons alemães, tanto que, e em muitas L:., o miosótis passa de M.’.M.’., como símbolo de resistência, de uma história de honra, fraternidade, liberdade e de amor, perante a adversidade da arrogância, a força da prepotência, a imposição do autoritarismo, e ficou, entre nós, como uma lembrança da força, da luta, da sobrevivência, de um acto de guerrilha por ideais: Um dote de liberdade para as futuras gerações de maçons livres.